terça-feira, 29 de novembro de 2011

NATALIE WOOD

De estrela mirim à namoradinha da América, Natalie Wood participou de eternos clássicos do cinema, “De Ilusão Também se Vive”, “Juventude Transviada”, “Rastros de Ódio”, “Clamor do Sexo” e “Amor, Sublime Amor” são alguns deles. Há exatamente trinta anos, no dia 29 de novembro de 1981, ela abandonava essa existência, em circunstâncias misteriosas, enquanto navegava em um iate na companhia do marido Robert Wagner e do “amigo” Christopher Walken. Dona de uma beleza natural, e que ainda me encanta, Natalie Wood não é tão cultuada, como outras atrizes de sua geração, mas, certamente, possui um lugar importante na história do cinema. Merece a lembrança.
 




sábado, 26 de novembro de 2011

CALUDA, TAMBORINS!


          Para Jorge Bóris 

          Pegando carona num inusitado interesse da mídia pelo centenário do compositor e ator Mário Lago, e fugindo das onipresentes Amélias e Auroras, segue uma marchinha que ironizava a criação da Academia Brasileira de Música Popular, em 1941, intitulada "Caluda, Tamborins! ou de como o biltre do demo enredou em sua parlanda a trêfega Natércia" (traduzindo: "Silêncio, Tamborins! Ou como foi que o infame do diabo envolveu a alegria [de] Natércia no seu blá blá blá"), com uma  letra hermética que contrapunha o simplismo do gênero, mas essa, provavelmente, não passará em nenhum especial da TV.

Caluda, tamborins, caluda! Um biltre meu amor arrebatou.
No paroxismo da paixão ignota/ Supu-la um querubim, não era assim.
Caluda, tamborins, caluda... Soai plangentemente, ai de mim.
Vimo-nos num ror de gente /E, sub-repticiamente,
O olhar seu me dardejou.
Cáspite, por suas nédias madeixas/ Que suaves endechas
Em pré-delíquio o pobre peito meu trinou.
Fomo-nos de plaga em plaga, /Pedi-lhe a mão catita,
Em ais de êxtase m'a deu.
E o dealbar de um amor/ Em sua pulcra mirada resplandeceu, olarila!
Férula, ignara sorte/ Solerte a garra adunca
Em minha vida estendeu! Trêfaga ia a minha natércia,
Surge o biltre do demo/ Rendida à sua parlanda, ela se escafedeu.
Vórtice no imo trago.
São gritos avernais que no atro ódio exclamei.
Falena sou, desalada...
Ó numes ouvi-me: aqui del-rey!

domingo, 20 de novembro de 2011

MEU PÉ ESQUERDO

        O soteropolitano, e quem visitou Salvador recentemente, sabe que a capital baiana está abandonada, diferente da sua alegria folclórica no colorido do cartão-postal.
        Vivendo no centro dessa cidade há oito anos, não muito distante do que será a “nova Fonte Nova”, sequer me proponho imaginar como esse lugar sediará os jogos da Copa do Mundo de Futebol (nem todos os tapetes do planeta seriam suficientes para esconder tanta sujeira, nem toda maquiagem conseguiria disfarçar tanto descaso).
        Ao caminhar por suas históricas ruas, suas ladeiras, desviando-me habilmente dos vendedores ambulantes que ocupam todos os espaços, não tive a mesma habilidade para escapar dos buracos na calçada, que já fazem parte da paisagem, e, inevitavelmente, meu pé esquerdo sucumbiu pateticamente no meio da via, promovendo uma virada forçada do tornozelo. Resultado: os ligamentos rompidos e condenado a ficar “preso” dentro de casa, minha prisão sem grades, sabe-se lá por quantos dias, deslocando-me com o auxílio de muletas, com os movimentos reduzidos que transformam o simples em complexo, o corriqueiro em estafante, e digladiando contra o tédio (entre tantos insucessos, a angústia que senti ao utilizar uma cadeira de rodas no hospital foi uma das piores desta minha parca existência).
        Mas que Salvador acolha em 2012 um novo governante, que não se afogue no pouco caso e nas promessas demagógicas.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

