Recebi uma ligação de Capitu ontem à tarde, enquanto eu tentava acordar. Ela fez aquele típico suspense, meio infantil, de “adivinha quem é”, mesmo sem eu me importar e já desconfiando quem poderia ser. Depois de se identificar ela quis saber se eu estava surpresa, respondi que não. Há muito tempo que nada nessa vida me surpreende, muito menos uma ligação – mas não lhe disse isso. Capitu achou estranho eu não ter feito nenhum comentário a respeito do seu nome quando nos conhecemos, ainda assim ela destrinchou uma explicação que deveria utilizar frequentemente: que não se chamava Capitu, muito menos Capitolina, como a enigmática criação machadiana; que se chamava Lilian, ou Lídia, não me recordo exatamente; que recebeu o apelido de uma colega quando chegou com ressaca aos catorze anos durante uma aula de literatura; que achou “da hora” e resolveu adotar a alcunha oficialmente com uma tatuagem na altura do cóccix no ano seguinte; que as únicas pessoas que a chamavam pelo seu próprio nome eram atendentes de telemarketing e gerentes de banco... Se dependesse do seu frenesi, e dos bônus fornecidos pela sua operadora de telefonia, ela continuaria falando muito mais, porém interrompi seu entusiasmo com uma desculpa qualquer, pouco convincente. Antes de desligar ela quis marcar um encontro, “um drinque apenas”, alegou que eu estava devendo. Prometi que ligaria outra hora.