terça-feira, 25 de novembro de 2008

VICKY CRISTINA BARCELONA (2008)

Tenho uma camiseta branca com a imagem de Woody Allen estampada em silk screen – simples, casual e barata. Dizem que a roupa comunica, mas nunca quis nem pretendo dizer nada a ninguém com o que visto, no entanto sempre que ponho a “camisa de Woody Allen” inevitavelmente aparece alguém, estranho ou não, disposto a iniciar algum diálogo sobre o diretor, com comentários que vão dos seus filmes a detalhes excêntricos de sua vida que desconheço e prefiro continuar desconhecendo. Com a finalidade de fugir de embaraços e constrangimentos passei a usar a camiseta por baixo de uma velha jaqueta, que era estrategicamente fechada até o pescoço ao menor sinal de perigo; porém vivendo no calor de uma cidade como Salvador não fica difícil imaginar meu insucesso. Para me livrar desses interlocutores na fila de pagamento das Lojas Americanas ou na mesa do bar cunhei o pouco inspirado aforismo: É um Woody Allen menor - que dito com extrema indiferença ganha um poder irritante de fim de papo. Sendo um diretor com uma obra tão extensa é natural que haja momentos menos inspirados, o que não é nenhum demérito numa filmografia que inclui ANNIE HALL (1977), MEMÓRIAS (1980), HANNAH E SUAS IRMÃS (1986), CRIMES E PECADOS (1989), MARIDOS E ESPOSAS (1992) e MATCH POINT (2005); é possível que eu inclua em breve nessa lista VICKY CRISTINA BARCELONA (2008), que se não é excelente como apregoam por aí, também está longe da categoria “Woody Allen menor” – e que já é certamente a melhor película de Pedro Almodóvar dos últimos anos. Enquanto isso continuarei usando a camiseta sem receios, agora mais gasta e com uma pequena mancha de ferrugem na altura do umbigo.

“cinema”: takes em versos singelos de um diretor-poeta


por Marcelo Lima

           O Prêmio Braskem Cultura e Arte tem bastante importância para a literatura baiana. A cada ano, existe uma contribuição significativa para as letras baianas – muitas vezes voltadas para a polêmica do vencedor escolhido.
           Em 2007 podemos afirmar que, ao menos, um dos selecionados é um grande escritor. Como prêmio, Herculano Neto teve seu “cinema”, livro de poesias, publicado em 2008.
O comentário na contracapa do livro, retirado do prefácio do poeta Miguel Carneiro, diz que encontraremos “num grande travelling a paisagem do Recôncavo e cercanias, ora em grandes planos, ora em planos fechados no rosto de seus inúmeros anônimos”. É verdade que a poesia de Herculano Neto tem um sabor de paisagem do recôncavo: em versos como “ontem teve roda de samba/e fui pro samba quebrar”(p.111) essa aproximação é evidente. Como bom poeta, ele consegue preservar esse sabor do cenário sem prejudicar a leitura de interessados que não conhecem o ambiente. Até porque, ele extrapola os cenários para imagens que atiçam a imaginação e os afetos.
            As emoções provocadas pelas poesias herculeanas dizem respeito a um sentimento voltado para um ser individual que não se confunde com um egoísta individualismo: quando trata da morte, nada mais intersubjetivo do que “aqui jaz um homem medíocre/ um medíocre/ um insignificante/ um reles contador de histórias”(p. 83). É uma subjetividade completamente contagiada de valores reconhecíveis: angústia da morte, nostalgia da infância, os sonhos do amor romântico.
           Os títulos do poema e a estruturação do livro fazem referência à arte, ao produto cinematográfico e ao mercado que o envolve.
            Temos poesias entituladas “sala de arte”, “sinopse” e “isabela boscov não viu o meu documentário”, que funcionam como uma sugestão de sentido para a interpretação dos textos. Sabendo-se que Boscov é crítica de cinema da Revista Veja, podemos indagar o que Herculano tenta transmitir em “o reflexo tosco/ me diz sem escrúpulos/ que tenho prazo de validade/ e hora marcada para ser feliz”(p.55). Uma ironia com a crítica? Uma dedada na ferida de Boscov? Ou quem sabe um genuíno medo da desintegração inexorável a qual nós humanos seremos submetidos?
            Dividido em três partes: filmografia, curta-metragem e matinês. Essas partes, a meu ver, dialogam entre si como se não precisassem ser particionadas. No entanto, usar os três nomes aqui tem um efeito estético que se abre, novamente, a interpretações: são três substantivos distintos e fortes, que pela não-explicação e pelo remetimento aos títulos do livro e das poesias acabam por conformar uma procura por significação. Estive à procura dessa ligação e até o momento não consegui isolá-la de forma a atender todos os elementos contidos em cada uma. Poderia considerar arbitrário, mas o livro consegue ser tão coerente em sua unicidade que nada parece estar ao acaso.
           Os versos predominantemente livres de Herculano não dispensam o ritmo. Podemos notar uma cadência fluída por todos os textos, a exemplo do que vemos na poesia “o cantor de jazz”:

canto
por sina
desencargo de consciência
ócio
crença

canto
pelo aplauso
mesmo o mais automático
pela migalha
pelo bravíssimo

canto choro grito
me multiplico
me dispo
me confundo

canto
sozinho
pra ninguém
pra lua

canto
canto
canto

não há canção sem dor
(p.45)


            Não somente pela referência musical no título, mas pela própria oralidade e versos curtos, notamos a preocupação de fazer a poesia se manifestar numa correnteza forte e líquida ao mesmo tempo. Essa característica está presente em todas as poesias.
            Posso concluir, então, que o verso forte de Herculano nos convoca a visualizar sua poesia, como se fosse uma cena. Cena atrás de cena, amarrando profusões de imagens que se interligam numa não-narrativa que ainda assim faz algum sentido narrativo. Em seu fazer, mesmo evidenciando imagens humanas, Herculano tem o mérito de não mostrar a imagem óbvia e zelar pela capacidade imaginativa de seu leitor. Ele não espera uma passividade espectadora e sim uma emoção-resposta que jogue com sua poesia, com seu álbum de formas visuais e sonoras.
             Compre o livro, acomode-se bem em uma poltrona, mas não espere que imagens sejam projetadas numa telona, pois o projetor dessa obra é o próprio leitor.
 
RESENHA ORIGINALMENTE PUBLICADA NA VERBO 21:

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

GRITO DA TERRA (1964)

Helena Ignez e Lucy Carvalho em Grito da Terra (1964)

O filme GRITO DA TERRA (1964), de Olney São Paulo (1936-1978), natural de Riachão de Jacuípe, é um dos mais importantes trabalhos da cinematografia brasileira, filmado na região de Feira de Santana a trama gira em torno de duas personagens femininas: Loli (Lucy Carvalho), mulher sensual e perigosa, que quer sair do sertão para viver no sul do país e Mariá (Helena Ignez), uma típica camponesa que acredita na força do nordestino para enfrentar a seca e as pressões dos latifundiários. Relacionados ao universo destas personagens estão Geraldo (Raimundo Figueiredo), irmão de Loli e noivo de Mariá, um pobre vaqueiro que trabalha ao lado dos pais na lavoura; Sebastião (João de Sordi), amante de Loli, fazendeiro aspirante a coronel que, aos poucos, vai adquirindo as terras dos pequenos agricultores e o professor negro (Lídio Silva), que se esforça em conscientizar os camponeses de sua força e a necessidade do nordestino em aprender a ler, escrever e fazer valer os seus direitos. Por seu forte teor político sofreu cortes da Censura Federal.
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Para os amigos que sempre perguntam quem são aquelas mulheres na capa do meu livro.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

SINOPSE

sou feito de hipóteses:

a mais provável é a que
melhor me desmente

sou feito de equívocos
contradições
convicções
borboletas

sou vela acesa
na noite das angústias
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