quinta-feira, 25 de agosto de 2022

CONTÉM SPOILER XIX

Aquele filme que eu te falei

Com ecos de “Escola de Rock”, Metal Lords é (com o perdão do clichê) uma grata surpresa no enfadonho catálogo da Netflix. O filme é uma das muitas produções que apelam para um público jovem adulto ávido por nostalgia, mas surpreende ao abordar o universo do heavy metal (com todos aqueles clássicos que fizeram a cabeça de muitos adolescentes nas últimas décadas na trilha sonora). Acredito que não tenha recebido a atenção merecida, o que é uma pena. Uma hora e meia de diversão descompromissada que não vai alterar o rumo da sua vida, talvez despertar aquele garoto que ia mudar o mundo e que ainda se emociona com riffs de guitarra (ou violoncelo).


quinta-feira, 11 de agosto de 2022

ENTRE A RUA DIREITA E A ESTRADA DOS CARROS II

 

Boa parte dos logradores da minha terra natal, Santo Amaro da Purificação, enaltece a memória dos seus barões e viscondes escravocratas – alusão a uma época em que a cidade era uma grande produtora de cana-de-açúcar (“gosto muito raro trago em mim por ti”). Entendo que essa tendência de revisão histórica, com a derrubada de símbolos e estátuas, não mudará tudo o que aconteceu, mas em um lugar essencialmente preto, com todos os riscos que corre essa gente morena, é no mínimo afrontoso ainda reverenciar essa caduca nobreza. Poucos anos antes da inevitável, e tardia, abolição da escravatura no país, fora criada a LIGA DA LAVOURA E DO COMÉRCIO DE SANTO AMARO, sociedade formada pelos senhores de engenho da região (nomes hoje conhecidos apenas por títulos de rua como Barão de Sergy, Ferreira Bandeira, Barão de Vila Viçosa, entre outros) que confrontava e questionava a libertação dos escravizados e enxergava a abolição como uma “ameaça”, conforme publicado no “Diário da Bahia” em julho de 1884. Acredito que o ideal seria um corajoso e necessário projeto de lei da Câmara Municipal para renomear todos esses locais, quem sabe até uma enquete popular para decidir as novas denominações. E se não fosse possível alterar, talvez por atávico conservadorismo, minha sugestão seria legendar as placas existentes como no exemplo abaixo:

Avenida Barão do Massapê
Fazendeiro, político e escravocrata

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

VIRADA DE PÁGINA XVII

Papel jornal, couché, off-set, polén, reciclado, kindle ou pdf

Dificilmente alguém não se imaginou revivendo a juventude com a cabeça atual, podendo fazer o que considera ser as escolhas certas, tendo maturidade para reagir a situações desconfortáveis que hoje seriam banais ou apenas se permitir um momento a mais com entes queridos. É essa oportunidade que Hiroshi Nakahara tem ao despertar nos seus 14 anos com a mentalidade e experiências do homem maduro de 48 anos que ele realmente é. Considerado por muitos o melhor mangá do japonês Jiro Taniguchi, UM BAIRRO DISTANTE possui bem mais camadas do que essa breve sinopse consegue oferecer. Nakahara retorna 34 anos no passado, semanas antes do desaparecimento do seu pai, um evento traumático para toda a família, compreender o que o levou a abandonar uma vida tranquila é a resposta que o protagonista precisa encontrar. Eu, nascido e criado nos comics e nas aventuras da Sessão da Tarde nos anos de 1980, fui desenvolvendo prematuramente uma solução (ah, só pode ser isso), mas fui surpreendido em suas últimas páginas. Confesso que não gostaria de regressar no tempo, um mero CTRL+Z não apagaria todas as minhas mágoas, reviver minhas dores novamente seria mais uma maldição do que uma dádiva. Melhor permanecer com as lembranças, mesmo que distorcidas.

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