quarta-feira, 10 de abril de 2013

DO OUTRO LADO

    Espero o sinal ficar vermelho para poder atravessar.
    Do outro lado, uma menina triste com os olhos tristes espera a mesma coisa.
    Daqui, consigo perceber suas angústias, suas aflições, suas inquietações.
    Desejamos a mesma coisa, mas caminhos diferentes.
    Verde.
    Nossa interseção não dura um segundo.


terça-feira, 2 de abril de 2013

HÁBITO




me acostumei a ficar
                  a esperar

me acostumei a temer
                  a perder

me acostumei a enganar
                  a desapegar

me acostumei a desistir

me acostumei a me acostumar

quarta-feira, 27 de março de 2013

TARANTINO (50 ANOS)

Nos cinquenta anos de Quentin Tarantino só algo vem à minha mente: a trilha sonora dos seus filmes. E nenhuma faixa soa mais emblemática para mim do que “Girl You'll Be a Woman Soon”, que embala uma (entre tantas) das sequências inesquecíveis de “Pulp Fiction”. Se todo mundo costuma lembrar de Uma Thurman dançando com John Travolta ao som de Chuck Berry, sempre preferi ela cantando e dançando sozinha na sala antes de sofrer uma overdose. Clássica.

sábado, 23 de março de 2013

segunda-feira, 18 de março de 2013

AS PIORES CANÇÕES DE RAUL SEIXAS


A cada aniversário de Raul Seixas, de nascimento ou morte, o baiano é amplamente celebrado: são shows tributos, coletâneas, regravações, relançamentos, o diabo a quatro, e quase tudo de gosto duvidoso. Para fugir um pouco desse marasmo com hora marcada, resolvi provocar e selecionar as cinco piores canções de Raul Seixas, lembrando que a escolha foi feita por um raulseixista legítimo, mas nem tão xiita assim:

VIM DIZER QUE AINDA TE AMO (Raulzito/ Mauro Motta)
Em sua fase de produtor da CBS, Raulzito, como ele assinava, teve mais de cem canções gravadas pelos populares artistas que faziam parte do casting da gravadora (algumas ele reutilizou depois com novas letras). Tesouros perdidos dessa época merecem ser descobertos, embora os nossos bem intencionados intérpretes prefiram não se arriscar e requentar os clássicos que já fazem parte do cardápio do grande público. Por outro lado, algumas devem continuar no fundo do baú do Raul, é o caso de “Vim Dizer que Ainda te Amo”, na voz do ilustre desconhecido Raphael, gravada em 1972. O derramamento de glicose é tão grande que nem me atrevo a classificá-la como “brega”, acho que nem Zezé Di Camargo a cantaria, visto que quando foi convocado a gravar algo de Raul, escolheu “Medo da Chuva”, uma música que prega a liberdade conjugal. Em um raro instante de desprendimento financeiro, Kika Seixas impediu o lançamento de uma caixa contendo o material desse período, talvez temendo que a obra do maluco beleza fosse manchada. MOMENTO POR QUÊ? PRA QUÊ?: “Vim dizer que ainda te amo/ meu coração é seu/ vim dizer que ainda te amo/ que nada se perdeu”.




CANTIGA DE NINAR (Raul Seixas/ Paulo Coelho)
Creio que "chata" é característica obrigatória para as canções de ninar. Faixa do pouco inspirado “Há Dez Mil Anos Atrás”, de 1976, esta parece completamente deslocada, principalmente por surgir logo após o animado baião “Os Números”. O que deveria ser um acalanto funciona realmente como uma canção de ninar, mas por outros motivos: no auge de sua forma vocal a performance de Raul não alcança  a delicadeza de “A Maçã” ou a singeleza de “ A Hora do Trem Passar” ou “Ave-Maria da Rua”, como o gênero exige, talvez tenha faltado poesia para provocar a emoção. Sem entregar o que promete, a canção, além de deixar o bebê acordado, ocupa desnecessariamente o lugar de algo mais relevante no disco, como “Love is Magick”, lado B do single do mesmo ano. É o tipo de música que quando executada alguém diz: "pula essa". MOMENTO POR QUÊ? PRA QUÊ?:“Você chora quando tem fome/ mas vem logo uma mamadeira”.



