quinta-feira, 30 de maio de 2013

OS ÚLTIMOS CARTUCHOS

Tenho alguns amigos escritores que não possuem blogue, ou têm mas não atualizam, deixam a página a hibernar indefinidamente, a apanhar poeira virtual, visitantes desavisados e ocasionais. De quando em vez o blogue recebe alguma postagem, geralmente a divulgação de algum evento envolvendo o autor ou um texto antigo que foi agraciado com algum prêmio – mero exercício do ego –, feito uma nau perdida no espaço e que repentinamente pisca. O argumento deles é que publicar em blogues (“pra ninguém”, “de graça”) é queimar cartucho à toa, melhor guardar o esforço, as ideias supostamente geniais, para livros que encontrarão poucos e rasos leitores.

Não compartilho desse pensamento Tio Patinhas.

Gosto do cheiro da pólvora, da surpresa esperada dos fogos de artifício. Portanto, permita-me queimar meus últimos cartuchos, afinal, como todo bom pacifista com uma arma nas mãos, o máximo que posso fazer é atirar para cima, para dissipar a multidão que pretendia linchar algum trombadinha de avenida.

Nunca miro no peito de ninguém.



sexta-feira, 24 de maio de 2013

E SE OS MEUS FILMES PREFERIDOS PASSASSEM NA SESSÃO DA TARDE?


 




Esse cavaleiro medieval andava muito desanimado. Mas uma partida de xadrez com a Morte vai fazer renascer nesse malandro a vontade de viver. Prepare-se para muita confusão e aventura na Idade Média em "O Sétimo Selo".






Esse médico desastrado queria inventar uma pele artificial. Mas um contratempo com sua filha vai fazer esse maluco experimento tomar um rumo alucinante. Prepare-se para muita confusão e aventura com Antonio Banderas em "A Pele Que Habito".

  





 Esse pestinha não tem a menor paciência para a escola e vai tentar de tudo para escapar de seus sádicos professores. Só que seus pais não vão gostar nem um pouco disso. Agora, esse moleque endiabrado vai aprontar altas confusões pelas ruas de Paris. De François Truffaut, "Os Incompreendidos”.






Esse aluno dedicado se apaixonou pela professora de piano, uma coroa que está com tudo em cima. Mas esse marmanjo vai descobrir que a gata tem um parafuso a menos. Agora, ele vai fazer de tudo para satisfazer essa pianista. Do diretor Michael Haneke, "A Professora de Piano".












Esse taxista com um parafuso a menos se apaixonou por uma mulher de tirar o fôlego. Mas essa tremenda gata não vai dar mole para o cara. Agora, esse motorista da pesada vai bolar um plano maluco para tirar o chefe dela da jogada. Nova York vai ficar de pernas para o ar com Robert De Niro em Taxi Driver
 







Escute a locução, no melhor estilo Sessão da Tarde, AQUI.

terça-feira, 21 de maio de 2013

RAY MANZARECK (1939 - 2013)

Raymond Daniel Manczarek Jr. (12 de fevereiro de 1939 - 20 de maio de 2013) - conhecido pelo nome artístico de Ray Manzareck - atuou como escritor e diretor de filmes. Mas foi como músico que o tecladista norte-americano sai de cena na Alemanha, aos 74 anos, para ficar eternamente em lugar de honra na história da música pop. É que Ray Manzarek foi um dos fundadores do grupo norte-americano The Doors, criado em 1965 com Manzarek nos teclados, Jim Morrison (1943 - 1971) nos vocais, John Densmore na bateria e Robby Krieger na guitarra. Com o The Doors, o tecladista ficou de 1965 a 1973, ano da extinção do grupo que tinha sido celebrizado na segunda metade dos anos 60 por sua mistura psicodélica de rock e blues e pela figura sensual e carismática de Morrison. Som marcado pelos teclados de Manzarek, morto nesta segunda-feira - 20 de maio de 2013 - vítima de complicações decorrentes de um câncer.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

PODERIAM SER CRÔNICAS

(*) Quando achei de listar as piores canções de Raul Seixas, seus fa(náticos) entraram em polvorosa, chegando a ameaçar minha integridade física. Eu, tão tísico e inofensivo, quase não saí de casa de tanto medo de me deparar com algum maluco beleza mirando em minha lata seu estilingue. Agora, após relacionar os versos nada geniais de Renato Russo, seus discípulos pediram carinhosamente que eu analisasse a possibilidade de cometer suicídio, fiquei tão tocado que por pouco não me atirei da janela do quinto andar, vá entender. Bom, de qualquer forma é melhor não correr tantos riscos e pensar duas ou três vezes antes de apontar os trabalhos menos interessantes de artistas como Mano Brown ou Chorão, talvez sua horda de asseclas queira me submeter a alguma sessão de tortura pior do que escutar repetidamente suas canções.

(*) Nunca gostei de me resignar, me conformar, sempre gostei de fazer acontecer, de mover as peças do tabuleiro independentemente dos valores nos dados. Esperar não é algo que se pareça muito comigo, prefiro tentar, me arrepender, quebrar a cara. Costumo escutar as pessoas lamentarem, entre suspiros, adágios do tipo “o pouco com Deus é muito”, pode ser, sou um ateu que não duvida, mas o muito sem Deus continua sendo muito, não o contrário.

(*) Carpinejar escreveu no “Zero Hora” que quando ficou solteiro outra vez se decepcionou com o mundo, se sentiu amaldiçoado, raivoso com a falta de sorte, logo ele, que defendia a vida a dois, que alardeava como seu aforismo maior que liberdade na vida é ter alguém para se prender. Reclamava, ainda, que as suas roupas sujas não enchiam mais uma máquina de lavar, que a comida estragava na geladeira, que toda noite era fim melancólico de domingo. Esse sou eu.

(*) O sitar de George Harrison em "Norwegian Wood" e o meu mundo já não é mais o mesmo.


terça-feira, 14 de maio de 2013

SÍLVIO SANTOS VEM AÍ!

 Foi uma fulana da Vila Madalena que organizou a caravana. Tentei participar durante alguns meses, mas nunca tinha vaga. O único jeito de conseguir foi comprando.
    
Embarcamos bem cedo, alguns rapazes queriam ir, porém a organizadora foi enfática: apenas co-le-gas de trabalho. Chegamos aos estúdios cerca de quatro horas antes das gravações. A produção selecionou as mais jovens para a maquiagem e as posicionaram na frente do auditório, as mais velhas ficavam afastadas. Fiquei na frente. Proibiram bolsas, câmeras e celulares, explicaram procedimentos técnicos e recomendaram que evitássemos qualquer comportamento exagerado. Fizeram uma revista rápida, sem muito apuro. Nem me tocaram.
   
Música. O diretor pediu palmas pelo alto-falante e avisou: gravando em dez segundos. Nove, oito... busquei a arma entre minhas pernas. Sete, seis, cinco... estavam todas ansiosas, sequer perceberam quando coloquei o cartucho. Quatro, três, dois... No ar.

terça-feira, 7 de maio de 2013

OS PIORES VERSOS DE RENATO RUSSO

Renato Russo, líder e principal compositor da cultuada Legião Urbana, tem seu nome comumente associado ao epíteto poeta (rótulo tão banalizado e desgastado que até Chorão, do Charlie Brown Jr., foi agraciado com ele). Letrista, realmente, de qualidade bem acima dos seus pares – inclusive Cazuza, outro equivocado “poeta” -, Renato Russo tem suas letras reproduzidas como hinos por seguidas gerações de jovens, e de não tão jovens assim, angustiados com o mal do século, além de ocupar o espaço destinado a autênticos poetas em exemplos utilizados nos livros didáticos. E como se já não fosse suficiente a literatura, o Trovador Solitário invadiu também os cinemas. Primeiramente com o raso documentário “Rock Brasília”, agora com os rebeldes sem causa da imberbe capital federal em “Somos Tão Jovens”, uma caricatura com algum rock e sem sex and drugs, pra não assustar a família-brasileira-tela-quente. E ainda vem aí “Faroeste Caboclo”. Tenho medo de imaginar qual será o próximo, “Eduardo e Mônica?”, “Dezesseis?”, “Pais e Filhos?”, “Ainda Somos Tão Jovens?”. Enquanto isso, me atrevo a listar seus versos menos interessantes (pra ficar no eufemismo):

BENZINA
Poderia ter poupado Renato Russo desse retrato do artista quando jovem, mas a partir do momento em que os Irmão$ Lemo$ e Dinho (e aí, moçadaaaa) Ouro-Preto chafurdaram o espólio do Aborto Elétrico para um projeto insosso, não tive como deixar essa pérola de fora. O engraçado é que quase trinta anos depois de ter sido escrita, constato que o rock feito no Brasil encaretou, já que no disco do Capital Inicial a música foi gravada sem a letra, com receio de ser considerada apologia às drogas, mas o mundo não perdeu grande coisa:

“Fui até à farmácia
Eu e minha prima
Levei os 20 mangos
Pra comprar benzina”


