quinta-feira, 30 de agosto de 2012

MEU NOME É CHICO BENTO, SÔ

Em 2011, para comemorar os 500 longa-metragens patrocinados pela Petrobrás, a  equipe de Maurício de Sousa foi convidada para fazer um crossover entre os personagens da Turma da Mônica e alguns dos maiores sucessos do cinema brasileiro, como "O Homem que Copiava", "Tropa de Elite" e "Se eu Fosse Você". Para "Cidade de Deus" foi reservado Chico Bento, e a escolha não poderia ter sido melhor. Marco do cinema nacional, com quatro indicações ao Oscar (roteiro, direção, fotografia e montagem), "Cidade de Deus" estreou no dia 31 de agosto de 2002. Dez anos depois, o cinema feito no Brasil continua com as mesmas, e piores, dificuldades, e sem ter produzido outro trabalho tão significativo. Um documentário, uma HQ e um musical fazem parte das homenagens ao filme de Fernando Meirelles em 2012.

domingo, 26 de agosto de 2012

DRIVE

    Veio numa caixa não muito maior que os volumes de enciclopédia enfileirados em prateleira na sala de visitas atrás das estátuas de anjos e peixes. Como uma coisa daquelas poderia caber ali? Uma mesa? Uma mesa de canto, dizia o anúncio, confeccionada por um dos mais premiados designers norte-americanos. Requer montagem.
     Chegou ao meio-dia. A mãe ficou muito empolgada. “Vamos esperar para abri-la depois do almoço”, disse ela.
    Ela pedira a mesa pelo correio. Ele se lembrava de ter ficado impressionado com isso. Será que o carteiro tocaria a campainha e, quando a mãe abrisse a porta, ele estaria ali com a mesa nas mãos? “Sua mesa”, madame. Você faz um círculo, escreve um número num pedaço de papel, anexa um cheque e pronto! Uma mesa aparece na sua porta. Tudo isso já é mágico o bastante. Mas ela também vem numa caixinha de nada dessas?
    Memórias mais antigas de sua mãe quando ele era criança afloravam ocasionalmente nas horas que antecediam o amanhecer. Ele acordava com as memórias alojadas na mente, embora, nos momentos em que tentava se lembrar delas de maneira consciente, ou expressá-las, elas desaparecessem.
     Ele tinha o quê? Nove, dez anos? Sentado à mesa da cozinha, ele devorava um sanduíche enquanto a mãe tamborilava os dedos na bancada.
     “Terminou?”, ela perguntou.
     Ele não terminara, ainda tinha metade do sanduíche no prato e estava faminto, mas assentiu. Sempre concordar. Essa era a primeira regra.
     “Então vamos dar uma olhada”. Ela golpeou com um cutelo numa das extremidades da caixa para abri-la.
     Foi colocando as peças no chão com todo o carinho. Que quebra-cabeças impossível! Pedaços de metal barato contorcido e tubos, chavetas e saquinhos com parafusos e outras peças.
     Os olhos da mãe retornavam à folha de instruções e, passo a passo, peça a peça, ela montou a mesa. No momento em que as tarraxas dos pés foram encaixadas e as metades inferiores das pernas foram colocadas no lugar, a expressão no rosto da mãe, a qual ele estava ainda mais atento, passou de feliz a intrigada. Enquanto ela unia as partes superiores das pernas, os apoios de sustentação e os parafusos, a expressão se tornava triste. Aquele prospecto de tristeza se espalhava por todo o seu corpo, tomava conta da sala.
     Preste bastante atenção: esta é a segunda regra.
     A mãe ergueu o tampo da mesa do fundo da caixa e ajustou-o no lugar.
     Uma coisa horrorosa, de aparência barata, instável.
     A sala e o mundo ficaram muito quietos. Ambos silenciaram por um longo tempo.
     “Eu simplesmente não entendo”, a mãe disse.
     Ela se sentou no chão, imóvel, alicates e chaves de fenda espalhados a seu redor. Lágrimas jorravam de seu rosto.
     “Parecia tão lindo no catálogo. Tão lindo. Bem diferente dessa coisa”.



Não costumo postar nada que eu não tenha escrito, aliás isso faz parte DAS COISAS QUE EU ODEIO EM BLOGUES, mas após reler algumas vezes o capítulo vinte e cinco (texto acima) do irregular best-seller de James Sallis, que deu origem ao filme homônimo estrelado por Ryan Gosling, não resisti, talvez porque seja o melhor momento do livro, talvez porque a estrutura se assemelhe a um conto, talvez porque eu tenha me identificado com a prosaica lembrança da infância, talvez porque eu tenha ficado com inveja.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

NELSON

Para quem dizia que toda unanimidade é burra, 
não deixa de ser irônico que o tempo o tenha transformado em uma.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

PODERIAM SER CRÔNICAS, MAS SÃO APENAS NOTAS

(*) Não acompanho novelas, mas sei que há muito tempo elas não tinham tanta evidência. Constatei isso pelo número de matérias nas revistas semanais (inclusive capas) e pelas conversas que inevitavelmente escuto no elevador. Para quem me pergunta se vi as previsíveis revelações da noite passada, quando estou com paciência, costumo responder que dois capítulos de uma novela equivalem à duração média de um longa-metragem, ainda assim morrerei sem assistir à metade dos filmes que desejo. Melhor seria morrer, mas ter visto uma novela inteira?