 

O SEGREDO DO UNIVERSO (Raul Seixas/ Oscar Rasmussem)
1979 foi um ano conturbado para Raul: seu contrato foi encerrado, se separou de Tania Menna Barreto, seu segurança foi assassinado dentro do seu apartamento, retirou metade do pâncreas e como se não pudesse piorar, conheceu Ângela (Kika). Mas a nossa história começa alguns meses antes, reza a lenda que ele teve contato com um caderno de poemas escritos pelo argentino Oscar Rasmussem em uma festa daquelas, o que foi suficiente para ele se encantar e compor as nove canções que fariam parte do seu último trabalho pela Warner, “Por Quem os Sinos Dobram”. A substituição da anárquica letra inspirada em Hemingway e no Gênesis, em parceria com Cláudio Roberto, por um arremedo de pílulas de autoajuda do quilate de “nunca se vence uma guerra lutando sozinho” ou “é sempre mais fácil achar que a culpa do é do outro”, gerou uma breve rusga entre os dois amigos. Não é difícil selecionar uma canção ruim nesse disco, “Ide a Mim Dadá” e “Da-lhe que Dá” são fortes concorrentes, mas “O Segredo do Universo” não tem rival. O título, que emula um Raul mais profético e místico, não passa de um rock simples, básico, decepcionando quem esperava algo épico, uma nova “Gita”. Percebendo o poder comercial do título, anos depois a gravadora lançaria uma coletânea com essa denominação. Há quem acredite que seja uma letra enigmática, repleta de simbologias, mas fã de Raul Seixas acredita em tanta coisa. MOMENTO POR QUÊ? PRA QUÊ?: “Dentro do mambo e da consciência/ está o segredo do universo”.

 

 

CANÇÃO DO MELÂNCIO (Raul Seixas/ Kika Seixas)
Obrigatoriamente eu teria que colocar alguma faixa do  “Metrô Linha 743”, de 1984, de preferência alguma parceria com Kika Seixas. Implicância gratuita? Talvez. No disco há cinco “parcerias” com Kika, além de uma irritante participação em “Mamãe, Eu Não Queria” (costumo creditar a ela o péssimo refrão de “Meu Piano”
talvez seja realmente implicância). Metrô Linha é um disco que nunca me conquistou: o som é ruim, os arranjos, as letras, a gravadora... Para piorar, ainda há duas inexplicáveis regravações que nem chegam perto das originais (“O Trem das Sete” e “Eu Sou Egoísta”), o que só confirma a falta de material inédito de Raul. Mas para não ser injusto com músicas como “Quero Ser o Homem que sou”, preferi incluir a “Canção do Melâncio”, interpretada pelo falecido cantor religioso Reinaldo Cominato para a trilha sonora do programa infantil TV TUTTI-FRUTTI, exibido pela Bandeirantes entre 1983 e 1984, onde os protagonistas eram frutas e vegetais (Milhofone, Prefeito Gerimum, Chico Pimentão, Melâncio, entre outros). A música nada mais é do que uma versão hortifruti para “Peixuxa” o amiguinho dos peixes, do álbum “Novo Aeon, de 1975 – que apesar de surrupiar descaradamente "Ob-La-Di, Ob-La-Da" dos Beatles passa pelo meu crivo por sua mensagem ecologicamente correta, em uma época em que meio-ambiente não era tendência. Apropriando-se do fonograma original gravado pelos Fevers, excluindo apenas a voz, no melhor estilo karaokê, foi inserida uma letra onde verduras e frutas curtem uma festa animada na hortolândia. Tudo bem, era para as crianças, mas custava compor uma música nova? MOMENTO POR QUÊ? PRA QUÊ? “E se não é noite/ e se não é dia/ Melâncio amavelmente dá melancia”.
 

 

