segunda-feira, 30 de agosto de 2021

NO TOCA-FITAS DO MEU CARRO VII

Porque sou o meu próprio Mariozinho Rocha

Passei cinco anos sem atualizar meu blogue, nesse período o que não me deixava esquecer que ele existia eram as notificações, que de quando em vez chegavam, com novos comentários, principalmente na postagem AS PIORES CANÇÕES DE RAUL SEIXAS, até hoje minha publicação mais acessada. Em sua maioria eram comentários bélicos, como é de praxe na internet, que nunca me incomodaram de verdade, achava até engraçado. Pela seleção das músicas e textos informativos, acreditava que estaria evidente que a postagem só poderia ter sido realizada por um conhecedor e admirador da obra de Raulzito, mas nem todo mundo possui capacidade interpretativa mínima. Outras pessoas insistiam para que eu fizesse um contraponto listando as melhores na minha opinião, talvez para comparar com o seu próprio gosto ou apenas apontar que estava faltando ou sobrando algo. Enfim, resolvi selecionar onze faixas, das que estão disponíveis nesse momento no Spotify. Teria incluído, certamente, “Trifocal”, gravada por Tony & Frankye em 1971, com produção e uma participação inusitada do próprio Raul na gravação; além de “O Príncipe Valente”, gravada pela carioca Luiza Maria no álbum “Eu Queria Ser Um Anjo”, de 1975, parceria com Paulo Coelho. 

 


quarta-feira, 25 de agosto de 2021

CONTÉM SPOILER VII

Aquele filme que eu te falei

Devo ter assistido à Beleza Americana (American Beauty, 1999) no distante ano dois mil (ou talvez em dois mil e um) na solidão do meu antigo quarto em Santo Amaro da Purificação. É provável que aquele espectador imberbe não tivesse bagagem para perceber certos elementos apresentados, sendo mais fácil se deslumbrar com facilitações narrativas como uma sacola plástica levada pelo vento. Mas ao rever o filme agora, cerca de vinte anos depois, a forma como as mulheres são retratadas na película causou uma espécie de incômodo. A esposa neurótica e obsessiva que tenta escapar das suas frustrações profissionais em um caso extraconjugal, a adolescente desajustada e insatisfeita com o próprio corpo que cede ao assédio do vizinho esquisito, a Lolita sexy e ingênua idealizada pelo protagonista. Imagino que “Beleza Americana” não seja uma experiência tão confortável para a plateia feminina na atualidade, muito mais consciente do seu papel social, fazendo com que o filme não passe incólume pelo crivo do tempo.

 

terça-feira, 24 de agosto de 2021

CONTÉM SPOILER VI

Aquele filme que eu te falei 

 

Um militar colecionador de armas, violento, intolerante, conservador, simpatizante do nazismo e homofóbico. Esse é o Coronel Fitts, pai de Ricky, o cinegrafista traficante de “Beleza Americana” (American Beauty, 1999). Se a figura do coronel me parecia à época excessivamente caricata, embora servisse bem ao propósito da obra, hoje assemelha-se assustadoramente com a realidade. A artificialidade do sonho americano, a narração sarcástica de Lester Burnham (Kevin Spacey inspiradíssimo), o humor cínico do texto… Diversas eram as lembranças mais marcantes. Agora, ao reencontrar o filme, perdido no catálogo de um desses serviços de streaming, me chamou a atenção o aviso de Ricky a Lester para nunca subestimar o poder da negação. E é exatamente essa negação que vai desencadear a atitude de um reprimido Coronel Fitts, fechando o arco do defunto autor que afirmou no início da exibição que em menos de um ano (ou quase duas horas depois) estaria morto.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

SOCIAL DISTANCIAMENTO VI

Diários da pandemia ou notas perdidas nas páginas ociosas de uma velha agenda


(Novembro, 2020)

De quando em vez, reencontro algum conhecido que se perdeu no labirinto do tempo nesses desvios das chamadas redes sociais ou me deparo com alguém que admiro a espera de um simples clique para seguir. Termino não clicando. Meus perfis não possuem atividade, nada que posso oferecer em retribuição; também não costumo distribuir laiques ou comentários. Nem como voyeur eu sirvo. Tem dias que até sinto vontade de compartilhar qualquer coisa, nem que seja um efêmero “storie”, um trecho de livro que considerei pertinente, uma fotografia antiga da cidade das minhas infâncias, o sorriso do meu filho, uma canção… São tantas notícias ruins que se avolumam e se atropelam diariamente que publicar algo que não seja uma indignação vem carregado de um sentimento de culpa – a indiferença é praticamente um crime. Enquanto desisto de postar, um mero instante de tranquilidade sem aplausos, sem plateia, sem curtidas, sem julgamentos acontece no meu coração.



(Dezembro, 2020)

Nunca me despedi tanto de pessoas como nos últimos meses. O Brasil de Oswald de Andrade agora é mais do que uma simples frase de efeito, é realmente uma república federativa cheia de árvores (por enquanto) e gente dizendo adeus. 

 

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

VIRADA DE PÁGINA V

Papel jornal, couché, off-set, polén, reciclado, kindle ou pdf

Determinadas capas de revistas, principalmente dos anos de 1980, são extremamente afetivas para mim, me sensibilizo cada vez que as reencontro pelas avenidas e becos dessa cidade chamada internet. A maioria dessas edições chegavam às mãos da minha infância por meio de empréstimos, lia e relia o máximo que podia até o instante de devolvê-las – o que era sempre um momento doloroso. “Superaventuras Marvel”, “Disney Especial”, a minissérie “Guerras Secretas”, os diversos almanaques (minha preferência pelo custo-benefício), entre outras. No entanto, a que mais me marcou foi a edição nº 01 de Os Novos Titãs, publicada em formatinho pela Editora Abril em 1986; um mix que apresentava a origem do Cyborg e ainda trazia mais duas histórias do universo DC. Devo ter lido algumas dezenas de vezes – mesmo sendo frustrante chegar à última página e me deparar com um “não perca na próxima edição”, continuidade que desejava muito acompanhar, mas não consegui na época. Por algum desvio da memória, não consigo lembrar como obtive essa primeira publicação. Comprado ou ganhado são possibilidades remotas, o mais comum na época eram as permutas. Nenhuma revista tinha lugar cativo na coleção, a leitura de novos trabalhos era a prioridade. Apenas recentemente, voltei a ter contato com esse material através do ótimo encadernado “Lendas do Universo DC – Os Novos Titãs”. Porém o que eu queria realmente era aquela capa. 


quinta-feira, 5 de agosto de 2021

NO TOCA-FITAS DO MEU CARRO VI

Porque sou o meu próprio Mariozinho Rocha

 

Em 1971 Erasmo Carlos dava um passo em sua carreira que não teria mais volta, entre o ídolo juvenil com “fama de mau” a maldito da MPB setentista a distância era mínima e o risco, inevitável. A balada existencialista “É Preciso dar um jeito, meu amigo”, do álbum Carlos, Erasmo, é uma síntese daquele conturbado período no país. Acompanhado de músicos como o guitarrista Lanny Gordin e os mutantes Sérgio Dias, Liminha e Dinho, Erasmo deixava os anos de ingenuidade da década passada, definitivamente, para trás. Observando o Brasil de hoje, não menos sombrio do que aquele de 1971, “É preciso dar um jeito, meu amigo” soa quase como um apelo.

 

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