Há quem, frequentemente, me chame de pessimista, de pragmático, de realista. Confesso que isso não é demérito algum, essas adjetivações soam até lisonjeiras. A verdade, e isso não é segredo, é que eu não passo de um otimista, de um Policarpo Quaresma repaginado, o último romântico dos litorais de qualquer atlântico. Sou, assumidamente, fora de moda. Dizem que o otimista é uma pessoa sem muita experiência, mas não me importo.
Estou eternamente disposto a ver o lado bonito da vida, nem que seja na balada após a quinta cerveja.
Sempre acredito que não irá chover, mesmo que eu compareça aos meus compromissos encharcado da cabeça aos pés.
Frases motivacionais adornam o calendário da minha mesa no escritório, apenas não compreendi, ainda, o que Borges quis dizer no mês de maio com “a esperança é o mais sórdido dos sentimentos”.
Tenho o armário repleto de caixas de remédios variados, mas não sou um hipocondríaco (ser cumprimentado na farmácia, como fazem os garçons no bar, não atesta o contrário).
Não acho que o meu vizinho tenha um emprego, um gramado e uma mulher melhores do que os meus. Não acho que a fila ao lado anda mais rapidamente do que a que estou e no restaurante não acho o prato dos outros mais atrativo do que a refeição que escolho – embora pareçam.
Não sinto a sua falta, sinto a sua presença pela casa arrastando correntes durante a madrugada.
Já não me amarguro arrependido a imaginar “e se eu tivesse feito isso” ou “e se eu tivesse feito aquilo”, meus excessos me permitem, no máximo, um “e se eu não tivesse feito isso” ou “e se eu não tivesse feito aquilo” (o que, ao final das contas, deve ser a mesma coisa).
Aguardo ansiosamente o resultado positivo, seja do exame de gravidez daquela paixão do carnaval em Salvador ou de alguma doença hereditária degenerativa.
Sim é a minha palavra preferida, principalmente quando preciso confirmar os meus nãos.
Recentemente, percebi que querer nem sempre é poder e que nada é tão ruim que não possa piorar (mas não divulgo essas descobertas).
Sei que os últimos serão os últimos, porém não desanimo derrotado na torcida.
Assim como Woody Allen, também acredito que o copo está meio cheio... de veneno.