VOCÊ ROUBOU MEU VIDEOCASSETE e CÂIMBRA NO PÉ (Raul Seixas/ Marcelo Nova)
Sempre desconfiei da real participação de Raul nas canções com Marcelo Nova em “A Panela do Diabo”, como ao longo da carreira ele “herdou” algumas parcerias (sendo “Capim Guiné” a mais célebre) em seu derradeiro trabalho não seria diferente. Não só por sua condição física, mas tenho dificuldade para visualizar Raul nas músicas que encerram o disco. Se “Nenhuma Conexão” não tivesse ficado de fora, fatalmente receberia o carimbo Raulzito e Marceleza, mas como só foi gravada cinco anos depois, Marcelo assumiu sozinho a autoria. “Câimbra no Pé” é uma genuína composição de Marcelo Nova, em gênero, número e grau, não estranharia se ela aparecesse em alguma sobra de estúdio do álbum “Duplo Sentido”, do Camisa de Vênus, com sua letra original, “saiba esperto ou burro, você vai morrer aqui, isso é um perigo eu sei, mas esse é um país perigoso, se não nos detectarem não há tumulto na imprensa”. Já o início de “Você Roubou Meu Videocassete” é emblemático, com a banda entrando antes do tempo e Raul tentando corrigir. MOMENTO POR QUÊ? PRA QUÊ? “Você roubou meu videocassete pensando que eu fosse o controle-remoto”.


segunda-feira, 11 de março de 2013

PROMESSAS, MEU BEM, PROMESSAS

Ser blogueiro é trotar por uma senda pantanosa (vixe, que raio de frase foi essa?). Blogueiro é um bicho vaidoso, se considera formador de opinião e odeia ser questionado aliás, tem verdadeiro pavor. Ser blogueiro talvez não seja para todos, tem que ter senso de humor, espírito esportivo, não levar a sério o excesso de elogios nem se chatear com as críticas (que podem ser muitas). Sem paciência, alguns radicalizam e excluem o blogue ou bloqueia para comentários ou limita para um círculo restrito de leitores. Cada um na sua, mas prefiro sempre o debate. Com dez anos de blogue fica fácil saber quando determinada postagem será solenemente ignorada ou se tornará uma controvertida polêmica. Afinal, lugar de bom moço é no Feicebuque, no blogue é possível errar, não gostar, se arrepender. No blogue todo assunto é permitido, mas é preciso jogo de cintura para abordar temas espinhosos, algo que às vezes me falta. Então, para evitar aborrecer os poucos que ainda dedicam uma parte do seu tempo para me ler, resolvi tornar pública minha lista de promessas para este ano, mesmo não sendo, nem pretendendo ser, candidato a nada:

(*) Prometo nunca mais propagar meu gosto musical duvidoso, divulgando vídeos e discos de cantores/bandas que todo mundo deveria conhecer;

(*) Prometo que nunca mais postarei nada que ofenda às telenovelas brasileiras ou às séries britânicas/americanas, repetindo meu argumento simplista de que a vida é curta e que dois capítulos/episódios equivalem, em média, à duração de um longa-metragem, e que eu tenho muitos filmes para ver/rever antes do fim;


(*) Prometo não transformar Clarice Lispector em musa da autoajuda;

(*) Prometo nunca mais escrever sobre relacionamentos, não sou nenhum Carpinejar, que acredita que o amor é receita de bolo. Cada casal possui suas peculiaridades e a graça é exatamente essa – querer generalizar é bobeira;

(*) Prometo que não farei nenhuma postagem enlutada quando alguma celebridade desencarnar, mesmo que seja o Roberto Carlos;

(*) Prometo que não direi durante a próxima campanha eleitoral que não voto mais no PT;

(*) Prometo não retrucar mais comentários copy-cola;


(*) Prometo não fazer listas de melhores no final do ano;

(*) Prometo que não emitirei minha desnecessária opinião sobre o assunto do momento;

(*) Prometo nunca mais falar mal do Vasco, do Big Brother, do Carnaval, da Veja, de William Bonner, Adele ou Malafaia;

(*) Prometo que não comentarei nos blogues alheios quando eu detestar a postagem;

(*) Prometo que nunca mais questionarei o Feicebuque;

(*) Prometo não fazer mais promessas;

(*) Não prometo não grafar mais “Feicebuque”.


quarta-feira, 6 de março de 2013

VELHAS POLAROIDES V

 
 
 
  

