terça-feira, 16 de dezembro de 2008

METEORANGO KID (1969)

Meteorango Kid, de André Luis Oliveira, é um clássico absoluto do cinema underground brasileiro, com trilha sonora dos Novos Baianos e intervenções sonoras mais do que bem vindas de Gil e Caetano, apresenta a trajetória desenfreada do protagonista Lula por uma Salvador ainda mais provinciana e tediosa. Interpretado magistralmente por Antonio Luiz Martins, Lula vive num universo extremamente particular, onde fantasia e realidade se confundem. O filme tem uma ação descontínua, num emaranhado de situações escatológicas e ao mesmo tempo irônicas em seqüências que parodiam o cinema comercial americano. Os personagens que acompanham esse herói intergaláctico são igualmente provocadores, como o homem vampiro que surge isoladamente em sua busca cômica por pescoços femininos nas vielas soteropolitanas e o amigo Caveira e sua “aula” de enrolar baseado. Teatro marginal, cinema de vanguarda, nouvelle vague, HQ, neo-realismo, tropicalismo, tudo condensado em 85 minutos de um caleidoscópio psicodélico e contestador.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

DOCE ESPERANÇA (1992)

ROBERTO MENDES E CAETANO VELOSO, 1992

DOCE ESPERANÇA faz parte de MATRIZ (1992), segundo disco do cantor e compositor santamarense Roberto Mendes e conta com a participação especial de Caetano Veloso, inédito em CD.

DOCE ESPERANÇA
(Roberto Mendes/ J. Velloso)


Estou aqui pra viver
A procura de amor por onde for
Ouvindo Ora yêyê
Quero pertencer a uma filha d’Oxum
Oh! Olorum
Me diz o que fazer pra encontrar esse amor
Que seja doce prazer
Que cheire a Jasmim ou a Macassá
Que cace em mim meu querer
Com a mesma constância das ondas do mar
Oh! Olorum
Eu sempre vou crer que vou encontrar
Uma gueixa formosa
Loura cor-de-rosa
Ou uma preta quase azul
Que goste de Itapoan
E vai se arrepiar
Nas festas do Gantois
Oh! Olorum
Como é bom saber que vai me ajudar
Vou aguardar
Oh! Olorum
Numa noite de luar
Rival de Iansã
Paixão de Xangô
Oh! Minha filha d’Oxum.



quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

CAPITU (2008)

Já faz algum tempo que desisti da tv, não foi uma decisão taxativa, aconteceu gradativamente. Hoje só me permito os jogos da quarta-feira à noite e o telejornal local, há dias que nem a ligo, fica ali morta na sala acumulando poeira e silêncio, a servir de pedestal para o troféu de terceiro colocado do II Torneio de Futebol de Mesa de Santo Amaro – 1996, num canto que quase não incomoda o tráfego, juntamente com velhos quadros, lembranças de viagens e capas de LP’s – que vira e mexe recebem observações sem muito valor das visitas. Ao saber por acaso, escutando uma conversa que não me pertencia, que a rede globo produziria um especial de final de ano baseado no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, resolvi arriscar - o que eu poderia perder? Afinal, esse é o único, até agora, livro que li mais de duas vezes (descontando, inclusive, a obrigatoriedade da 8ª série). Após a exibição do primeiro capítulo, mesmo não nutrindo muitas expectativas, não me decepcionei, confesso – apesar do clima excessivamente teatral que parece querer exorcizar da televisão brasileira alguma culpa. Pretensamente emulando a idéia da diretora Sofia Coppola em MARIA ANTONIETA (2006), onde enchia de referências contemporâneas uma personagem histórica, a adaptação me ganhou, não apenas por isso, principalmente pela fidelidade ao delicioso texto original embalado por uma trilha pop. Mesmo assim pouco mudou: o título da obra para Capitu, que muitos entendem ser bem mais apropriado; a re-organização dos micro-capítulos para uma melhor narrativa televisiva e uma coisinha aqui e outra ali – nada demais. Os puristas devem franzir a testa e fazer saltar aos olhos aquela veia de descontentamento, os noveleiros mudarão de canal sem muita paciência e irão dizer na repartição ou no ponto de ônibus no dia seguinte que odiaram, talvez chato seja o adjetivo mais utilizado. Já eu descobri com a série que preciso de um lugar para esconder minhas velharias, como o troféu do II Torneio de Futebol de Mesa, para não servirem de papo furado aos que me visitam de quando em vez.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

