Hoje pela manhã, um jovem casal discutia a relação dentro do ônibus. Por algum motivo que não sei precisar, um disse para o outro uma expressão popular que eu não escutava há anos: “Pare de me acompanhar que eu não sou novela”. Foi quando, percebi que quem acompanhava a discussão, como se fosse uma genuína telenovela, era eu. Não vejo novelas: considero-as chatas, previsíveis, repetitivas, canhestras. Além do que, dois capítulos equivalem à duração média de um longa-metragem — mesmo eu já tendo me convencido de que morrerei sem assistir a todos os filmes que eu gostaria, não posso me permitir esse luxo. Até já tentei acompanhar algumas séries que aparentavam ser interessantes, mas acabei desistindo antes do meio do caminho. Minha última tentativa foi com LOST: nunca fui um grande entusiasta das desventuras de Dr. Jack, Locke, Kate e Cia (a camisa pólo da Iniciativa DHARMA que ganhei no Natal, e que só usei uma vez para não “fazer desfeita”, não me contradiz), apenas queria saber como terminaria. Talvez por não ter expectativas, seu final não tenha me decepcionado.
O casal parou de brigar, agora quem dava as cartas era um silêncio constrangedor. Ainda assim, resolvi mudar de assento, dá play no meu genérico de iPod e folhear sem muita atenção uma revista semanal da semana passada (sempre leio esse tipo de revista de trás para frente, feito um mangá, apenas para apreciar as notícias culturais antes de qualquer outra página — embora, muitas vezes nem valha a pena). Enquanto soava os acordes iniciais de “Acabou Chorare”, li que a Playboy rescindiu o contrato de sua versão portuguesa, que durou pouco mais de um ano, por estampar em sua última capa a representação de Jesus Cristo com uma mulher seminua na cama. A intenção era homenagear José Saramago e criar polêmica, mas não conseguiu nem uma coisa nem outra. Juntamente com uma entrevista do escritor, foram publicadas outras fotografias, que fazem referência ao Evangelho Segundo Jesus Cristo. No entanto, Cristo é a última pessoa que alguém quer encontrar no pôster central da Playboy. Virando a página, descobri que Hollywood pretende refilmar o sueco DEIXE ELA ENTRAR, um dos melhores filmes de terror que já vi — que traz vampiros adolescentes, mas não se pode comparar com nenhuma tendência juvenil. Refilmagem de clássicos, de sucessos asiáticos e europeus, adaptação de séries televisivas; não é somente crise criativa que assola os grandes estúdios, é falta de talento. Nem preciso dizer que passarei longe desse pastiche, como passarei ainda mais longe do super bebê vampiro que deve chegar por aí. Ainda tive tempo para ler que as novelas brasileiras também fazem suas refilmagens, e lembrei que a mais recente assisti quando eu era criança (pois é, um dia acompanhei novelas).
Levantei-me ao perceber a proximidade do meu ponto. Quase duas horas dentro de um ônibus e nem uma em Itapuã (quem me dera, uma tarde). Antes de sair, vi o casal se beijando apaixonadamente. Pelo jeito, o final foi feliz — por enquanto.
Lost foi uma decepção, tinha tantas perguntas e poucas foram as respostas.
ResponderExcluirAcho que podemos dizer, que a vida é uma contradição!
ResponderExcluirMas o mais interessante não são as perguntas?
ResponderExcluirviagens de ônibus fazem isso com a gente mesmo, esses pensamentos maravilhosos que nos surgem. por isso gosto muito muito dessa vivência em busões, rs.
ResponderExcluirteus escritos são muito bons! parabéns!
abraço.
Tb Acho um saco novela..Jesus foi o fim, o povo tá é doido!
ResponderExcluirRapaz, eu concordo plenamente com cada um dos temas tratados nesse texto. Sobretudo com relação às refilmagens americanas. Quando a gente dá o azar de assistir a uma delas, termina por se perguntar para que foram feitas. Para ganhar um troco, claro. Pastiche é palavra apropriada.
ResponderExcluirLost? Caso de estelionato ficcional, uma popular "encheção" de linguiça pós-moderna rumo ao vazio.
Abraço.
Hã,por acaso o filme é sobre um(a) jovem vampiro que se une a um menino e eles fogem juntos de trem no final???
ResponderExcluirSe for, meu preferido também,mas o titulo aqui foi" let the right one in...
bjo
Pensei que só eu lia revista assim, a única que leio no formato "correto" é a Piauí, porque adoro a seção "esquinas", delicioso texto e imaginei exatamente isso em sue ipod, abraços
ResponderExcluiristo é a verdadeira comédia da vida privada ... adoro suas narrativas ...
ResponderExcluirbjux queridão
;-)
Não via Lost. A revista realmente errou feio pois, antes mesmo de eu ler aqui o resultado da sua publicação, já o deduzi. Vampiros me fascinam desde meus oito anos, e descobri que um dos motivos de fazerem adaptações norte-americanas é que o povo nos EUA odeia ler legendas (por que será? ironias a parte, a sensação de superioridade deles chega a esse ponto). E novelas... Bem, sempre assisto. Não posso fazer nada contra, é um vício...
ResponderExcluirAdorei o percurso...onibus/realidade,onibus/novela,onibus/filme,onibus/verdade...
ResponderExcluirSerão felizes além daquele final?Quem é que sabe?
Um super beijo Herculano,são especias teus rastros deixados em meu caminho,obrigada...