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domingo, 3 de março de 2013

ALÉM DO QUE SE VÊ

NEM TUDO É O QUE PARECE
(Layer Cake, Reino Unido, 2004)
Direção: Matthew Vaughn 

Para quem reclama que falta “pipoca” nas minhas indicações, recomendo a estreia na direção do produtor dos primeiros trabalhos de Guy Ritchie (no tipo de filme que todos esperavam que ele continuasse a realizar, se não fosse a Madonna e Mr. Holmes). Daniel Craig (antes do estrelato) vive um bem sucedido “comerciante de narcóticos” que nunca revela seu nome e que decide se aposentar do mundo do crime, mas inicialmente tem que fazer um último trabalho, que não é tão fácil quanto aparenta: localizar a filha viciada de um magnata e distribuir um carregamento de ecstasy vindo da Holanda – se parece um clichê de filme de ação, advirto que nem tudo é o que parece. Perseguições, reviravoltas (muitas), enganos, mentiras, cinismo, clássicos ingleses da música dos anos 70 e 80, coadjuvantes excêntricos, frases de efeito, humor britânico... tudo faz parte do bem construído bolo de camadas do título original, surpreendentemente divertido até o último instante. Confirmando o talento demonstrado na estreia, Matthew Vaughn depois dirigiria “Kick-Ass - Quebrando Tudo” e “X-Men: Primeira Classe”.

TRABALHAR CANSA
(Brasil, 2011)
Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra

Helena Albergaria é uma dona de casa de classe média que resolve levar adiante a ideia de abrir um mercadinho de bairro após o marido, Marat Descartes, perder o emprego, mas o local escolhido para o comércio guarda alguns mistérios. Ao misturar crítica social com elementos fantásticos, “Trabalhar Cansa” flerta com um gênero pouco explorado no Brasil: o terror. As incertezas e as neuroses provocadas pelo novo negócio e o desconforto e a insegurança do desemprego levam o casal de protagonistas a uma gradual transformação. No entanto, não é o típico drama familiar que mantém a trama, a crônica suburbana, com sua mesquinhez nossa de cada dia, causa no espectador uma imediata identificação, e sem meios-termos também pode provocar sentimentos de amor e ódio. Primeiro longa da dupla de diretores Juliana Rojas e Marco Dutra, que já tinha se destacado com os curtas "As Sombras", "O Lençol Branco" e "Um Ramo".


MINHA IRMÃ
(França/Suiça, 2012)
Direção: Ursula Meier

Assistiria a qualquer coisa com Léa Seydoux, isso não é segredo. Aqui ela é a “irmã” do título nacional, uma jovem acomodada que alterna pequenos trabalhos com períodos de desemprego, dorme com diferentes rapazes e costuma sumir sem explicação por dias. No entanto, a trama é focada em seu irmão Simon, um menino de 12 anos que rouba o que pode em uma estação de inverno suíça (de sanduíches a pares de esqui) e revende os objetos para sobreviver, ou poder comprar até mesmo um abraço de sua irmã. Aproximando-se bastante do naturalismo e da crise europeia, observados sem julgamentos nem sentimentalismos nas obras dos irmãos Dardenne, Ursula Meier sustenta o filme sem excessos ou melodramas, extraindo de Léa e do garoto Kacey Mottet Klein atuações excelentes, além de conduzir uma reviravolta no roteiro que não transforma o filme em outro filme. Atenção para Gillian Anderson, a eterna agente Scully de Arquivo X,  e a bela e metafórica cena final.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

PODERIAM SER CRÔNICAS

(*) Não participar do Feicebuque ou não possuir um tablete ou um telefone celular de penúltima geração não é mero charme (não é meu esporte ser do contra), apenas gosto de preservar minha privacidade, ignorar o que os outros fazem ou deixam de fazer e me dedicar inteiramente aos amigos dos dias reais, e não ter uma conversa interrompida com o tec-tec deselegante de alguém digitando: “pode continuar falando, eu estou ouvindo”. Prefiro silenciar.

(*) Mas não poso de intelectual ofendido diante dos novos costumes, alegando que antigamente era assim ou no meu tempo era assado. Tudo tem seu tempo e o meu tempo é o agora, com todas as fissuras que ele apresenta.

(*) Não, o ano não começou após o carnaval nem a vida começa aos quarenta. Se engane, mas não tente me enganar.


(*) Confirmando meu histórico, tive 13 acertos na premiação do Oscar deste ano. E acreditem, já fui bem pior.

(*) Blogues costumam comemorar quando alcançam determinado número de acessos, de postagens, de comentários... Sem recorrer às estatísticas, sei que a palavra que mais utilizei foi o advérbio “não”, curiosamente mais para justificar do que para realmente negar. Uma palavra que pouco costumo dizer, até aqui ela já apareceu nove vezes.

(*) Santa Maria, Papa, meteoritos, sinalizador corintiano, blogueira...

(*) Não, obrigado (dez vezes).


