quinta-feira, 25 de novembro de 2010

SACIZEIRO

Se fosse numa obra do Monteiro Lobato, sacizeiro poderia até ser uma árvore encantada no meio da floresta, mas aqui, na 15ª DP, sacizeiro é o usuário de crack que mantém o vício através de pequenos furtos, é o elemento mais nocivo da sociedade, é aquele que perambula pelas ruas feito um zumbi, totalmente sequelado, amedrontando e abordando a população, pedindo centavos, na maior noia, ou no saci, como eles mesmos dizem. Sacizeiro é uma referência ao Saci-Pererê, devido ao uso do cachimbo para o consumo das pedras, numa alusão infeliz – minha infância não merecia uma homenagem dessas.
           Todos os dias, detínhamos mais de uma dezena, mas terminávamos liberando a maioria, não teria espaço para tanta gente aqui. Depois que os comerciantes do centro da cidade nos contrataram para formar uma milícia, nem nos damos mais ao trabalho: derrubamos o vagabundo onde ele estiver. A mídia não divulga as mortes para não aparecer neguinho dos Direitos Humanos fazendo barulho por causa de pombo sujo. Nosso trabalho é festejado em silêncio.
           Antes de eliminar o indivíduo, costumo quebrar sua perna com um bastão de beisebol, que meu filho trouxe de Orlando. Então, mando o malandro pular com uma perna só, para, finalmente, poder acertá-lo com um tiro na cabeça.


Trecho do livro inédito, QUERO SER PAULO CÉSAR PEREIO, 
publicado na revista Bravo!, edição de novembro, 2010
(ainda, nas bancas).

terça-feira, 23 de novembro de 2010

PEREIO POR PEDREIRA

 
 QUERO SER PAULO CÉSAR PEREIO
(Ribeiro Pedreira)

recortes de vidas
deterioradas
injetados em doses
homeopáticas
na veia dos olhos

querer mais uma dose
ou mesmo ser Pereio
tanto faz
o mundo gira
da orla do desassossego
ao centro nervoso do desespero

                           Para Herculano Neto


Outra grata surpresa matinal, desta vez do poeta e amigo Ribeiro Pedreira, 
do blog ALGUMA POESIA.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

MEU BEATLE PREFERIDO

          Não há muito tempo, era comum ter que responder qual era o seu Beatle preferido (ao menos para mim era). No ano em que se celebram os 70 anos de nascimento de John Lennon, além da lembrança dos trinta anos do seu assassinato, e das apresentações de Paul McCartney no Brasil, a pergunta parece retornar à moda, embora polarizada.
        Como sempre simpatizei com minorias, meu Beatle preferido poderia até ser Ringo Starr, mas somente se ele tivesse composto canções como "Something" e “While my Guitar Gently Weeps, e após o fim da banda lançasse um álbum como ALL THINGS MUST PASS. No entanto, Ringo Starr apesar de ter sido um eficiente e influente baterista, diferentemente do que dizem, e não apenas um cara de sorte, acho mais conveniente deixá-lo para fãs como Marge Simpson.
        Obviamente, minha resposta é George Harrison: sua elegância, discrição e técnica ainda me emocionam. Peço licença para a cineasta Laís Bodanzky para reafirmar que “Something” é uma das melhores coisas do mundo, mesmo na voz e no violão de Mano.

sábado, 13 de novembro de 2010

NA BRAVO!

 Leia alguns contos do livro inédito QUERO SER PAULO CESAR PERÉIO, de Herculano Neto, na revista Bravo! edição 159. Nas bancas.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

DIREITO PRESCRITO


DIREITO PRESCRITO

Nasci com defeito de fábrica, defeito na alma. Minha mãe não notou, meu pai não notou, ninguém notou. Só perceberam quando inventei de me remendar, de me colar, de me parafusar, mas aí já era tarde, não era mais possível a devolução.



 A CIA ZenFazernada e A Voz da Pedra Produções, dos amigos Luciano Fraga e Douglas Vieira, produziram este vídeo com o meu texto DIREITO PRESCRITO. Surpresa muito agradável.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

JUVENTUDE?

Não costumo recriminar a juventude, no entanto é impossível permanecer indiferente a algumas coisas: uma delas é esse modismo incompreensível intitulado “eyeballing”, que nada mais é do que tomar uma dose de vodka pelos olhos com a promessa de proporcionar um estado maior de embriaguez, mas que na verdade provoca uma queimadura química que pode levar à perda total ou parcial da visão. Cada vez mais difundido entre os jovens através das redes sociais, “o colírio de vodka” não deixa de encontrar adeptos no Brasil (algo que pude confirmar num recente final de semana num bar). 
Outra, igualmente incompreensível, são as mensagens racistas postadas no Twitter após a eleição de Dilma Rousseff, onde os nordestinos foram considerados os principais responsáveis pela vitória da candidata petista. A mensagem que deu origem dizia: "'Nordestisto' não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado" (sic). Ingenuamente, achava que xenofobia e neonazismo eram imbecilidades démodés. Sou brasileiro, nordestino, e mesmo se eu não fosse, estaria igualmente indignado. Não se trata apenas de uma questão de defesa regional, é simplesmente respeito ao ser humano. Isso vai muito além da tão defendida liberdade de expressão, que parece desculpa para tudo. O Ministério Público promete investigar o caso, enquanto comunidades racistas se propagam livremente com milhares de membros e manifestações injuriosas. 
       Há quem diga que para o jovem tudo é permitido, mas até os excessos têm fronteiras, que não podem ser ultrapassadas jamais.


A imagem que ilustra a postagem é de JOvelino VENceslau dos Santos, célebre personagem de Chico Anysio, mais conhecido como “Jovem”, representante de uma época em que a rebeldia adolescente inspirava divertidos aforismos.
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