sexta-feira, 1 de março de 2024

WALTER MATTHAU NÃO GOSTA DE POESIA

  

Envelheci. E aqui não pretendo elucubrar sobre como envelhecer é um processo natural extraordinário, quase divino; ou como é terrivelmente desagradável, um saco. Não. O envelhecimento chegou bem acompanhado com o amadurecimento (embora eu acredite que isso seja inevitável alguns coroas insistem em me contradizer propagando bobagens por aí). No entanto, não consigo perceber na minha escrita tal amadurecimento, tudo que escrevo parece se repetir e remeter para um eu que não existe mais, um eu que fez um aceno de despedida em alguma esquina da década passada. Meus parceiros musicais me enviam canções e devolvo com letras que não me contentam, não são as palavras que quem eu sou queria dizer, são as palavras que quem eu era insiste em gritar. Meus versos ainda lembram desabafos adolescentes, sou quase um Billie Eilish do Imbuí. Alguns colegas sofrem da mesma enfermidade, leio suas publicações como fastidiosas sequências de um mesmo livro que os segundos cadernos no domingo rotularão como “estilo” ao lado de uma fotografia low profile meio pós-punk oitentista. Não quero um carimbo de estilo. Quero que alguém me leia e diga algo como “nem se assemelha com o cara que escreveu xxx”. Independentemente do contexto ou intenção eu diria: ainda bem.

 

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