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

VELHAS POLAROIDES IV

 
 
    
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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

SOTEROPOLITANA

“Soteropolitana” foi escolhida para ser o primeiro videoclipe do disco ALELUIA, da banda  Cascadura, um álbum temático que ousa abordar as particularidades, problemas, personagens e riquezas de Salvador, sem os seus, cada vez mais folclóricos, estereótipos de baianidade. A letra traça um olhar panorâmico sobre a cidade, contextualizando-a geograficamente e culturalmente, apresentando suas características, o cotidiano das pessoas, dos seus bairros, além do comportamento da elite e a questão do negro em uma cidade que, ao contrário do que a propaganda superficial-oficial propõe, não é somente negra. A canção combina o samba-reggae com “Street Fight Man”, dos Stones, em uma levada que se amalgama naturalmente, sem forçação alguma. O clipe corrobora essa ideia mesclando uma narrativa ficcional, com um garoto e um jovem representando a presença  do etnógrafo e fotógrafo Pierre Verger, personagem único na afirmação das manifestações culturais da Bahia no século XX, a partir do elemento que ele mais valorizava: as gentes. A narrativa documental mostra os populares em toda a sua amplitude e diversidade: os adeptos do candomblé e os cristãos-evangélicos, a bateria do bloco-afro e os adolescentes “roqueiros”,  o trabalho e o lazer, a natureza e a vida urbana. O clipe conta ainda com a presença do dançarino Negrizu, cantado por Caetano Veloso como “o moço lindo do Badauê”, na canção “Beleza Pura”. Fico feliz por, coincidentemente, no mesmo ano de “Aleluia” ter publicado um livro sobre Salvador. E se como dizia Tolstói “se queres ser universal começa por pintar a tua aldeia”, então, comecemos.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

NESTE CARNAVAL

“Desconfio de hinos, músicas lineares, puramente motivacionais, em que tudo-tudo-tudo-vai-dá-pé-quando-o-sol-brilhar-tudo-de-bom-vai-acontecer-e-quando-a-noite-chegar-vai-rolar-a-festa. Honestamente, não sei até que ponto esta overdose de alto-astral ajuda as pessoas. Não me surpreenderia se o número de suicídios no carnaval fosse maior do que na quaresma. Não acho que uma música melancólica aumente a melancolia. Na verdade, ela faz companhia.”

(Humberto Gessinger: Nas Entrelinhas do Horizonte, 2012. Ed. Belas Letras, p. 76).

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

VELHAS POLAROIDES III

 
 
 
 


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sábado, 2 de fevereiro de 2013

CRÔNICA DA MULHER BROTHER

O homem quer liberdade, quer espaço. Quer uma mulher que lhe compreenda, que silencie quando ele estiver em silêncio, que escute quando ele quiser ser o centro das atenções. O homem quer uma mulher que torça por seu clube, que sofra na derrota e tire sarro dos adversários na vitória. O homem quer uma mulher que não implique com a pelada de final de semana nem com as consecutivas, e simultâneas, partidas de futebol na TV – seguidas de repetitivas mesas redondas. O homem quer uma mulher que rache as contas, que não se importe com datas ou churrascarias, que compre cerveja, que fale alto, que goste de rock and rool e não se esquive de uma roda de samba, que não leve desaforo pra casa, que ria das suas piadas, que conte piadas, que aposte, que jogue cartas, que goste de fumar de quando em vez, de beber, de assistir a filmes adultos, que seja amiga dos seus amigos, que não tenha ciúmes das suas amigas. Mas uma mulher que não seja subserviente, que tenha força, que não se anule, que seja cúmplice e álibi, uma mulher que seja mais que um mero estereótipo de fetiche masculino. O mais engraçado é que esse tipo de mulher existe, e quando ela aparece em sua vida, quase sempre, assusta.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

VELHAS POLAROIDES II

 
 
 

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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

BARRADO NO BAILE

Em 2012, completei dez anos de blogue (dois anos no IG, quatro no UOL e o restante aqui). Não sei dizer porque a data passou em branco, talvez eu seja, realmente, um despercebido ou talvez eu não dê tanta importância para essas efemérides quanto eu achava. Não sei. Já escrevi sobre as coisas que ADORO e ODEIO em blogues, mas, coincidentemente, algo que não relacionei aconteceu em dose tripla recentemente: três blogues que eu costumava acompanhar limitaram sua leitura apenas para convidados e, como fácil ficou prever, me deixaram de fora da festa. Não sei dizer, olhe o não sei outra vez, se me senti frustrado por ter sido excluído, feito um adolescente mal amado, ou se dez anos não seja tempo suficiente para entender esse universo. Quem sabe, com os meus questionamentos, eu não fosse um leitor agradável.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

NA CALADA DA NOITE

Só me dei conta quando eu estava voltando para o
hotel, exausto, de cara e sozinho, que nem toda noite é noitada.
 
