Tenho o hábito de começar a leitura dos jornais a partir dos segundos cadernos, mesmo que as notícias culturais não mereçam ultimamente tanto privilégio, assim como leio as revistas semanais sempre do final para o início, quase como um mangá. Uma nota chamou minha atenção recentemente, antes até de ler a tira do Dilbert: TRIBUTO AO PINK FLOYD EM SALVADOR. Não nego meu entusiasmo ainda no título, afinal o Pink Floyd, ao lado do Led Zeppelin e do Black Sabbath, formava a santíssima trindade da minha inquietude, seres acima do bem e do mal, que encerravam discussões. Porém, ao continuar a leitura meu entusiasmo se transformou em estupefação, que passou para incredulidade e culminou numa gargalhada de incomodar vizinhança quando descobri que o show seria com os vocalistas das bandas Eva, Asa de Águia, mais o repaginado Luiz Caldas. Não era primeiro de abril, homônimos nem brincadeira de programa de tv. Era show com hora e data marcadas, ingresso pago e divulgação. Ainda com o jornal nas mãos liguei para uma amiga e contei a novidade em tom de galhofa, apenas pra animar o domingo. Ela me repreendeu dizendo que eu estava sendo muito cruel, que eles poderiam ter o mesmo passado rocker que eu tive e que antes de conceber minha sentença definitiva deveria dar um pouco de crédito aos músicos baianos, o que me fez, glup, abaixar a cabeça e escantear o preconceito. Mas ao imaginar Durval Lelys, com a aba do boné virada para trás no melhor estilo Sérgio Mallandro, tentando cantar um clássico do calibre de “Wish You Were Here” com direito a “quero ver as mãozinhas galera” um riso sórdido inevitavelmente encontra um canto de boca.