isabela boscov não viu o meu documentário


faço poses
para uma vitrine de tarjas pretas

(recolho a barriga
observo de soslaio)

o reflexo tosco
me diz sem escrúpulos
que tenho prazo de validade
e hora marcada para ser feliz

queria discordar
mas não há argumentos


(Herculano Neto, by Cinema 2008)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

VICKY CRISTINA BARCELONA (2008)

Tenho uma camiseta branca com a imagem de Woody Allen estampada em silk screen – simples, casual e barata. Dizem que a roupa comunica, mas nunca quis nem pretendo dizer nada a ninguém com o que visto, no entanto sempre que ponho a “camisa de Woody Allen” inevitavelmente aparece alguém, estranho ou não, disposto a iniciar algum diálogo sobre o diretor, com comentários que vão dos seus filmes a detalhes excêntricos de sua vida que desconheço e prefiro continuar desconhecendo. Com a finalidade de fugir de embaraços e constrangimentos passei a usar a camiseta por baixo de uma velha jaqueta, que era estrategicamente fechada até o pescoço ao menor sinal de perigo; porém vivendo no calor de uma cidade como Salvador não fica difícil imaginar meu insucesso. Para me livrar desses interlocutores na fila de pagamento das Lojas Americanas ou na mesa do bar cunhei o pouco inspirado aforismo: É um Woody Allen menor - que dito com extrema indiferença ganha um poder irritante de fim de papo. Sendo um diretor com uma obra tão extensa é natural que haja momentos menos inspirados, o que não é nenhum demérito numa filmografia que inclui ANNIE HALL (1977), MEMÓRIAS (1980), HANNAH E SUAS IRMÃS (1986), CRIMES E PECADOS (1989), MARIDOS E ESPOSAS (1992) e MATCH POINT (2005); é possível que eu inclua em breve nessa lista VICKY CRISTINA BARCELONA (2008), que se não é excelente como apregoam por aí, também está longe da categoria “Woody Allen menor” – e que já é certamente a melhor película de Pedro Almodóvar dos últimos anos. Enquanto isso continuarei usando a camiseta sem receios, agora mais gasta e com uma pequena mancha de ferrugem na altura do umbigo.

