De repente, me vi (por acidente ou mero capricho do acaso) numa roda de conversa intelectualoide, com pretensos cineastas, estudantes de cinema, críticos de locadora e figurantes -, onde tentavam aparentar mais do que realmente eram. Antes que eu conseguisse uma desculpa coerente para me retirar, iniciaram uma espécie de brincadeira onde cada um deveria dizer um diretor de cinema que “fez sua cabeça”. Entre diretores eslovenos e israelenses, dos quais nunca ouvi falar, surgiam nomes alternativos de valor, mas relegados ao circuito de arte. Na minha vez, não hesitei nem quis posar de grande entendido, apenas respondi calmamente e sem medo de soar menor: Alfred Hitchcock. Prontamente, alguém menosprezou: “Ah, o mestre do suspense?!”. Não, isso é lugar comum preguiçoso de jornal e revista. Estou falando de Alfred Hitchcock, o mestre do cinema – rechacei como teria feito François Truffaut na Paris dos anos de 1950. Após um desconfortável instante de silêncio, a conversa mudou para Copa do Mundo de Futebol.
Designar Hitchcock, simplesmente, de “mestre do suspense”, sempre me pareceu diminuir sua real importância. Seu trabalho vai além de estilos e prescinde de alcunhas. Basta assistir aos seus filmes com um olhar mais cuidadoso para apurar que ele era muito mais do que isso. Tenho carinho e admiração enormes por alguns cineastas, mas certamente Hitchcock foi o primeiro a me afetar de maneira definitiva. Evidentemente, a influência dele no cinema feito ao longo dos anos é muito grande, mesmo que neguem. Amiúde, leio ou escuto por aí que tal filme é hitchcockiano (verbete encontrado em alguns dicionários). Mas poucos realmente merecem esse carimbo. A ironia é que mais do que limitá-lo num estilo, ele próprio se tornou um.
E só pra não perder o hábito, me desafiei a listar meus cinco filmes preferidos de Alfred Hitchcock (tarefa ingrata, complicada e dolorosa). Preferi não utilizar critérios técnicos, apenas afetivos - embora alguns dos títulos escolhidos figurem em várias listas de melhores de todos os tempos. Em ordem cronológica, são:
REBECCA (1940)
A SOMBRA DE UMA DÚVIDA (1943)
A SOMBRA DE UMA DÚVIDA (1943)
INTERLÚDIO (1946)
VERTIGO (1958)
PSICOSE (1960)
Abaixo, uma das cenas mais lembradas da história do cinema. Sete dias de filmagem, setenta posições de câmera e tema musical inquietante para quarenta e cinco segundos inesquecíveis: