segunda-feira, 31 de agosto de 2009

PARA NINAR O MEU AMOR*

PARA NINAR O MEU AMOR*
Herculano Neto

ando farto do quase
do meio-termo
das boas maneiras
do mais ou menos
e do pode ser dito de
canto de boca

(do talvez não quero saber)

ando farto de lugares-comuns
e olhares esquivos
das cartas marcadas
e do disse-me-disse
das galerias

ando farto de
finais felizes

*(do livro “CINEMA”, Prêmio Brakem Cultura e Arte 2007)

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

SE VOCÊ VIER ME PERGUNTAR POR ONDE ANDEI

Há exatamente quatro anos estive num show do Belchior (no dia 27 de agosto de 2005, no Teatro ACBEU em Salvador). Acompanhado por apenas dois violonistas ele exibiu suas canções, e algumas surpresas, descontraidamente. Ao final o cumprimentei e ofereci dois discos para serem autografados. Se o seu “desaparecimento” é mero marketing ou se realmente ele se cansou de tudo e foi viver na natureza selvagem para mim pouco importa. Amar e mudar as coisas me interessam mais.

sábado, 15 de agosto de 2009

NA NATUREZA SELVAGEM

O jovem Christopher McCandless, no início da década de 1990, decidiu deixar tudo para trás. Recém-formado, destruiu cartões de crédito, documentos, doou suas economias, adotou novo nome e queimou (literalmente) dinheiro - tudo para viver na natureza selvagem. A direção de Sean Pean em NA NATUREZA SELVAGEM (2007) valoriza as sutilezas do roteiro e provoca uma reflexão sobre a vida na competitiva sociedade moderna. O ator Emile Hirsch, em ótima interpretação, nos cativa e convence durante a jornada do protagonista. A belíssima fotografia emociona por sua placidez, juntamente com a perfeita trilha sonora, que colecionou prêmios e indicações por onde passou. Com Eddie Vedder cantando ao fundo eu iria para qualquer lugar, mas com Kristen Stewart tocando para mim, talvez eu ficasse em qualquer paragem.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

NÃO TENHO TWITTER!

Resumir trivialidades em no máximo 140 caracteres, infestadas de abreviações e abreviaturas ininteligíveis, talvez seja o modismo mais desnecessário que a Internet produziu até agora (e olhe que a concorrência não é pequena). Isso não é síntese, concisão. É ruído. José Saramago declarou recentemente que o Twitter é mais uma evidência que o ser humano caminha para o grunhido, assim como o escritor português, que certamente não troca você por vc nem pronuncia , não tenho Twitter nem participo de qualquer tipo de rede de relacionamento virtual. Quem quiser saber como estou pode telefonar quando quiser ou bater à minha porta. Também aceito cartas.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A NOITE

A NOITE*
Herculano Neto

passo noites inteiras
admirando os quadros
pintura abstrata
auto-retrato

passo noites inteiras vagando
de um lado ao outro da casa
olhando as paredes desbotadas
contando as gotas na vidraça

passo as noites
procurando pelos cantos
um resto de alguém
que a vassoura não levou

*(do livro “CINEMA”, Prêmio Brakem Cultura e Arte 2007)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

TRANCELIM DOS INCRÉDULOS

Tive a honra e a felicidade de debutar em livro ao lado de Miguel Carneiro, em 2004 na antologia OS OUTROS POEMAS DE QUE FALEI. Juntamente com o escritor conheci a pessoa e desde então minha admiração por ambos se mantém crescente. Homem de valores raros, tento, sem muito sucesso, absorver um pouco. Uma queixa recorrente que Miguel amiúde faz é que pouco nos encontramos, mesmo habitando a mesma cidade média - talvez em decorrência de minha personalidade arredia, não sei. Numa dessas oportunidades ele me presenteou com seu livro TRANCELIM DOS INCRÉDULOS (Ed. Virtual Books), um conjunto de “apenas” três contos (Trancelim dos Incrédulos, Galo de Ouro e Naquele Dia eu vi o Diabo de Perto). Se posso reclamar de algo é que a publicação é demasiadamente curta, tende-se a querer ler tudo num só fôlego e o desejo de mais não se evapora com facilidade ao transpor suas 56 páginas. Com sua prosa rica Miguel nos conquista com suas expressões populares e personagens carismáticos que são ótimos contadores de história, valorizando sempre a oralidade do nosso povo. Fica a vontade de ver um dia, dignamente reunidas, a poesia, ficção e dramaturgia de Miguel Carneiro num merecido tomo de obras completas.
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