POEMA INÉDITO VII

estou no meu próprio centro
entre minhas próprias margens

nem sempre me perco
nem sempre me acho

em cada estação sou uma nova cidade

Herculano Neto

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

PORQUE NÃO TENHO TELEFONE MÓVEL

Inicialmente, foi um pouco difícil me adaptar: se eu queria saber as horas, tateava o bolso em busca do aparelho; se estava atrasado afligia-me não poder avisar no trabalho que chegaria mais tarde; se me diziam um endereço, a data de algum compromisso, nunca tinha onde anotar – afinal, caneta e papel são utensílios do século passado. Mas, pouco a pouco, fui aprendendo a existir sem ele e consequentemente minha qualidade de vida a aumentar surpreendentemente (tenho medo de calcular quanto tempo desperdicei sendo escravo daquela caixinha). Meus amigos e familiares não entendiam minha decisão, argumentavam que tentavam se comunicar comigo e não conseguiam, que não se pode viver sem telefone celular nos dias de hoje, etc. Até me presentearam com um desses modelos de penúltima geração, cheio de softwares desnecessários, no entanto jamais o tirei da embalagem. 
          Não demorou para que as outras pessoas, também, estranhassem o fato de eu não possuir um celular: “como assim, você não tem?!”, parecia que eu estava dizendo que eu não tinha alma. Definitivamente, não me fazia falta nenhuma aquele troço. Agora, não tinha que dar satisfação por que não atendi alguma ligação ou por que o telefone estava desligado. Não era interrompido nos momentos mais inoportunos. Não incomodava ninguém com o meu gosto musical duvidoso. Não assustava minha sobrinha com o meu ringtone macabro. Não era obrigado a compartilhar minhas conversas quando eu estivesse em locais públicos. Não sofria com a ausência de sinal, falta de crédito nem bateria descarregando. A melhor parte, e olha que é difícil decidir qual é a melhor parte, era não ter que prestar contas de cada passo meu e ainda ter que tolerar a deseducação alheia, que já liga perguntando onde você está, tornando dispensável um mero cumprimento. Estava livre e com dó daqueles que passavam por mim digitando mensagens, ouvindo músicas, assistindo aos seus vídeos, papeando banalidades, conectadas na rede mundial e desligadas do mundo ao seu redor – mais solitárias que um grão de areia numa lata de Leite Ninho. 
          Mas não pensem que eu sou um desses alarmistas ecologicamente corretos, que afirmam que telefone celular é cancerígeno e que se ele pode causar interferência em eletrodomésticos coisa muito pior pode provocar no nosso organismo. Não acredito, por exemplo, que o uso do telefone móvel será proibido em muitos lugares, com restrições semelhantes às que acometem os fumantes, e que haverá severas advertências do Ministério da Saúde e áreas específicas para a sua utilização (o que me permitiria dizer, sem estranhamentos, algo como “há cinco anos que não tenho celular”, como quem diz com orgulho o tempo que tem longe da bebida alcoólica). Não acredito que existirá clínicas para reabilitar os seus dependentes e que o tema será considerado de extrema prioridade pelos governos, inclusive sendo a base dos debates e promessas de campanha eleitoral. Não acredito que a interatividade alcançará níveis cinematográficos, com telefones inteligentes, com vontade própria, que um dia poderão se rebelar contra a humanidade. Não acredito que arma de fogo será um dos seus diversos aplicativos de segurança. Não acredito que tudo que falamos nele será registrado em um enorme banco de dados gerido pelas potências mundiais, em parceria com as grandes corporações, onde serão arquivadas todas as nossas movimentações e preferências  – nem acredito que o cruzamento dessas informações ajudará a definir a estratégia de mercado para  determinados produtos, além de prevenir crimes, numa sociedade claramente inspirada em “Minority Report”. Não acredito que seremos conhecidos apenas por números, e que receberemos esse número ao nascermos, em hospitais e maternidades comandados pelas operadoras de telefonia.
          Não acredito em quase nada disso.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

MEUS FILMES PREFERIDOS (DOS MEUS CINEASTAS PREFERIDOS)

PEDRO ALMODÓVAR
Havia uma época, não muito distante, que citar Almodóvar era lugar-comum (talvez ainda seja), simbolizava um incontestável nível cultural, era atestado de bom gosto e sofisticação,  mesmo que, em certos casos, não ultrapassasse a superfície  de pessoas que queriam soar “descoladas”, “antenadas”, mas claramente desconheciam a filmografia do pop diretor espanhol. Durante algum tempo, então, legal era afirmar que odiava Almodóvar, feito o Smurf Ranzinza. Para evitar polêmicas, ou não ser confundido com a maioria, preferia não manifestar minha admiração – ficando essa informação restrita a um diminuto grupo de amigos. Agora, provavelmente, entusiasmado com A Pele que Habito, que mesmo não sendo tão bom quanto os filmes listados abaixo, consegue, ao menos, ser o seu trabalho mais interessante em quase dez anos (já que a sua melhor película nesse período pertence a Woody Allen).


