Violonista da extinta banda Dialética, expoente da cena rocker do Recôncavo Baiano, o músico santamarense Dum Lima se arrisca em seu primeiro trabalho solo e totalmente autoral. Se em seu antigo grupo ele produzia arranjos repletos de camadas que flertava com uma espécie de rock progressivo à brasileira; agora ele trilha um caminho minimalista, onde “menos é mais” é a ordem da vez. Nas onze faixas do álbum, encontramos texturas sonoras, climas que nos remetem ao Clube da Esquina e ao indie dos anos 2000. Dum Lima parece buscar sempre as melhores soluções harmônicas: é pop sem ser superficial e é sofisticado sem ser hermético. Seu canto é doce, suavemente baixo, nos convida a prestar atenção. Amparado por Chuck Silva, o disco abre com “Mentiras”, uma das pequenas faixas, quase vinhetas, “tudo muda, tudo passa”, daquelas inverdades que teimamos em acreditar. Mas o tom a partir daí não é de irrealidade, é de saudade – que não por acaso é o título da última canção (que poderia, também, ser a faixa de abertura). A próxima é “Por um Triz”, uma resignação, um deixar ir, “ela vem e sai/ ela não quer mais falar”, antecedendo o sabor mais leve de despedida da faixa que batiza o álbum. “Todo Adeus” deseja um fim de dia que não existe mais, espalhando a saudade em toda parte. Em “Devendra” os sintetizadores nos chama para dançar ou apenas bater um pouco os pés ou balançar a cabeça sem sair do lugar, talvez a saudade não seja tão triste assim. “Mãe” nos coloca de volta na rota da reflexão, com versos do poeta Ediney Santana, “que o inverno dos meus dias/ o abraço seja um sol”, é um acalanto às avessas, como se agora acariciássemos os cabelos brancos de uma velha senhora que adormece silenciosamente em nosso colo. “Fim de Tarde” traz uma lembrança serena, uma polaroide que insiste em não desbotar, é um tema que se repete, a saudade na floresta azul é o entardecer. “Há um rastro de chumbo em seus olhos quando desiste”, a tragédia da contaminação por cádmio e chumbo que acometeu a cidade de Santo Amaro da Purificação serve de metáfora para a partida em “Dos Rastros”, que tem versos do conterrâneo Herculano Neto. “Ana Louise” vem com a clarineta de Wylton Barbosa, um violão marcando um samba intimista no terreiro e finaliza refereciando a poesia marginal setentista. Já “Ada” é a casa vazia, é o tropeçar em brinquedos, é saudade, mas uma saudade azul. Como diria Tavito em “Rua Ramalhete”: “sem querer fui lembrar”, citada em “Metal”, a penúltima faixa, sobre um amigo que foi embora cedo demais. Assim é a saudade, nos apanha inesperadamente, por acidente, quando menos esperamos. Impregnado de nostalgia e melancolia, Dum Lima e a Floresta Azul está disponível nas principais plataformas digitais e futuramente em mídia física.