 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

VELHAS POLAROIDES

 
 

 


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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

“O” NEGATIVO CARETA

É verão, férias, carnaval... E consequentemente aumenta o número de acidentes (e incidentes), fazendo os bancos de sangue do país trabalharem no limite (ou abaixo dele). Para querer ser um doador, bastaria saber que a cada dois segundos algum paciente necessita de transfusão de sangue no Brasil e que cerca de uma em cada cinco pessoas que são internadas nos hospitais necessitarão de transfusão de sangue. No entanto, muita gente “descolada”, com sua rebeldia sem data de validade, além de acreditar que o pior só pode acontecer com os outros, associa o ato de doar com “caretice”, para eles quem pode doar não sabe viver, já que não usou drogas recentemente nem teve relações sexuais sem proteção ou com mais de um parceiro, entre outras coisas. Confesso que há tempos não via um raciocínio tão tacanho. Nunca desconfiaria que comportamento de risco fosse sinônimo de saber viver (acho que vou escrever no meu cartão de doador: O− e careta, com orgulho). 
          Neste verão, divirta-se. E doe sangue (sem ligar para o que vão dizer).

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

DESPERCEBIDOS

…e o mundo não acabou. Mas eu só notei há alguns dias, talvez há algumas horas. Eu sou assim: despercebido. Demorei para perceber quando ela sentou ao meu lado, num banco da praça (tenho esse delay, esse descompasso). Demorei para perceber quando perdi meus amigos, quando o afeto se converteu em mágoa, em rancor. Demorei para perceber que eu não sentia mais medo, que viver era só atravessar a  porta. Demorei para perceber o domínio dos cabelos brancos sobre o Império da Minha Cabeça. Demorei para perceber que amores têm prazo de validade, são perecíveis. Demorei para perceber que os meus sonhos mudaram. Demorei para perceber que era engano, que eu não era bem vindo. Demorei para perceber os olhos de Bette Davis, a voz de Aracy de Almeida, a poesia de Henriqueta Lisboa. Demorei para perceber que o meu silêncio começa na minha saudade. Demorei para perceber que sou um leonino que gosta de passar despercebido. Demorei para perceber que eu não tenho pressa. Demorei para perceber que já era ano novo.

sábado, 8 de dezembro de 2012

GESTOS

GESTOS*
(Roberto Mendes/ Herculano Neto)



E deixe a valsa, e deixe o samba,
E deixe aquela canção antiga que não me cansa,
Ouvindo-a posso sentir comigo seus vestígios,
Os seus domínios, os seus encantos.

E deixe o barco, e deixe a ilha,
E deixe uma lembrança bonita que não ansia,
Lembrando-a posso preencher com gestos meus vícios,
Os meus princípios, meus acalantos.

Não deixe a mágoa,
Não deixe a ira,
Não deixe a volta,
Não deixe a ida
Que eu deixo a vida seguir seu destino.

E deixe o sonho,
E deixe o instante,
Deixe o encontro,
Deixe o constante,
Que eu deixo a vida moldar o meu destino.
 
 


*Faixa extraída do DVD
“Tempos Quase Modernos”
Gravado ao vivo no Teatro XVIII
Salvador, 2006


 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

007 - TEMA MUSICAL

No ano em que se comemoram os cinquenta anos de lançamento do primeiro filme da franquia James Bond, e todos aproveitaram para citar seu 007 preferido, sua Bond Girl preferida, seu vilão preferido, etc.,  eu não poderia passar incólume, principalmente depois de adquirir, e reassistir, aos filmes da coleção (quem tem mais de trinta anos, fatalmente acompanhou o Festival 007 em alguma Sessão da Tarde), no entanto, a minha lista restringe-se a enumerar as canções, e consequentemente as aberturas, que mais me entusiasmaram:

"We Have All The Time In The World"*
Louis Armstrong
A SERVIÇO SECRETO DE SUA MAJESTADE (1969)

*essa não é a da abertura, mas é a minha faixa preferida

"Live and let die"
Paul McCartney & Wings
VIVA E DEIXE MORRER (1973)




"You know my name"
Chris Cornell
CASSINO ROYALE (2006)



"Nobody does it better"
Carly Simon
O ESPIÃO QUE ME AMAVA (1977)



"Goldfinger"
Shirley Bassey
CONTRA GOLDFINGER (1964)




quarta-feira, 28 de novembro de 2012

SALVADOR ABAIXO DE ZERO, por Edgard Navarro*

Superoutro, 1987, direção Edgard Navarro
Fatos de uma tragédia urbana e existencial contaminam e perpassam os textos de Herculano Neto. Seu estilo imprevisível faz trapaça com o leitor, promete e negaceia; sacaneia e pirraça, entorna o caldo e lamenta o ocorrido. Temerário e malcriado, ele trafega na contramão, nunca estando onde se espera. E assim surpreende com momentos de veracidade e dor pungente. Sempre dilacerado, Herculano reúne coragem e velhacaria, prosódia barata ou complicada, conforme a conveniência, tudo de caso pensado, desorientando a seu bel prazer. Me espanta o desencanto humanitário desse mestiço do Recôncavo! Deuses me defendam da saliva sulfúrica, corrosiva, desse gracioso íncubo, desgraçado súcubo. Bukowski! Quanto asco, sordidez, sarcasmo, desventura, cinismo, Peréio! Penso em rituais macabros de injúria e autopunição. Amar o verdugo, lamber o aço impiedoso de sua espada. Aqui e ali Camões e Camus me assaltam, o desconcerto do mundo, o absurdo e o suicídio: um dia os cenários desabam e é preciso imaginar Sísifo feliz. Também nos evoca o humor-escárnio de Augusto dos Anjos: tuberculose, impotência, desprezo e mais asco. E a tudo preside a náusea-sartre. De Clarice nos chega a mesmice, a vida sem magia e sem romance de uma Macabéa, o fabuloso destino de uma Emília Pereira (Amélie Poulain). Além de uma colecionadora de borboletas de mentira, os braços amputados de bonecas carecas com câncer nos ossos e um menino suicida a quem disseram que teria o corpo retalhado para ser utilizado em feitiçarias. Pobre de mim, animal compassivo, lá no fundo desse pântano viscoso diviso a pálida sombra de uma fina coisa qualquer – digna, diáfana, volátil. E embaixo dos escombros da mina encontro beleza. Toda a beleza que se negou no instante primeiro da abordagem. Afinal, um mineiro soterrado precisa de luz e ar e (valham-me os deuses!) de amor! 

Cineasta


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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

SALVADOR, A CAPITAL NOIR DE HERCULANO NETO

 (CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR)
Matéria publicada no jornal A TARDE, 
edição de 20 de novembro de 2012, 
pelo poeta e crítico de literatura Henrique Wagner.

Há um velho palhaço pançudo que circula pela praça do Campo Grande, muito bem caracterizado, vendendo brinquedos baratos, mas com um ar de enfado terrível. Volta e meia para num ou noutro poste e acende um cigarro. Um palhaço velho, cansado, fumando e vendendo brinquedos numa das mais importantes e populares praças da Bahia. Esse palhaço, que não sei se ainda vive nesse exato momento, representa muito bem uma cidade grande mutilada por seus governantes e pelo descaso com a cultura e a educação de nossas décadas. Esse palhaço é atual. Visão cruel, impiedosa, de algo originariamente engraçado.

O novo livro de Herculano Neto, SALVADOR ABAIXO DE ZERO, é esse palhaço, é essa cidade atual. É essa Bahia sem abadá, a pele de ébano que é a alma nua do baiano do bairro da Liberdade (cidade média, diria Herculano): é essa alegria trágica e essa piada sem graça. Herculano, em seu pequeno volume de textos curtos, é um ficcionista com mão suja de papel de jornal o mais barato. Seu livro, deliberadamente pulp, é marcado por uma deliciosa linguagem jornalística, ágil, fluente, e cada um dos pequenos textos parece uma notícia. E uma notícia chocante, sobretudo quando não choca.

