Costumo dizer, aos meus amigos fotógrafos (profissionais, semi-profissionais ou de final de semana), que fotografar é fazer poesia sem papel e caneta. A francesa Irina Ionesco, uma das grandes damas da fotografia mundial, diz que a fotografia é “um elemento essencialmente poético”. Mas isso só descobri agora, após visitar sua exposição, ESPELHOS DE LUZ E SOMBRA, com trinta trabalhos assinados, analógicos e em p&b, feitos entre 1968 e 2006, sem nenhuma interferência digital, que está percorrendo o país.
Irina Ionesco nasceu em 1935, em Paris. Ainda adolescente iniciou sua trajetória de mulher-espetáculo: encantadora de serpentes, alvo vivo de um arremessador de facas, dançarina acrobática e contorcionista. Chegou à fotografia depois que um acidente a impossibilitou de continuar dançando. Realizou sua primeira exposição como fotógrafa em 1970, desenvolvendo uma das obras mais singulares da arte contemporânea, presente em importantes galerias de todo o mundo, além de ilustrar ensaios de moda. Seu universo barroco, onírico, nos transporta para um ambiente teatral, cinematográfico, onde a idealização de uma mulher mítica é quase sempre o centro.
Quando saí da exposição, e me deparei com o colorido cinza do centro da cidade, com sua gente cheia de pressa e medo, a vontade era que tudo fosse estático, insólito e em preto & branco; ao menos no meu caminho. Foi quando uma senhora, tentando abrir seu guarda-sol, se esbarrou em mim, e nem pediu desculpas.
JOCELYNE, 1974
EVA AUX ROSES, 1975
FEMME VOLANTE, 1988