Há um mosquito insolente na minha perna. Acho que ele não se dá conta que um tapa é suficiente para o fim - mas não faço isso. Sei que não é apenas ele quem quer o meu sangue.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
PICOS IV
quarta-feira, 26 de maio de 2010
PICOS III
terça-feira, 25 de maio de 2010
PICOS II
segunda-feira, 24 de maio de 2010
sexta-feira, 21 de maio de 2010
JUST LIKE HONEY
No filme ENCONTROS E DESENCONTROS (Lost in Translation, 2003), de Sofia Coppola, o ator Bob Harris (Bill Murray) se despede da jovem Charlotte (Scarlett Johansson) e lhe diz algo em seu ouvido que não sabemos exatamente o que é, embora sua expressão sugira para todos o que sente. Ao se afastar ele esboça não um sorriso de esperança, mas de inevitável resignação. Da janela do carro ele se despede, também, de uma Tóquio quase alienígena, enquanto ver surgir as primeiras luzes da metrópole. Paralelamente, escutamos os acordes iniciais de “Just Like Honey”, que se estenderá pelos créditos e dará ao público a mesma sensação de impotência e impossibilidade do protagonista. “Just Like Honey” é a faixa que abre PSYCHOCANDY, álbum de estreia da banda escocesa THE JESUS AND MARY CHAIN, lançado em novembro de 1985, e é mais uma da série melhores canções do MEU mundo. Quando me sinto com as mãos atadas é como se escutasse ao fundo essa canção, e ultimamente tenho a escutado bastante - esperando me encontrar ou ser encontrado, tal qual a Senhorita B. Mas tudo é desencontro.
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segunda-feira, 17 de maio de 2010
PROFISSÃO: ESCRITOR
O apresentador Serginho Groisman, recentemente em seu programa, ao receber um livro de um convidado indagou:
- E além de escrever você faz o quê?
A pergunta não causou estranhamento, soou com naturalidade tanto para a plateia quanto para o entrevistado (que não se constrangeu ao dizer sua formação). No entanto foi o suficiente para afugentar o que ainda me restava de sono. Fiquei a pensar que a pergunta, apesar da aparência, não era corriqueira nem simplista. Era emblemática. Carregava uma série de preconceitos e descasos culturais históricos. Se o convidado fosse um filatelista, adestrador, exorcista, deputado, surfista, luthier, enxadrista, enófilo ou uma celebridade instantânea não haveria nenhum tipo de questionamento. Tudo por aqui é plausível, menos escrever. Num país onde quase não se lê escrever é encarado como um hobby, uma desocupação; é praticamente uma excentricidade. Lamentável que formadores de opinião também tenham essa opinião (melhor que o epíteto do programa fosse “vida conveniente na madrugada”). Escritor no Brasil não é profissão, eu sei - é qualidade.
- E além de escrever você faz o quê?
A pergunta não causou estranhamento, soou com naturalidade tanto para a plateia quanto para o entrevistado (que não se constrangeu ao dizer sua formação). No entanto foi o suficiente para afugentar o que ainda me restava de sono. Fiquei a pensar que a pergunta, apesar da aparência, não era corriqueira nem simplista. Era emblemática. Carregava uma série de preconceitos e descasos culturais históricos. Se o convidado fosse um filatelista, adestrador, exorcista, deputado, surfista, luthier, enxadrista, enófilo ou uma celebridade instantânea não haveria nenhum tipo de questionamento. Tudo por aqui é plausível, menos escrever. Num país onde quase não se lê escrever é encarado como um hobby, uma desocupação; é praticamente uma excentricidade. Lamentável que formadores de opinião também tenham essa opinião (melhor que o epíteto do programa fosse “vida conveniente na madrugada”). Escritor no Brasil não é profissão, eu sei - é qualidade.
(Publicado no jornal A TARDE, Salvador_Ba, edição nº 33.275, ano 98, de 16/05/2010)
quinta-feira, 13 de maio de 2010
TIPOS BRASILEIROS
Tenho percebido ultimamente que o pseudointelectual, ou o intelectual de uma nota só, vem se tornando, gradativamente, um tipo brasileiro muito comum. Ele aparece quando menos se espera, principalmente em mesas de bar, em cafés e em coquetéis. Com seu ar blasé, de superior indiferença, o pseudointelectual escuta pacientemente o assunto em baila para, com a autoridade da última palavra, dar por encerrada a conversa utilizando sem pudor a tática do “antigamente era melhor”, que, com uma alteração aqui e outra ali serve para qualquer situação (“prefiro a formação original, gosto apenas dos primeiros livros, primeiros filmes, do primeiro disco”). E ainda por cima recebe em troca um uníssono “tem razão” (ou “com certeza”). Nesse ritmo, ele irá muito além do jardim.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
BATATA-QUENTE
BATATA-QUENTE*
(Herculano Neto)
(Herculano Neto)
Trago nos ombros o nome
que meu bisavô deu a meu avô
que meu avô deu a meu pai
que meu pai me deu
e que eu não tenho para quem dar.
*Poema do livro infantil, ainda inédito, A CASA DA ÁRVORE.
terça-feira, 4 de maio de 2010
TAJABONE
Uma mulher abandona Madri e segue rumo a Barcelona, instigada pelas anotações que o filho fez em um caderno intituladas “TUDO SOBRE MINHA MÃE”, no filme homônimo de Pedro Almodóvar. Ao vermos as primeiras imagens da cidade escutamos “Tajabone”, do cantor senegalês Ismäel Lo, cantada no dialeto Wolof. A canção simboliza mais do que a saudade, simboliza a ausência – que vai permear o restante da película -, e é mais uma das melhores canções do MEU mundo. Há algum tempo não moro com minha mãe, e sempre que retorno “Tajabone” acaba sendo não a trilha sonora ideal, mas a trilha sonora inevitável – principalmente quando adentro a cidade onde nasci e que não me reconhece mais. Acho que jamais saberei tudo sobre minha mãe (nem mesmo sei tudo sobre mim), melhor dessa maneira, o que me encanta é a surpresa, é a novidade a cada encontro. Também faço parte daquele grupo ranzinza que acredita que o dia das mães é todos os dias e que aquilo que tentam nos vender em maio não passa de estratégia de mercado. No entanto, não deixo de presenteá-la – por mais que ela repita todos os anos que não precisava.
Eu sei que precisava.
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