Possuo um livro de contos engavetado há algum tempo, mas não por minha vontade, que fique claro. No distante ano de 2010, parte desses textos foi publicada pela revista Bravo!, tendo boa acolhida pelo público e uma expectativa crescente com relação ao lançamento oficial. No entanto (sempre um “no entanto” no caminho), devido a divergências com a editora (traduzindo: um contrato escroto), acabei escanteado, relegado à geladeira de um mercado violentamente competitivo. A essa altura alguém já perguntou: “por que não lançou independente?”. Respondo: bancar um projeto do próprio bolso é fácil, difícil é fazer com que o livro seja lido, que tenha divulgação, distribuição, que sobreviva além da noite de autógrafos e que atinja várias pessoas e não apenas meus fiéis amigos. Já lancei um livro independente e confesso que fora a satisfação pessoal e o foda-se editoras não há muito o que comemorar. Desanimado, aguardei. Este ano, me acenaram com a possibilidade de publicação por uma editora que me agrada, principalmente por seu projeto gráfico charmoso e pelo respeito que é dispensado aos seus contratados. Assim, tive tempo para reescrever alguns contos, excluir outros e incluir um material recente e que não foge da unidade temática, o que parecia ruim inicialmente, terminou sendo o melhor para mim. Hoje, tenho um trabalho em mãos bem mais instigante e maduro do que eu tinha há dois anos. “Tudo tem seu tempo”, algum sábio conformado já disse, porém não costumo exercitar minha resignação com muita frequência. Em breve, livro novo na praça – finalmente.
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
ANTES DA MEIA-NOITE
ANTES DO AMANHECER, 1995 |
ANTES DO PÔR-DO-SOL, 2004 |
ANTES DA MEIA NOITE, 2013 |
Espero que a conclusão
da trilogia nao seja como eu imaginei.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
QUANDO EU REENCONTRAR XICO SÁ
Noutra noite, num simpático boteco do Rio Vermelho, Xico Sá me disse que homens bonitos sempre tentam ganhar uma mulher por nocaute — às vezes no primeiro round. E que homens inteligentes (ou seria “esteticamente prejudicados”?) como nós, ganham as mulheres por pontos.
Preciso dizer para ele que perdi minha luta por insistência.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
OS OLHOS DA RUA
"É esse o futuro que você quer para os seus filhos?", na entrada de Nova Conquista, em Santo Amaro da Purificação (BA) |
Garoto solitário no campo de Nova Conquista, Santo Amaro da Purificação (BA) |
Coisas que só vejo em minha cidade, Santo Amaro da Purificação (BA) |
Todas as fotografias por Herculano Neto
terça-feira, 2 de outubro de 2012
CHÁ DE ABU
Fiz essa foto uma manhã no parque, fiz várias naquele dia, mas essa, com ele me olhando, foi a que eu mais gostei. Jamais poderia imaginar que a usaria num anúncio de “desaparecido”. Espalhei os cartazes pela cidade, perguntei pela vizinhança, mas ninguém sabia. Esperar era tudo o que eu podia fazer.
Foi numa manhã de novembro, pouco antes das férias, voltei da escola e ele já não estava. “Fugiu” – foi o que a minha mãe disse. Nas primeiras semanas, costumava sonhar com ele, saudável, alegre, parado numa esquina perto da minha casa, quando eu tentava me aproximar ele se afastava, e eu corria sem conseguir alcançá-lo, cada vez mais distante de mim. Acordava ofegante e assustado.
O médico disse que era só questão de tempo, que ele estava sofrendo, que poderia passar a doença para alguém, que o melhor seria sacrificá-lo. Ainda insisti com todo tipo de medicamento possível: nenhuma melhora. Deus sabe como foi difícil para mim levá-lo àquele lugar, mas não tive coragem de deixá-lo para trás.
Agora eu fico aqui, do sétimo andar, aguardando o telefone trazer alguma notícia, observando os cães vadios que correm pelo parque, imaginando que ele talvez seja um deles, que talvez se lembre do quanto brincávamos ali. Enquanto eu tomo meu café frio.
O médico disse que era só questão de tempo, que ele estava sofrendo, que poderia passar a doença para alguém, que o melhor seria sacrificá-lo. Ainda insisti com todo tipo de medicamento possível: nenhuma melhora. Deus sabe como foi difícil para mim levá-lo àquele lugar, mas não tive coragem de deixá-lo para trás.
Agora eu fico aqui, do sétimo andar, aguardando o telefone trazer alguma notícia, observando os cães vadios que correm pelo parque, imaginando que ele talvez seja um deles, que talvez se lembre do quanto brincávamos ali. Enquanto eu tomo meu café frio.
Livremente inspirado na canção “Do Sétimo Andar”,
Los Hermanos.
Assinar:
Postagens (Atom)