DEPOIS DO COMEÇO
Dos fóruns online à mesa de bar, “Depois do Começo” é praticamente hors concours quando o assunto é música da Legião Urbana que você não gosta, seja porque ta mais pros Paralamas ou por causa do “Deus, somos todos ateus”. No encarte do disco “Que País é Este”, somos advertidos que a letra contém diversas mensagens codificadas e quem tentar decifrá-la encontrará mais coisas sobre si do que sobre a música. Bobagem. Raramente executada ao vivo, recentemente foi resgatada por Dado Villa-Lobos nos seus shows, numa espécie de lado B da sua antiga banda, como se a Legião Urbana tivesse algum lado B. Os fãs mais ardorosos comparam a letra a uma viagem lisérgica, meio “Lucy in the Sky with Diamonds”, outra bobagem. Na verdade, os versos são de um nonsense constrangedor: “cair como um saxofone na calçada”, “usar um extintor como lençol”, “jogar polo-aquático na cama”, não faltam opções para pior verso, mas me incomoda mesmo é o refrão que diz que depois do começo o que vier vai começar... Sic, sic, sic.

QUÍMICA

Em um cena retratada no filme “Somos Tão Jovens”, o baterista Fê Lemo$ ousa questionar a qualidade do trabalho do até então genial Manfredini Jr., o que bastou para o vocalista rodar a baiana e abandonar o barco de vez. Ironicamente, foi essa canção que levou a Legião Urbana ao Rio de Janeiro, após ter sido gravada no disco de estreia dos Paralamas do Sucesso. Propositadamente pueril, boba até, mas comparar a pressão da sociedade para o jovem se tornar um profissional bem sucedido com um campo de concentração da Alemanha nazista (o “Belsen tropical”) é forçar a barra.

SUBMISSA
O que o dinheiro não faz, “Química” não servia, mas essa “Submissa” serve, e nessa nem da pra reconhecer o cara que escreveu "Ainda é Cedo" no texto. Outra que os Irmão$ Lemo$ foram escarafunchar.

“Conheci uma garota submissa
Tudo o que eu mandava ela fazia
Tudo o que eu queria ela fazia
Tudo o que eu sonhava ela fazia”.


MAIS DO MESMO

Nunca, nunca mesmo, simpatizei com os versos iniciais de “Mais do Mesmo” (“Hey, menino branco/ o que você faz aqui?”), a sonoridade das palavras na canção, a ideia simplista sobre quem vende e quem consome drogas (algo que também me incomodou no primeiro “Tropa de Elite”), nada me agrada. E depois que você descobre que esses versos horríveis foram supostamente chupados de "I'm Waiting for the Man", do Velvet Underground, (“Hey, white boy, what you doin' uptown?”), a coisa piora ainda mais. Há quem diga que os doentes na enfermaria cantando sucessos populares é mais bizarro.

OS ANJOS   
Se a postagem fosse sobre a pior música da Legião Urbana, não pensaria duas vezes, mas a letra também não fica pra trás, a impressão é que Renato pegou as sobras de “Perfeição”, requentou e fez esse prato. “Um tablete e meio de preguiça” ou “duas xícaras de indiferença?”. O gosto é do freguês.

MARCIANOS INVADEM A TERRA
“Cuidado com a coisa coisando por aí/
a coisa coisa sempre e também coisa por aqui”. 
Dispensa maiores comentários.

MAIS UMA VEZ
Tá bom, Renato Russo era fã declarado dos mineiros e pretendia gravar um disco só com canções do Clube da Esquina, certo. Mas isso não faz essa letra ser o que ela não é. Recomendo anotar cada verso em um pedacinho de papel, embrulhar, jogar para cima e sortear o pior verso. Autoajuda em letra de música é dose.

OUTRAS ESTAÇÕES
Ao comentar que eu pretendia realizar uma postagem com os versos pouco inspirados de Mr. Russo, amigos legionários, curiosamente, fizeram várias sugestões, demostrando que são menos radicais do que aparentam, ao contrário dos fãs de Raul Seixas, que ameaçaram minha integridade física. Citaram “PLANTAS EMBAIXO DO AQUÁRIO” (pior música do disco “Dois” para alguns) e prima-irmã de “A Canção do Senhor da Guerra” e “Soldados”; o mertiolate de “METRÓPOLE”; as baratas voadoras de “LEILA”; a feijoada de “O MUNDO ANDA TÃO COMPLICADO”; a tríade “A DANÇA”, “PETRÓLEO DO FUTURO” e “PERDIDOS NO ESPAÇO” do primeiro disco; O tê enorme de “TÉDIO”; o quem inventou o amor de “ANTES DAS SEIS”, entre outras.
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