Acabei de completar vinte anos de serviço público – não, não confunda com alguma notificação do feicebuque informando os aniversariantes do dia, a última coisa que precisaria agora seria um parabéns genérico. Duas décadas realizando as mesmíssimas funções de escritório não merece felicitações. Quando comecei, no verão de 2003, imaginava que seria temporário, que estava simplesmente passando uma chuva, que aquilo definitivamente não era para mim. Com a mala carregada de quimeras aos poucos fui descarregando o peso dos meus sonhos pelo caminho e não muito, ou quase nada, sobrou. De repente, talvez não tão de repente assim, deixei os receios, as obrigações e os cansaços ocuparem cada vez mais os espaços da minha existência. Nos últimos anos, sem ter que viver duas vidas no mesmo dia (o personagem servidor X personagem escritor) devido ao lockdown imposto pela pandemia, me dei conta que o meu expediente nunca foi divertido como um episódio de The Office, apenas angustiante como uma temporada de Ruptura.