“cinema”: takes em versos singelos de um diretor-poeta


por Marcelo Lima

           O Prêmio Braskem Cultura e Arte tem bastante importância para a literatura baiana. A cada ano, existe uma contribuição significativa para as letras baianas – muitas vezes voltadas para a polêmica do vencedor escolhido.
           Em 2007 podemos afirmar que, ao menos, um dos selecionados é um grande escritor. Como prêmio, Herculano Neto teve seu “cinema”, livro de poesias, publicado em 2008.
O comentário na contracapa do livro, retirado do prefácio do poeta Miguel Carneiro, diz que encontraremos “num grande travelling a paisagem do Recôncavo e cercanias, ora em grandes planos, ora em planos fechados no rosto de seus inúmeros anônimos”. É verdade que a poesia de Herculano Neto tem um sabor de paisagem do recôncavo: em versos como “ontem teve roda de samba/e fui pro samba quebrar”(p.111) essa aproximação é evidente. Como bom poeta, ele consegue preservar esse sabor do cenário sem prejudicar a leitura de interessados que não conhecem o ambiente. Até porque, ele extrapola os cenários para imagens que atiçam a imaginação e os afetos.
            As emoções provocadas pelas poesias herculeanas dizem respeito a um sentimento voltado para um ser individual que não se confunde com um egoísta individualismo: quando trata da morte, nada mais intersubjetivo do que “aqui jaz um homem medíocre/ um medíocre/ um insignificante/ um reles contador de histórias”(p. 83). É uma subjetividade completamente contagiada de valores reconhecíveis: angústia da morte, nostalgia da infância, os sonhos do amor romântico.
           Os títulos do poema e a estruturação do livro fazem referência à arte, ao produto cinematográfico e ao mercado que o envolve.
            Temos poesias entituladas “sala de arte”, “sinopse” e “isabela boscov não viu o meu documentário”, que funcionam como uma sugestão de sentido para a interpretação dos textos. Sabendo-se que Boscov é crítica de cinema da Revista Veja, podemos indagar o que Herculano tenta transmitir em “o reflexo tosco/ me diz sem escrúpulos/ que tenho prazo de validade/ e hora marcada para ser feliz”(p.55). Uma ironia com a crítica? Uma dedada na ferida de Boscov? Ou quem sabe um genuíno medo da desintegração inexorável a qual nós humanos seremos submetidos?
            Dividido em três partes: filmografia, curta-metragem e matinês. Essas partes, a meu ver, dialogam entre si como se não precisassem ser particionadas. No entanto, usar os três nomes aqui tem um efeito estético que se abre, novamente, a interpretações: são três substantivos distintos e fortes, que pela não-explicação e pelo remetimento aos títulos do livro e das poesias acabam por conformar uma procura por significação. Estive à procura dessa ligação e até o momento não consegui isolá-la de forma a atender todos os elementos contidos em cada uma. Poderia considerar arbitrário, mas o livro consegue ser tão coerente em sua unicidade que nada parece estar ao acaso.
           Os versos predominantemente livres de Herculano não dispensam o ritmo. Podemos notar uma cadência fluída por todos os textos, a exemplo do que vemos na poesia “o cantor de jazz”:

canto
por sina
desencargo de consciência
ócio
crença

canto
pelo aplauso
mesmo o mais automático
pela migalha
pelo bravíssimo

canto choro grito
me multiplico
me dispo
me confundo

canto
sozinho
pra ninguém
pra lua

canto
canto
canto

não há canção sem dor
(p.45)


            Não somente pela referência musical no título, mas pela própria oralidade e versos curtos, notamos a preocupação de fazer a poesia se manifestar numa correnteza forte e líquida ao mesmo tempo. Essa característica está presente em todas as poesias.
            Posso concluir, então, que o verso forte de Herculano nos convoca a visualizar sua poesia, como se fosse uma cena. Cena atrás de cena, amarrando profusões de imagens que se interligam numa não-narrativa que ainda assim faz algum sentido narrativo. Em seu fazer, mesmo evidenciando imagens humanas, Herculano tem o mérito de não mostrar a imagem óbvia e zelar pela capacidade imaginativa de seu leitor. Ele não espera uma passividade espectadora e sim uma emoção-resposta que jogue com sua poesia, com seu álbum de formas visuais e sonoras.
             Compre o livro, acomode-se bem em uma poltrona, mas não espere que imagens sejam projetadas numa telona, pois o projetor dessa obra é o próprio leitor.
 
RESENHA ORIGINALMENTE PUBLICADA NA VERBO 21:

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

GRITO DA TERRA (1964)

Helena Ignez e Lucy Carvalho em Grito da Terra (1964)

