Minha inocência talvez tenha sido o bem mais valioso que perdi, depois que me mudei para a capital. Gradativamente, fui deixando de enxergar em mim aquele menino do interior. E por mais que eu o procure – num canto da sala, em algum canto dos olhos –, sei que jamais o reencontrarei. A inocência é irrecuperável, alguém já me disse.
Na canção “Cavalo de Pau”, de Alceu Valença, gravada no disco homônimo de 1982, essa perda é representada pelo cavalo de brinquedo que torna-se arisco, indomável, feito o tempo ou o vento. O onirismo da letra ganha mais força com o arranjo seco, sutil, que está mais para o rock do que para os ritmos regionais tão atrelados ao nome do autor, e que perfeitamente encaixa na visceralidade final da interpretação.
Provavelmente, buscar minha inocência seja mesmo um exercício inútil. Mas continuarei procurando.
CAVALO DE PAU
(Alceu Valença/ Dominguinhos)
De puro éter assoprava o vento
formando ondas pelo milharal
teu pelo claro boneca dourada
meu pelo escuro cavalo-de-pau.
Cavalo doido por onde trafegas
depois que eu vim parar na capital?
Me derrubaste como quem me nega
cavalo doido, cavalo-de-pau.
Cavalo doido em sonho me levas
teu nome é tempo, vento, vendaval
me derrubaste como quem me nega
cavalo doido, cavalo-de-pau.
Parodiando Raul Seixas: é preciso ser criança pra poder dançar ciranda.
ResponderExcluirNão acredito na recuperação da inocência, mas o ato de seguir buscando a inocência perdida é inocente e quem pratica atos inocentes talvez nunca tenha perdido a inocência completamente.
ResponderExcluirAdoro Alceu Valença, como diz um amigo meu, acho que ele nunca gravou uma música ruim.
Bjs
Lúcia
Também sou uma menina do interior que veio para a capital.
ResponderExcluirVocê me fez refletir sobre essa tensão afetiva que perpassa a nossa cultura nordestina (de outras regiões também, mas ultimamente tenho refletido sobre o nordeste do Brasil, especificamente).
Um abraço.
Saudosista...
ResponderExcluirHÁ QUE SE CARREGAR AO MENOS NOS OLHOS ALGUMA CERTEZA DE INOCÊNCIA.
ResponderExcluirÉ bem assim como diz o teu texto. Sabemos que é perdida, mas sonhamos com o irrecuperável. Levemente nostálgico, mas tão real...
ResponderExcluirgrande abraço
E eu, na qualidade de "menina" do interior que segue vivendo no interior, posso dizer que nem ele é mais o mesmo, mas longe de compará-lo à inercia epiléptica das cidades grandes, a qual me desespera se/quando a sinto...
ResponderExcluirE por que não reinventar a inocencia? Eu, pelo menos, venho tentando... mas meu institnto barroco, às vzs, me faz ir contra a maré! Rsrsrsrs...
Bela canção, alceuziho eh show!
^^
Bonito.
ResponderExcluirAcho que ainda possuo alguma inocência.
Não acho que ela se perca de uma vez. Mas a gente nunca tem consciência da ingenuidade que ainda possuímos até perdê-la.
menino ,lembrei da minha infância,era a trilha sonora dos meus passeios por são Braz na casa de seu Barreto.Meu pai não tirava do toca fita da kombi azul,foi com ele q me apaixonei por Alceu,lembro q todas as casas dos q se achamvam super bacanas em Santo Amaro tinha o disco Cavalo de Pau.Boas lembraças,mas do q belos tempos inocentes !
ResponderExcluirHerculano,
ResponderExcluirSe a inocência não, ao menos um pedaço da infância tive de volta agora, quando ouvia muito Alceu e seus ventos e vendavais...
Abraço menino,
Pedro Ramúcio.
Não conhecia a musica...
ResponderExcluirMuito legal mesmo.
Ja vinha pensando no assunto esses dias, suas linhas era apenas o que faltava para eu mesmo escrever algo nesse sentido. ^^
http://codignolle.blogspot.com/2010/08/oceano-de-mentiras-bolhas-em-extincao.html
Abraço o/
ainda acredito que a busca pela inocência é o próprio ato inocente.
ResponderExcluiracostumada a ouvir outras coisas, tanto do Alceu como de Dominguinhos, essa música me foi uma boa surpresa.
gostei como a um achado.
Herculano,
ResponderExcluirO próprio amadurecimento trinca a infância, por questões óbvias, as inúmeras experiências que passamos, o enfrentamento do mundo, mas na tentativa de acharmos essa inocência, sempre acabamos tocando-a, nem que seja com as pontas dos dedos ou quem sabe, com um olhar de fé.
Adorei seu post.
Bj
Sabe que estou fora do interior desde a minha adolescência, já dei com a cara na parede um monte de vezes, já me estatelei em mim mesma outras tantas a ainda assim não perdi a tal da minha inocência?
ResponderExcluirbjs.
BF
Não tem como ficarmos passiveis com o passar do tempo, pois com isto acabamos ficando mais sabios pelos as dores e menos esperançosos...
ResponderExcluirMas é possivel tentar retonar parte desta esperança infantil, desde que nunca fiquemos com medo do que a vida nos apresenta.
Fique com Deus, menino Herculano.
Um abraço.
Acredito que só perde a inocência quem se perde de si mesmo, caso contrário, ela continua a viver em nós, talvez um pouco escondida, mas com os olhos de dentro conseguimos vê-la nitidamente. A criança que temos dentro de nós nunca morre, só que alguns esquecem dela.
ResponderExcluirBeijos!
Inocência nunca se perde por completo. Também adoro Alceu Valença.
ResponderExcluirBacana seu blog.
Um abraço.
gosto desses escritos que entrelaçam alguma forma artística.
ResponderExcluirem outras músicas haverás de encontrar inocência que te foi. ou que se escondeu de ti.
abraços.
Também como interiorana que caiu na capital, acredito que fica sempre um quê de inocência,sim, que se mistura às cores da cidade, mas não se perde não.
ResponderExcluirBeijos,
eu acredito que a inocência se recupera sim, não como quando eramos crianças, isso só serve pras criancinhas mesmo, mas algo maduro como em forma de amizade sem interesse, abraço sem segunda intenção, ajuda voluntária sem que ninguém pessa, essas coisas...
ResponderExcluirHerculano, esse foi o bem mais precioso que também perdi. Sobrevivo às catástrofes humanas e adultas, tentando inventar um olhar de inocência, e quase sempre saio frustrada, porque o ceticismo, é tão amargo. Esse olhar real sobre o real (?), é tão absurdamente real (?).
ResponderExcluirVivi em algumas capitais, engoli um mundo, e fui engolida por muitos, e em alguns mundos, revia-me ingenua, com esse olhar perdido já há muito...
"teu nome é tempo, vento, vendaval/me derrubaste como quem me nega..."
Esse tempo que não nos perdoa...
O tempo passa e a lucidez nos tira boa parte da inocência, mas ainda acho que carrego muito da menina que fui um dia. Abraços.
ResponderExcluirHá algo da criança em nós... ao menos uma parte da inocência ainda resta. A inocência de se apaixonar, po exemplo, é algo que está sempre presente. Por mais que digamos que não, sempre há uma esperança inocente rondando nossos desejos.
ResponderExcluirCarinho no poeta!
"tudo vale a pena se a alma não é pequena"
ResponderExcluirbeijos!
Um dos meus últimos textos no blog foi exatamente isso. O ex sou eu, minha inocência e com ela minha alegria q agora é muito diferente. Nitidamente diferente.
ResponderExcluirA inocência é algo mágico, mas, que tem seu tempo certo de existir. bjs
ResponderExcluirMuito legal o seu blog. Um espaço muito bacana que com certeza vou visitar mais vezes.
ResponderExcluirAline Calamara
Http://prosadejanela.blogspot.com
lembrei da contraculura que andava por aí tocando esta canção de transformação
ResponderExcluirTambém acredito que a inocência seja irrecuperável.
ResponderExcluirQue pena, não é mesmo? Que pena...
A nostalgia faz um bem pra alma...
ResponderExcluirparabéns pelo comentário à respeito da música
Perfeiro texto
ResponderExcluirbjs
Insana
Pouxa que lindo, me fez ter saudades de um tempo que não volta mais... Beijos...
ResponderExcluirMeu interior. Meu interior. Aqui jaz, em mim.
ResponderExcluirAbraço, Herculano.
Pavement? Juro que não me lembro muito dessa banda... Blur é legal, mas essa coisa de mixagem conta muito nos álbuns de estudio, o que nesse caso, achei que piorou.
ResponderExcluirAbraço
ps: Vou aproveirar a visitinha pra ouvir a música de novo, ela entra na mente fácil...
:*
"Cavalo doido em sonho me levas
ResponderExcluirteu nome é tempo, vento, vendaval..."
Acho que perder a inocência é quase inevitável quando se cresce. Perdemos boa parte da credulidade diante das coisas, tudo passa tão mais rápido e talvez, por isso, duvidemos mais daquilo que vemos e sentimos.
Alceu é massa demais!!!
Beijos...
Seu Alceu e o meu se encontraram no estranhamento da cidade grande. Eu, recém-chegada ao Rio, sozinha num show em plena praia de Copacabana para ouvir Alceu e o sotaque da minha terra. Milhares de vozes cantando "A solidão é fera / Solidão devora". E por serem milhares de vozes e nenhuma cantar para mim, a solidão espessada amordaçava os versos em mim. De mim não saía palavra. Era uma sala de espelhos. Refletíamo-nos sem nos ver. Todos estávamos sós. Eu mais só dentre todos. A música falava pra mim.
ResponderExcluirPosso está enganado, mas, inocência ao meu ver é coisa de criança.Coisa essa que perdemos quando ingressamos no mundo dos adultos.( Mundo esse de mentiras, hipocrisias e dissimulações. ) Eu entendo muito bem o que o Herculano quis dizer. Eu penso que inocência tem a ver com índole, E isso, não se perde em nenhuma cidade seja ela pequena ou grande.O que não podemos é nos perder do " menino " que há em nós. ( Como o próprio Alceu fala nos versos de Maria sente. ) Se você não tem maldade e nem preconceito para com as pessoas eu penso que você é meio inocente.E pra encerrar o assunto vamos com mais uma de Alceu. Sim vai pra toda essa gente ruim / meu desprezo e será sempre assim / já não temos nenhuma ilusão / Desprezo.
ResponderExcluirpau de cavalo
ResponderExcluirPau de cavalo funciona
Pau de cavalo cápsula
Muito massa essa letra faz lembrar minha infância e adolescência, Alceu é mesmo um grande músico a nível nacional e internacional.
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