(*) Não acompanho novelas, mas elas me acompanham. A filha recém-nascida de um colega de trabalho foi batizada com o nome de uma personagem do folhetim das 21 horas, pela festividade das pessoas que receberam a notícia comigo, deduzi que a tal personagem deve ser realmente muito popular, uma  heroína moderna. No meu caminho, ainda me deparo com as roupas, gírias, cortes de cabelos e músicas da novela do momento – até ela acabar e começar outra nova-novela-do-momento.

(*) Não acompanho novelas ou séries, mas não abro mão das reprises dos Simpsons, principalmente os episódios em que Nelson e Milhouse têm destaque. De alguma forma, inexplicavelmente antagônica, me identifico com as agruras de um pseudonerd ingênuo e apaixonado e com o delinquente juvenil, filho de uma prostituta relapsa, que humilha os meninos menores e mais fracos.

(*) Não acompanho novelas, mas acompanho blogues. Recentemente, li em um que “alternativa a gente não impõe, oferece”. Quando estou em uma residência em que eu não sou o dono do controle-remoto e alguém decide mudar de canal para “dar uma passadinha na novela”, olho a tela e nada vejo. “Você pode levar um cavalo até à água, mas não pode obrigá-lo a beber”.

(*) A seguir, cenas da próxima postagem... Ops! Acho que os capítulos hoje em dia terminam de maneira mas estilizada, com frames congelados, fade-out, animações... Se você for do tempo do “a seguir cenas do próximo capítulo”, definitivamente, está ficando velho.

(*) Poderiam ser crônicas, mas são apenas anúncios de acompanhante.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

RODRIGO


Quando minha mãe chama: “Digo
Vou brincando
Vou feliz
Pois eu sei que sou querido

Quando meu pai chama: “Digão
Vou correndo
Vou sem medo
Pois eu sei que é diversão

Mas quando um dos dois grita:
RO-DRI-GO
Fico quieto, nada digo
Pois eu sei que é perigo

(Trecho do livro infantil inédito 
UM MENINO CHAMADO RODRIGO)

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

JORGE

      Há algum tempo, encontrei em um sebo de Salvador algumas edições de Jorge Amado devidamente autografadas, provavelmente vendidas por algum familiar que herdou a biblioteca, mas não enxergava naquele monte de livros utilidade, vai saber. O engraçado é que nem mesmo o esperto vendedor se deu conta de que aqueles rabiscos eram do próprio autor, em diferentes períodos, resultado: comprei cada um por cinco reais.
      Tenho uma espécie de fetiche por livros autografados para terceiros, para pessoas que não conheci. Reservo uma prateleira especialmente para essas relíquias. Há quem diga que autógrafo só tem validade em um cheque, em uma nota promissória. Outros, dizem que autografar estraga o livro, a capa do disco, e ficam chateados quando são presenteados com um livro “riscado”.
      Será que quando eu for apenas uma fotografia post mortem, quando eu deixar de existir que nem a Bahia de Jorge Amado, a minha coleção irá parar em algum sebo por cinco reais cada?

terça-feira, 7 de agosto de 2012

EMANUEL

        Depois de ler uma matéria no jornal (sim, ainda leio jornais de papel) com todo clima de celebração em torno dos setenta anos de Caetano Veloso, decidi não reavaliar a obra do cara, mas tentar organizar meus velhos discos. No entanto, cada capa, cada dedicatória, trazia uma história para revisitar. No final, acabei mais bagunçando do que arrumando.      
      Ser conterrâneo de Caetano Veloso, ao contrário do que pode aparentar, não é fácil, principalmente quando você se encontra fora do seu torrão. Quando digo que sou de Santo Amaro, quase que consigo escutar o pensamento do meu interlocutor: “Meu Deus, outro que pensa que é artista”. Mas essa lógica-preconceituosa-de-botequim não é problema, pior é ter que prestar contas de cada declaração polêmica ou regravação de axé ou funk-carioca, como se fosse eu o culpado (quem é santoamarense sabe o que estou falando). 
        


Acima, a ótima versão da banda de indie rock inglesa MAGIC NUMBERS  para o clássico "You Don’t Know Me", 
faixa do disco "A Tribute to Caetano"
      

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

OS OLHOS DA RUA

FOTOGRAFIAS Herculano Neto  
(julho 2012)
SOB O CÉU DE SANTO AMARO as ruínas da antiga siderúrgica Trzan
(manhã de 29 de julho de 2012)


CARETAS DE ACUPE
Não, não são doces ou travessuras, trata-se de uma manifestação cultural de Acupe, distrito de Santo Amaro, que celebra a Independência da Bahia. Com fantasias artesanais assustam e divertem durante os domingos de julho.


DINHO FAGUNDES E AS CARETAS DE ACUPE
Não confunda com nenhuma contracapa de disco de rock nem revival de Thriller, na cena, aparentemente programada, apenas o amigo santoamarense Dinho Fagundes, sem se dar conta da aproximação das Caretas de Acupe.
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