quinta-feira, 14 de setembro de 2023

NO ALICERCE DA ALEGRIA

Nunca penso no próximo texto a ser postado. Para mim o mais recente sempre será o último.  Imagino que permanecerá como uma espécie de despedida, um testamento. Os curiosos visitarão o blogue atrás de alguma mensagem subliminar, um mistério a ser desvendado. Fatalmente, encontrarão sentidos ocultos e farão dessas palavras meu epitáfio on-line, o último suspiro antes da extrema-unção. O que será que ele quis dizer? Será que já estava doente? Que fazia ideia do que aconteceria quando atravessasse a Avenida Manoel Dias às 16h de segunda-feira? Que sabia do "calibre do perigo"? Que não acordaria daquele sonho recorrente? Analisarão a imagem e o título inúmeras vezes em busca de alguém escondido nas sombras, um acrônimo ou palíndromo que a falta de paciência arqueológica não conseguiu decifrar. E se este for realmente o último? Ficará para a posteridade como um bilhete suicida? Uma premonição? Algum amigo músico enxergará versos nessas linhas e criará uma melodia triste, um réquiem? Talvez dê tempo de tocar durante a cerimônia de cremação. 

 

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

NO TOCA-FITAS DO MEU CARRO XX

Os piores momentos da minha vida costumam ser reprisados incessantemente no streaming da memória. Acontecimentos há muito sepultados retornam como se nunca tivessem falecido, feito assombrações, como se tivessem ocorrido ontem. Consigo, inclusive, sentir a dor da queda. A cicatriz esquecida reabre ainda mais dolorosa, enquanto o sabor desagradável da derrota percorre minha boca. Os risos, os dedos apontados, os olhares de desaprovação e o escárnio estão todos no mesmo lugar: imóveis e imutáveis. Sei que tive meus instantes de glória, mas tudo parece desinteressante perto dos meus insucessos. No rádio do carro toca “Perdendo Dentes” do Pato Fu. Não poderia ser mais apropriado: As brigas que ganhei/ Nem um troféu/ Como lembrança/ Pra casa eu levei/ As brigas que perdi/ Estas sim/ Eu nunca esqueci. 

 


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