Gosto das minhas cicatrizes, de quem não me entende, de quem acha que me entende. Gosto do meu passado, até quando ele me condena. Gosto de quem me intimida, de descer do salto, de andar descalço, de saudar o inverno. Gosto dos mitos, dos boatos, dos rumores.
Quem me vê por fora nem imagina o quanto sou profundo. Quem me vê por dentro sequer desconfia o quanto sou raso. Gosto da dúvida, da contradição.
Eu não sou nada, eu não sou ninguém, essa constatação me permite ser tudo, ser todos. Sem máscaras, apenas sendo eu mesmo, em meu melhor papel.
Alguém me disse, recentemente, que o que mais o atrai no local onde mora são os carimbos, os rótulos. Os epítetos que se distribuem em qualquer cidade do interior e que são carregados com desvelado orgulho, algo como “Não Sei Quem do Bar da Esquina”, “Fulano, mecânico”, “Beltrano de Dona Zizinha”. Alguns, é verdade, nem tão lisonjeiros assim, mas omito os exemplos. Esse tipo de identificação nunca me seduziu, e se me orgulho é por ser, exatamente, inclassificável.
Gosto do silêncio das capitais, de ser mais um na multidão, mais um retalho na colcha.
Gosto dos versos que começam com “sou”, mas que pouco explicam – e na maioria das vezes confundem. Gosto das reticências...