Provavelmente eu sabia que isso iria acontecer um dia, como
pais que presenteiam o filho com um casal de hamsters apenas para familiariza-lo
com o conceito de perda e poder falar sobre um paraíso celestial cheio de hamsters,
peixinhos dourados, porquinhos da índia e a vovó. Nos últimos anos, mais do que
mera rotina, a primeira coisa que eu fazia pela manhã, a primeira mesmo, era
regar meu bonsai e coloca-lo na janela durante algumas horas. Podava, trocava a
terra, colocava adubo, tinha todos os cuidados necessários. Mas em um dia,
simplesmente, tanto cuidado não adiantava mais. E aos poucos ele começou a
secar: feito o amor. Pensei em substitui-lo. Fui à floricultura, olhei as espécies
e desisti. Não daria certo. Não seria igual, sequer semelhante. Agora
ele tá abandonado na área de serviço: galhos ressequidos num vaso. Não tenho
coragem de joga-lo fora. Deveria haver um cemitério para plantas, como existem
cemitérios para animais.