Primeiro a registrar, em literatura, o termo “Pituaço”, essa ortoepia inventada pelo povo para evitar a rima, num dos contos do livro. Herculano Neto é atualíssimo e atualiza seus leitores, naturalmente. Pode-se dizer, sem embargo, que Herculano é um repórter, e quase estamos diante de um jornalismo literário, mais para Hunter Thompson do que para Thomas Wolfe. Essa marca humana faz com que o leitor se identifique de imediato com o texto, a ponto de seguir uma história não só pelo que há de bem engendrado em literatura, mas pelo que há de verossímil e de utilidade pública. Um escritor é, antes de qualquer coisa, um cronista de seu tempo. O que seria da Bahia dos anos 40 e 50 sem Jorge Amado? Uma Bahia registrada por historiadores; portanto, sem a arte e o estilo de um ficcionista. Aprender sobre a Bahia com Jorge Amado é muito mais prazeroso que aprendê-la com Theodoro Sampaio ou até mesmo com José Valladares, que tinha uma escrita saborosíssima.

Baiano sem nostalgias, urbano com vista para o Recôncavo, de onde viera, Herculano Neto inscreve Salvador no rol das grandes metrópoles literárias, ao lado do Rio de Janeiro de Rubem Fonseca (antecipado por um gênio do porte de Marques Rebelo, autor de Marafa e A Estrela Sobe, dentre outros livros, quase sempre ambientados no subúrbio carioca dos anos 30 e 40; vale ainda lembrar que a primeira edição de Marafa trazia uma espécie de dicionário de carioquês em suas últimas páginas) e da São Paulo de Marcos Rey. Seus contos são citadinos, mas de passagem, uma vez que é possível sentir o pincel do santo-amarense aqui e ali. E é russo por seguir os preceitos do conto tchecoviano, com seus finais dissimulados, silenciosos.

Sua primeira pessoa é devastadora. Insere subitamente o leitor na história, no livro, no bolso. Admirável habilidade para vestir personas, ser a pessoa do texto – e todo tipo de pessoa. Se a narrativa na primeira pessoa, de um modo geral, tem fácil capacidade para aumentar a identificação do homem de cidade grande com o texto e o herói do texto, no caso de Herculano essa capacidade é catapultada com tremenda força em função da matéria compacta de que dispõe, em seus contos curtos, e da linguagem despojada de todo e qualquer maneirismo ou pessoas outras – que seriam fantasmas, em verdade; talvez de Canterville, talvez dos sonos culpados de um Scrooge.

Cruel e engraçado como os palhaços de circo que fumam, ainda fantasiados, SALVADOR ABAIXO DE ZERO inventa uma Bahia hollywoodiana para desconstruí-la com a força com que Hollywood construiu e destruiu Marilyn Monroe. Uma Bahia existente, mas revelada em sua polpa pela escrita de um brutalista literário, termo usado por Alfredo Bosi para designar o estilo do mineiro Rubem Fonseca.

Eis um livro que orgulha o baiano que tem vergonha de ser baiano, em certas ocasiões e lugares, e reinaugura uma cidade cheia de um ritmo frenético e decadente, cheia de uma literatura úmida e soturna, contrária ao sol de uma cidade que ainda tenta ser apenas litorânea.        


SALVADOR ABAIXO DE ZERO / EDIÇÕES P55 - COLEÇÃO CARTAS BAHIANAS / 
R$ 15,00 (solicite seu exemplar diretamente com o autor) / 
OU NO SITE DA LIVRARIA CULTURA

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

DEPOIS

      O fim era inevitável, não como uma tragédia anunciada (foi até surpreendente para muitos), mas como uma lógica prática: sem exceções; sem poréns; sem aforismos... Era tão evidente o aproximar do final que duvidar era a única opção. E assim foi. Duvidei até o último instante, não querendo me enganar, queria somente empregar emoção ao derradeiro ato de um relacionamento que sempre foi movido a excessos. No último dia não havia medo, angústia ou lágrima em seu olhar. Havia certeza. Ouvi palidamente uma sequência de clichês de despedida e esbocei sem muito convencimento um “se é o que você quer...” (um etéreo abraço fechou o ato). Não era noite, não chovia, a rua não estava deserta e ninguém observou parado o outro ir, embora, eu deva admitir, que após alguns segundos de lenta caminhada, tenha olhado para trás.
         Depois foi o vazio...
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