MAUS HÁBITOS (Entre Tinieblas, 1983)
Após presenciar a morte do namorado, vitimado por uma overdose de heroína, uma jovem cantora de bolero, Yolanda Bell, busca refúgio no convento das “Redentoras Humilhadas”, onde a madre superiora é sua admiradora. O convento abriga ex-pecadoras que não abandonaram seus maus hábitos: Irmã Perdida (que cuida de “Bebê”, um tigre que vive no jardim), Irmã Víbora, Irmã Sórdida e Irmã Rata de Esgoto (que escreve romances pornôs sob pseudônimo). A madre superiora tenta superar a crise financeira do convento, e sua paixão não correspondida por Yolanda, traficando drogas da Tailândia. Não faltam humor negro e críticas a religião e a sociedade espanhola contemporânea.

QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO?  (¿Qué he hecho yo para merecer esto!!, 1984)
Para equilibrar o orçamento familiar, Gloria (Carmen Maura) é obrigada a trabalhar dezoito horas diariamente, se mantendo acordada com o auxílio de anfetaminas. Vivendo em um pequeno apartamento, num conjunto de prédios deteriorados da periferia de Madri, com seu marido infiel apaixonado por uma cantora alemã, a sogra sovina que tem um lagarto de estimação chamado “Dinheiro”, um filho traficante e o caçula homossexual que se prostitui (uma garota de programa, um policial impotente e uma criança paranormal completam o quadro de personagens excêntricos, mas extremamente humanos), ela encontrará apenas desalento, nessa trágica comédia da vida privada. 



A FLOR DO MEU SEGREDO (La Flor de mi secreto, 1995)
Leo Macias é uma romancista frustrada (Marisa Paredes em um dos melhores momentos de sua carreira), que obtém sucesso com romances adocicados, assinados ironicamente com o pseudônimo Amanda Gris. Em crise conjugal, ela se sente incapaz de continuar a produzir o tipo de literatura que sempre fez, passando a beber constantemente. Escapando das comédias absurdas e multicoloridas, Almodóvar inicia aqui o amadurecimento de sua obra, com temas mais sóbrios, tons mais escuros e o ritmo menos frenético. Curiosamente, o romance “Câmara Frigorífica”, citado na película, é uma espécie de protótipo do que seria “Volver”. O filme traz ainda Caetano Veloso interpretando “Tonada de Luna Llena”.



TUDO SOBRE MINHA MÃE (Todo sobre mi madre, 1999)
O maior êxito na carreira de Almodóvar (premiado como melhor diretor em Cannes, além de levar a estatueta do Oscar de melhor filme estrangeiro), narra a trajetória de Manuela (Cecilia Roth), que após doar os órgãos do filho, atropelado no dia do seu aniversário quando tentava ganhar um autógrafo da atriz Huma Rojo (Marisa Paredes), resolve retornar à Barcelona para reencontrar o pai do seu filho. No caminho, se depara com o travesti Agrado e uma jovem freira grávida e soropositiva, Rosa (Penélope Cruz). Repleto de referências, de “Um Bonde Chamado Desejo” a “Bette Davis, esse melodrama, onde a identidade sexual é bastante abordada, é, praticamente, uma unanimidade.



FALE COM ELA (Hable con Ella, 2002)
Benigno Martin (Javier Cámara) é o enfermeiro responsável por Alicia, uma bailarina que entrou em coma após uma acidente de carro. Benigno dispensa a ela excessivos cuidados, falando com Alicia o tempo inteiro, acreditando que ela possa ouvir. Na clínica onde trabalha, ele conhece Marco Zuluaga, um jornalista que acompanha a famosa toureira Lydia Gonzalez, também enferma. Os muitos flashbacks contará a história dessas mulheres.  Almodóvar, que sempre se caracterizou por uma filmografia excessivamente feminina, aqui presta uma especial atenção ao universo masculino. Mais um Oscar, desta vez por roteiro original. Caetano Veloso participa cantando “Cucurrucucu Paloma”  ("Este Caetano me há puesto los pelos de punta").




terça-feira, 1 de novembro de 2011

NO LAPA/BARRA

— Vai ter a gravação de um programa de axé no colégio.
— Tô sabendo, mas só poderão participar os alunos que têm as melhores notas.
— Muito injusto isso, nada a ver.
— Por que? Suas notas estão ruins?
— Também, mas a injustiça é que os alunos com as melhores notas não gostam de axé.



* Flashes cotidianos que não me incomodam, durante minhas viagens de buzu, afinal, nunca se sabe quando um Hitchcock poderá sentar-se ao seu lado;
** Na imagem, célebre aparição do diretor Alfred Hitchcok em “Ladrão de Casaca” (To Catch a Thief, 1955), ao lado do astro Cary Grant;
*** Buzu = Ônibus
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