O filme GRITO DA TERRA (1964), de Olney São Paulo (1936-1978), natural de Riachão de Jacuípe, é um dos mais importantes trabalhos da cinematografia brasileira, filmado na região de Feira de Santana a trama gira em torno de duas personagens femininas: Loli (Lucy Carvalho), mulher sensual e perigosa, que quer sair do sertão para viver no sul do país e Mariá (Helena Ignez), uma típica camponesa que acredita na força do nordestino para enfrentar a seca e as pressões dos latifundiários. Relacionados ao universo destas personagens estão Geraldo (Raimundo Figueiredo), irmão de Loli e noivo de Mariá, um pobre vaqueiro que trabalha ao lado dos pais na lavoura; Sebastião (João de Sordi), amante de Loli, fazendeiro aspirante a coronel que, aos poucos, vai adquirindo as terras dos pequenos agricultores e o professor negro (Lídio Silva), que se esforça em conscientizar os camponeses de sua força e a necessidade do nordestino em aprender a ler, escrever e fazer valer os seus direitos. Por seu forte teor político sofreu cortes da Censura Federal.
________________________
Para os amigos que sempre perguntam quem são aquelas mulheres na capa do meu livro.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

SINOPSE

sou feito de hipóteses:

a mais provável é a que
melhor me desmente

sou feito de equívocos
contradições
convicções
borboletas

sou vela acesa
na noite das angústias

terça-feira, 26 de agosto de 2008

YVAN ARGOLO


Yvan Argolo (1947) é certamente um dos principais escritores baianos em atividade. Com onze romances publicados, mais dois volumes de contos, ele apresenta em suas páginas personagens que trafegam numa tênue linha separando a verdade da ficção - não se desequilibrando jamais. Freqüentemente citado por alguns críticos como um injustiçado, por não freqüentar os espaços ocupados por prefaciadores profissionais, parece não se incomodar com isso e continua heroicamente editando seus livros independentemente, sem o apoio de governos ou o alicerce de editoras (com exceção de “Frontal”, 1997, editado pelo Selo Letras da Bahia). Com tiragem limitada, os exemplares de seus livros desaparecem avidamente entre seus admiradores, valendo, sem dúvida, uma busca mais apurada pelos sebos do país.
           Santo Amaro (BA), é a matéria prima de suas obras, os eventos e as figuras históricos encontram em sua pena guarida, o passado é visitado sem nostalgia, os tipos, os causos, as vias (sempre detalhadamente narradas, quase mapas) permeiam seu trabalho invadindo conscientemente o imaginário popular santamarense. Talvez, por isso, há quem diga que seus textos não sejam de fácil consumo para quem não está familiarizado com o universo massapezeiro, o que é uma teoria pouco inspirada, pois feito um Gabriel García Márquez do Recôncavo Baiano o autor mantém-se mais cosmopolita e menos bairrista do que possa aparentar à primeira folheada.
           Da pesquisa minuciosa de “Ave Cæsar" (1994) ao debut em 1987 com “Confronto”, destacando-se, “Extremis” (1988), “Escarlate” (1989) e “Cédula-Única” (1992). Yvan Argolo vem atravessando as últimas décadas nos premiando com obras generosas em fatos e factóides que são incrivelmente desnudados com a criatividade de quem domina o labor literário, uma leitura que flui rápida e tranqüilamente, mas sem subestimar ou enfadar seu leitor. Seu último trabalho, lançado este ano, o romance “Os Entrega-Listas”, confirma que o médico/escritor continua com a verve afiada e, ainda, sem o merecido reconhecimento.

Herculano Neto

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

sábado, 2 de agosto de 2008

MAIS UM POEMA DE "CINEMA"

madri
Herculano Neto

penso naqueles deslizes
na dissimulação
nas cartas na mesa
na virada de mesa

penso na melancolia que me cai em agosto
e num antigo filme
quase preto-e-branco
que assisti numa madrugada em santo amaro

penso
enquanto aguardo os touros na arena
o veredicto
o epílogo

quarta-feira, 23 de julho de 2008

CINEMA: DE HERCULANO NETO
Por Gustavo Felicíssimo


          Recebi há poucos dias o livro Cinema, do poeta santamarense Herculano Neto. O livro, recém saído do forno, foi um dos vencedores do Prêmio Braskem de Literatura, promovido pela Fundação Casa de Jorge Amado, edição 2007. Herculano, além de poeta é compositor, cinéfilo e cineclubista, daí o nome dado ao compêndio e seus capítulos: Filmografia; Curta-metragem e Matinês. Poemas também com títulos como “sinopse”, “sala de arte”, “la película”, ao lado de outros como “morangos silvestres” e “ainda lembro” com dedicatória ao cineasta baiano Edgar Navarro e uma epígrafe com uma fala de Taxi Driver, filme dirigido por Martin Scorcese complementam a unidade referente à sua apresentação.
           Entendemos que o tema central de Cinema é a fugacidade contemporânea que se nos apresenta, acompanhada de certo ar nostálgico e roupagem moderna, proporcionada por uma linguagem coloquial emergente, própria daquilo que se convencionou denominar pós-modernidade.
           A obra é reflexiva e se opõem à constante degradação dos valores humanos da mesma forma como acontece no belíssimo Cinema Paradiso, filme escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore. No livro encontramos o poeta investido de uma angústia semelhante a de Totó, personagem principal da película.
           E como só assim haveria de ser, Herculano Neto estabelece em sua lírica uma dialética existencialista e dicotômica, característica que permeia toda obra, muitas vezes descortinando-se logo no título dos poemas, como em versos excluídos.

tenho vocação para o abismo
para o abraço

tenho fixação por detalhes
por olhares
por silêncios

sou irremediavelmente insatisfeito
displicentemente franco
o melhor amigo dos meu amigos
o melhor amante das minhas tristezas

obsessivo

tenho vocação para infelizes

           Jorge Portugal, ao pronunciar-se sobre a poesia de seu conterrâneo, acentua que “na verdade, a palavra Poeta deveria ser mais preservada e dirigida apenas àqueles que provassem, por léguas de letras e texto invulgar, o merecimento do distintivo. São poucos, portanto, os que assim podem ser considerados. Herculano Neto, com certeza, pertence a esse elenco de raros. A sua palavra comprime tantos mundos que, ao menor gesto compreensivo da sensibilidade, ela "explode" em suas mãos, em seu olhar, em sua consciência.”
           E Miguel Carneiro, no prefácio do livro, diz que Herculano “de verve sarcástica, brinca com seu humour noir ridicularizando a caretice da província, fazendo de seus versos testemunhos da contemporaneidade na qual ele trafega com desenvoltura”.Cinema é um livro que vale a pena ler e ter na estante.

segunda-feira, 7 de julho de 2008


A SCENA MUDA

a scena muda
Herculano Neto

no pôster do quarto
brando me observa com os braços cruzados
e o olhar enigmático
conforme legenda de A Scena Muda

brando observa o que resta
do meu “nem pensar”
e eu definitivamente
desisto

segunda-feira, 30 de junho de 2008

SANTO AMARO(BA) JUNHO DE 1983

"Eu já tomei mais de dez litros de licor
Pra vê se esqueço o sabor do teu amor
É são João, e eu aqui tão só..."
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sexta-feira, 13 de junho de 2008

CINEMA


"Cinema, o livro de Herculano Neto, traduz num grande travelling a paisagem do Recôncavo e cercanias, ora em grande planos, ora em planos fechados no rosto de seus inúmeros personagens anônimos. O poeta não tem medo de se expor. De verve sarcástica, brinca com seu humour noir ridicularizando a caretice da província, fazendo de seus versos testemunhos da contemporaneidade na qual ele trafega com desenvoltura."

Miguel Carneiro

CINEMA
Herculano Neto
126 páginas
R$ 10,00
ONDE ENCONTRAR:
LDM - Livraria Multicamp
Rua Direita da Piedade
(71) 21018000
*****
TOM DO SABER
Rio Vermelho
(71) 33345677
*****
GALERIA DO LIVRO
Boulevard 161 - Itaigara
(71) 33530051
*****
ESPAÇO UNIBANCO - CINE GLAUBER ROCHA
Praça Castro Alves
*****
BANCA J.A (Santo Amaro)
Atrás Igreja do Rosário
*****
SEBO DINHO
Santo Amaro
*****
EDITORA LIVRO
****
Fundação Casa de Jorge Amado (Pelourinho)
(71) 33210070
****
OU DIRETAMENTE COM O AUTOR:



sábado, 7 de junho de 2008

CONVITE: PRÊMIO BRASKEM LITERATURA

A Braskem e a Fundação Casa de Jorge Amado convidam você para o coquetel de lançamento das publicações vencedoras do Prêmio Braskem Cultura e Arte 2007, na categoria literatura.

