sexta-feira, 27 de setembro de 2024

"NADA DO QUE FOI SERÁ"

 

FAZ DE CONTA é uma parceria minha com Roberto Mendes gravada por Raimundo Fagner em seu disco DONOS DO BRASIL, escolhida para ser o tema de Sandoval Peixoto, interpretado por Herson Capri, na novela COMO UMA ONDA de Walther Negrão – que tentava repetir o sucesso alcançado na década anterior com TROPICALIENTE, mas sem o mesmo encanto. A melancolia da canção dialogava diretamente com a solidão do personagem, parecia ser feita por encomenda. No entanto, Sandoval, que deveria ser o protagonista do núcleo praiano e par romântico de Maria Fernanda Cândido, dá o ar da graça rapidamente apenas no sexto capítulo, mantendo um certo clima de mistério, momento que a música toca pela primeira vez. Quando ele realmente adentra a trama, o público já estava seduzido pela química que ela tinha ao lado do líder dos pescadores vivido por Kadu Moliterno (que inicialmente morreria em um acidente de barco, mas com as bênçãos de Nossa Senhora da Obra Aberta acabou sobrevivendo e relegando nosso herói a mero coadjuvante, mesmo com seu nome encabeçando os créditos na abertura). Consequentemente, a música tocou menos do que o esperado na novela, embora tenha sido bem executada nas rádios – ainda hoje há quem me ligue apenas para dizer que escutou a minha música na Nova Brasil. COMO UMA ONDA estreou durante o horário de verão de 2004, quando a programação televisiva seguia o horário de Brasília, assim o folhetim era exibido às 16:50h em muitos estados, inclusive na Bahia. Na época, consegui assistir a poucos capítulos, mas valeu a experiência. Para quem tiver curiosidade, encontra-se disponível na GloboPlay.

 


 

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

A ARTE DO SILÊNCIO


Acho engraçados alguns títulos de filmes como “O Silêncio dos Inocentes”, “Os Gritos do Silêncio” ou a trilogia do silêncio de Bergman. Há também uma vastidão de títulos de livros, poemas e canções que abusam do silêncio. O silêncio é realmente uma arte, escutar também deveria ser, mas ninguém quer ouvir, só quer falar. Sempre falei o que vinha à cabeça, destituído de filtro ou freio. Não faço o tipo falastrão, na verdade sou bastante econômico, embora incisivo. Considerava-me o “supersincero” até perceber (a não muito tempo) que eu não passava do super inconveniente. Demorei para aprender a me calar, a entender que nem tudo necessita de uma réplica e que algumas perguntas são mais bonitas sem resposta. Às vezes ainda me vejo em saias justas que eu mesmo criei. Quando dou por mim as palavras já estão saindo, me arrependo imediatamente enquanto falo, mas é impossível trazê-las de volta, editar o que foi falado, interromper a rota da bala após o tiro. Preciso somente conviver com as consequências e não remoer durante semanas o que não deveria ter dito. Atualmente o inconveniente são os outros: todo mundo tem algo a dizer, todos conhecem tudo o que está sendo feito, já foi e será. O problema é escutar despropósitos sem contestar. Silenciar é uma arte complexa pra caralho.
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