quarta-feira, 5 de outubro de 2022

SOCIAL DISTANCIAMENTO XXII

Diários da pandemia ou notas perdidas nas páginas ociosas de uma velha agenda

(Setembro, 2022)

Leio no subtítulo dessa coluna “diários da pandemia” e me pergunto se a pandemia de fato acabou, se devo mudar para “diários da pós-pandemia” ou se a pandemia que estamos vivenciando vai além do uso de máscaras e medidas de isolamento social. Com tanto retrocesso, proliferação de mentiras e a cultura do ódio saindo da comodidade da caixa de comentários para o que ainda entendemos como vida real, imagino que não exista vacinação que possa conter a barbárie humana. Vou me enganando e me resignando enquanto posso. Mantenho, cada vez mais, distância das pessoas, sorrio desconfiado e com evidente esforço (tento compensar cumprimentando com o punho cerrado na vã tentativa de parecer descolado e pouco tenso – não me importo se não obtiver sucesso). A verdade é que eu jamais simpatizei com beijos, abraços e apertos de mão, cumprimentar tocando as pessoas sempre foi, e até agora é, muito desconfortável (algo que anos de terapia não conseguiram resolver). No entanto, passar por antipático e mal educado é o que menos me importa no momento. Tenho medo que estejamos realmente em uma pandemia, que em algum momento eu seja contaminado e passe a propagar a ira pelos quatro cantos dessa tela. Vejo tantas criaturas que eu considerava inteligentes fazendo isso e questiono se logo eu, que nunca fui tão perspicaz assim, não poderia adoecer também e virar um nacionalista cafona que enxerga inimigos em qualquer trincheira. Se for mesmo uma pandemia, creio que esteja longe de encontrar um fim. 


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