“CINEMA”

Herculano Neto

“CALENDÁRIO”
Márcia Tude

“CAFEÍNA”
Victor Mascarenhas

Data: 11/06/2008, a partir das 18h
Local: Fundação Casa de Jorge Amado (Pelourinho)

sábado, 31 de maio de 2008

CIDADE E RIO – ROBERTO MENDES


“Roberto Mendes, certamente um músico fora do comum, extraordinário, apegado e apaixonado pela sua gente, sua terra, sua água tão limpa e única, e tão apodrecida hoje com a desculpa do progresso. Progresso miserável matando seus rios, peixes, mariscos... Progresso de chumbo que corrói o solo bendito de tantos canaviais. Ao inferno todos os perversos que iludiram e iludem a “ cidade e o rio”, donos dos sons e sabores que aqui na música única de Roberto sente-se, respira-se e saboreia-se. Uma foto do Brasil real, não o virtual e inútil. Na nossa cara, entrando pelas narinas, poros e goelas o “auxílio luxuoso” dos mestres (Guinga, Lenine, Alcione, Pedro Luís e Marco Pereira) que aqui vieram confirmar o que digo, penso, choro e com que me delicio. A música ainda pode nos salvar de todo o mau. Bravo e obrigada, Roberto!”
Maria Bethânia


Para o homem do Recôncavo Baiano, o rio não é apenas uma via de ligação. É o caminho por onde continuamente passa sua história. Santo Amaro da Purificação e o Subaé simbolizam essa ligação orgânica, em que a água e o homem, com sua obra e sua alma, seguem juntos o mesmo percurso. Cidade e Rio com seus sons característicos das culturas que por elas navegam. A chula, samba de viola no curso em que a poesia contemporânea de Jorge Portugal, Capinan, Caetano Veloso, Herculano Neto e Nelson Elias se coloca como afluente.

FAIXAS

01 CIDADE E RIO (Roberto Mendes/Jorge Portugal)
02 PURIFICAR O SUBAÉ (Caetano Veloso)
03 MEMÓRIAS DAS ÁGUAS (Roberto Mendes/Jorge Portugal)
04 BEIRA MAR ((Roberto Mendes/Capinan)
05 ESSE SONHO VAI DAR (Roberto Mendes/Jorge Portugal)
06 LINDA MORENA (Roberto Mendes/Nelson Ellias)
07 TIRA ESSA MULHER DA RODA (Roberto Mendes/Capinan)
08 DEU SAUDADE (Roberto Mendes/Herculano Neto)
09 MARAVILHA MARGINAL (Roberto Mendes/Jorge Portugal)
10 POESIA, SAMBA E BAIÃO (Roberto Mendes/Capinan)
11 DEMANDA (Roberto Mendes/Capinan)
12 BOM COMEÇO (Roberto Mendes/Capinan)

Biscoito Fino – 2008

quarta-feira, 21 de maio de 2008

"A GAROTINHA RUIVA"

