quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

COSTAS NUAS

costas nuas
(Herculano Neto)

o longo vermelho
frente única
não esconde a tristeza
da moça que retoca a maquiagem

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

ZELDA SCOTT SEM TARJA PRETA

O meu dia poderia começar, ao menos uma vez, com um bom riff de guitarra, feito o de “Say What You Will”, da esquecida banda Fastway. Poderia haver também um narrador questionando meus passos, tecendo suas considerações sobre mim, não pragmático como o de “Mais Estranho que a Ficção”, mas descontraído como o DJ Black Boy. Ao invés da assepsia de lobos e vampiros que aceito sem reclamar na fila das matinês eu poderia ser estagiário no “Correio do Crepúsculo”, ter um chefe que coloca sapatos no pé da letra e uma amiga na crista da onda igual a Ronalda Cristina - e não um card repetido do Cristiano Ronaldo. Só não queria ter duas namoradas, para mim bastaria que o roteirista fosse mais bacana e colocasse na minha praia uma Zelda Scott sem tarja preta.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

CINEMA DE GRAÇA

 


Em 2008 fui premiado pela Fundação Casa de Jorge Amado, em Salvador, com a publicação do livro de poesias chamado CINEMA. Na época ganhei mais tapinhas nas costas do que leitores de fato, afinal não é oferecida logística ao escritor, apenas festa; e não me interessa brincar de “celebridade”. A verdade é, como já me acostumei a repetir, que por não haver distribuição esse tipo de livro nasce e morre na noite de lançamento, depois o autor tem que peregrinar pelas livrarias com seu livro/prêmio embaixo do braço como se pedisse um favor. Alguns foram vendidos, outros tantos dei ou doei – me interessa ser lido e não dinheiro. “Não quero ser útil, quero ser utilizado”. Para quem não comprou ou ganhou o livro pode ser baixado gratuitamente, em PDF, no site do JORNAL DE POESIA.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

COMENTÁRIOS MODERADOS

          Recebo semanalmente a visita de um anônimo. Ele nunca falha, espalha seus comentários impertinentes pelas últimas postagens e retorna na semana seguinte. Nunca publico seus comentários levianos, principalmente por não ter assinatura, mas ele parece não se importar. Às vezes penso que ele não quer comentar, apenas se divertir (deve ser suficiente imaginar que leio suas mensagens). Contextualizado relevaria até alguém que usasse um pseudônimo, é um pouco romântico, mas anonimato não tolero. A maioria se vale dessa condição para ofender, menosprezar, maldizer, destilar seu rancor - e eu não posso ser cúmplice de atos infantis e covardes.
           A moderação desta página está ativada não para eu filtrar o que discordo, longe disso, mas para evitar inconvenientes - e também não quero ter o trabalho de apagar nada depois, até porque já pode ser tarde, vide o exemplo do blogueiro Emílio Moreno, e seu blog LIBERDADE DIGITAL, que em março de 2008 postou uma análise sobre uma briga que ocorreu numa escola particular na cidade de Fortaleza. A postagem recebeu apenas um comentário, único, porém ofendia a diretora da escola onde aconteceu a confusão, o que bastou para o dono do blog ser acionado na Justiça e condenado a indenizar a diretora em dezesseis mil reais por danos morais, tudo por causa do veneno de um anônimo.
           Os comentários não são como anúncios de bebida alcoólica, não posso pedir aos internautas algo como “comente com moderação”. O comentário é uma opinião livre, salutar, que é tão lido quanto o texto principal, não pode servir de mural de recados nem de munição oportunista para francos atiradores. Já o comentário do comentário é mais do que metalinguagem, é a expansão do debate, é quando todos saem ganhando.
           A última mensagem do anônimo foi: “Obrigado, por jamais aceitar meus comentários”. Não posso negar que senti um pouco de piedade dessa figura solitária, carente, medrosa, sem nome e sem rosto, entristecida por minha indiferença no computador escanteado de alguma lan house. Agora ele tem mais do que um comentário publicado.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

PRIMEIRO PERSONAGEM GAY DE MAURICIO DE SOUSA

          Independentemente de teorias mirabolantes e mensagens subliminares, sempre considerei, dentro dos quadrinhos produzidos por Maurício de Sousa, a “Turma da Tina” como a primeira, e verdadeira, “Turma da Mônica Jovem” - embora apenas recentemente tenha ganhado sua própria revista. Tina é sem dúvida sua personagem mais antenada com a juventude, surgiu em 1964 com visual hippie e foi se moldando às atualidades, hoje faz faculdade de jornalismo e tem um blog, mas tudo com o humor leve característico de seu criador.
           Maurício de Sousa, que foi muito criticado durante os anos da ditadura por se manter à margem do cenário político, diferentemente do argentino Quino e sua personagem Mafalda, demonstrou estar interessado nos novos tempos e na mudança de costumes ao nos apresentar Caio, na sexta edição da revista da Tina, seu primeiro personagem gay. Caio em latim quer dizer “alegre” e aparece como o melhor amigo de Tina já na capa da publicação. Maurício de Sousa, sem soar panfletário, polêmico ou oportunista, dá um passo importante na luta contra a intolerância e o preconceito ao abordar com naturalidade a diversidade sexual.
           O nonsense dos planos infalíveis é certeza de diversão, mas no momento em que os tribunais brasileiros legitimam seguidamente relações homoafetivas, permitindo que as crianças tenham em seus documentos o nome de duas mães ou dois pais, temas como gravidez na adolescência, drogas, violência urbana e aliciamento virtual não podem habitar um universo paralelo.
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