           Perdido nos corredores de uma infância labiríntica, nos agora longínquos anos da década de 80, entre questionamentos prematuros de uma adolescência apressada e personagens de quadrinhos e TV, eu tentava simplesmente encontrar em algum herói de ficção um espelho. Em algumas ocasiões talvez tenha encontrado: fui um pouco Spaceghost; Demolidor; Ultraman; Lanterna Verde... Enfim, fui tantos na frustrada tentativa de não ser eu. Curiosamente, aquele que mais me marcou não tinha super poderes nem lutava contra forças do mal em defesa do nosso planeta. Na verdade ele era bem simples. Bem tímido. Bem fracassado. Bem eu.
            Charlie Brown, por vários anos, foi o exemplo de amizade que desejei para mim, sem achar. Procurava visualizar entre os meus colegas, na escola ou na rua, alguém como ele. Solidário, afável, sensível... Sua turma era minha turma, seus medos eram os meus medos, sua total inabilidade com as atividades infantis também era minha. A idealização do primeiro amor como um sentimento inatingível foi o ponto mais em comum dessa fase. Charlie Brown e eu sofríamos com as desventuras de relacionamentos apenas fantasiados. (Entre as cores da imaginação e o cinza da realidade, pouco sobrava de nós). A garotinha ruiva deve ter sido a nossa maior identificação: uma garota sem nome, traduzida somente pela cor dos seus cabelos, um amor completamente idílico. Temendo não ser aceito ele não se apresentou à garotinha ruiva, e em seu lugar foi seu melhor amigo, Linus - que a beijou, se apaixonou e quebrou a magia ao descobrir seu verdadeiro nome. Charlie Brown amargou mais uma derrota com a resignação de quem se acostumou a não vencer. Não me lembro bem, mas acho que era inverno. Muitas estórias passavam-se no inverno. No inverno é tudo mais triste. (Jamais toquei a neve).
            A minha garotinha ruiva não era ruiva; ainda hoje seus cabelos negros visitam minhas lembranças pueris. Nunca mais a encontrei, nem pretendo encontrá-la. Não posso furtar do que me resta de inocência essa recordação doce. É possível até que eu tenha passado por ela em uma avenida qualquer, esbarrado e pedido desculpas no supermercado ou sentado ao seu lado no ônibus ou num banco de praça sem tê-la reconhecido. Melhor assim.
Hoje, olhando para trás, não vejo aquele menino introvertido em mim. Tudo parece distante e inacreditável, quase paralelo. Talvez por ter vivido a perda com tanta intensidade eu tenha decidido na prática o que não queria ser.
           Nunca perdoei Linus por ter beijado a garotinha ruiva. Nunca perdoei Charlie Brown por ter perdoado Linus. Nunca me perdoei por não ter perdoado os dois.


Herculano Neto

sexta-feira, 16 de maio de 2008

SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO (BA) – 1933


AUTORRETRATO TERCEIRIZADO

Herculano Neto é poeta, ficcionista, roteirista de filmes inacabados, blogueiro, letrista de música popular, cineclubista... Teme ser comparado ao pato (que nada, caminha e voa, mas faz as três coisas muito mal). Desconforta a alcunha de poeta, porém tem aprendido a conviver com ela – só não gosta quando pedem para recitar, parecem os que pedem para o peixe-palhaço contar uma piada em “Procurando Nemo”. Gosta de ser lembrado como o neto do Herculano, talvez por isso fale sempre na terceira pessoa – não se sente, ainda, proprietário do nome. Santamarense que não pede bênção, funcionário público na capital da Bahia, um tímido incorrigível. Adora filmes, fotografias, cultura pop, edições antigas autografadas para desconhecidos, autores de sua geração, quadrinhos e música (em casa tem dificuldade para organizar tanta tralha, é possível que ao desencarnar sua família venda tudo a peso para o sebo de Brandão ou para a Berinjela). Foi publicado e gravado, no entanto possui um espírito inédito – acredita que não foi devidamente explorado. Avesso a modismos tem calafrios ao ouvir a palavra “tendência”. É viciado em solidão, mas não resiste a um abraço. Tem telefone celular porque não tem jeito, às vezes atende as ligações. Perde a razão por causa do Bahia, para o bem e para o mal. Abandonou a Coca-Cola, mas não Campari com soda. Trocou recentemente o Atari que herdou do tio no natal de 1988 por um Supernintendo que o sobrinho abandonou no armário do quarto, porém é comum ser flagrado altas horas jogando Space Invaders.
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