Sophi
me impressionei como você foi de um assunto pra outro sem um não ter nada a ver com o outro e ainda assim tudo ter feito sentido! fico até constrangida de escrever o comentário de uma só vem, então vou numerar minhas impressões:
ResponderExcluir1) adorei a capa herege, mas esse jesus da playboy não está sexy o suficiente.
2) passei anos me divertindo com lost, por isso não reclamo do final tosco.
3) é por essas e outras que fazer a mínima menção a meter a colher em briga de marido e mulher é uma senhora furada...
O incrível da arte de escrever é catar histórias e assuntos no ônibus, no casal que briga, no casal que beija, no filme novo, no filme antigo... Ironia vai ser a garotada tentando comprar playboy alegando que é pra aula de religião!
ResponderExcluirabraço
Rafa Feck
Pelo amor de Deus, Jesus na Playboy é muita coisa pra minha cabeça... acho que isso tbm é falta de imaginação rsrsrs
ResponderExcluirAdorei o texto (só pra variar né? ;))
bjs
Vi essa capa num blog português e achei de mau gosto.
ResponderExcluirÓtima postagem.
Viajei com você nesse post, o 'circuladô', tem muitos roteiros e em duas horas podemos assitir muita coisa. Já assisti o inacreditável. O Glauber diria "é preciso recuperar o perdido no encontro com a imagem" e quando imaginamos que nada mais nos falta Jesus aparece na capa da Playboy estampada em verde imagino o título da matéria,
ResponderExcluir"Deus te ama e tem um plano maravilhoso para sua vida", verbo trágico, dias trágicos.
Abraço,
ou eu sou muito tarado ou pouco religioso, enquanto todos reclamavam da presença de Jesus, eu exclamei "que belos seios"...
ResponderExcluirque assim seja, amém...
Rafa Feck
Não é. Por isso é sempre bom ter um caderno na mochila, ou a mão.
ResponderExcluirO problema é quando você tem tantos e se perde no meio de tantas folhas e rabiscos.
Curti muito o blog, parabéns.
Beijos alcoolizados.
Novela da vida privada hehehehe.
ResponderExcluirBjão querido!!
Eu achei certo a decisao lá de Portugal em relação a Playboy
ResponderExcluirwww.rimasdopreto.blogspot.com
gostei da capa.
ResponderExcluirmassa!
Drummond no ônibus
ResponderExcluirtambém ouvia cada
folhetim.
Sabe dizer-me se Drummond
acompanhava novelas?
forte abraço.
Massa!
Casalzinho previsível, hein?
ResponderExcluirQuanto a capa, não gostei, não! E olha que "sou ateu, graças a deus."
Abraços,
Gostei do texto!!! Aliás, de todos daqui. Me fazem refletir muito.
ResponderExcluirhttp://celebresanonimos.blogspot.com/
um curtametragem de duas horas.
ResponderExcluirvocê escreve muito, sério.
ResponderExcluirparabéns pelo blog.
você escreve muito, sério.
ResponderExcluirparabéns pelo blog.
Gostei do texto. Sem perceber (ou não), caminhando por linguagens interessantes e diversas. Compartilho da mesma perigosa opinião, de achar um extremo mau gosto nas produções das novelas, de alguns filmes mais atuais. Na minha singela opinião, muito mais do que falta de talento, existe uma grande falta de perspectiva além da de ganhar dinheiro. Ironicamente acredito que essa constante alusão por dinheiro, empobrece profundamente a qualidade das diversas artes.
ResponderExcluirO bom dos coletivos são esses eventos mais ou menos inusitados... Até o autor incrementa a trama...
ResponderExcluirRealmente, é de bastante mau gosto a capa da revista.
Abraço!
A vida é uma comédia de erros. Pena que nem sempre seja possível apenas contemplar uma paisagem.
ResponderExcluirO título do seu blog diz tudo.
Um grande abraço.
hello passando novamente p dar uma fuxicada.
ResponderExcluirConfesso adoro seriado, novela com ou sem sentido fazer o q neh rsrsrs.
adorei a postagem viu.
Ótima semana p ti mil bjs te mais ^^)
É interessante...
ResponderExcluirpq alem de não conseguir ficar aleia ao que acontece perto de mim
em qualquer lugar,
tambem folheia revistas do fim pro começo.
Bom saber que não sou a unica.
Tambem não tenho tido paciência pra novelas, e adoro viu?
Quanto a Lost, eu tentei ver
o ultimo capitulo pq no twitter
o povo fervia a respeito
dai me dobrei e vi mas pra mim ja deu.
Não me prendeu...
Adorei voltar aqui.
Belo post.
Te espero no meu canto.
Bjins entre sonhos e delírios
Percebo com alegria que fazemos parte da categoria das "pessoas que folheiam a revista de trás para frente", desde muito miudinha que faço isso, segundo a minha mãe.
ResponderExcluirIgualmente nao tenho paciência para assistir novelas, seriados, a tv para mim só serve para ver filmes, documentários e notícias em geral.
Eu vi a matéria sobre o acontecido que envolve a Playboy portuguesa, o que é admirável a meu ver é o fato de um país quase 100% católico, e um tanto conservador (não sei se já foste à Portugal ou a qualquer outro país europeu, mas eles são altamente conservadores), propor uma capa que mexe com algo que não é só um totem, uma imagem, mas a própria razão da religião deles, ratificado por um país protestante como os USA? Entretanto, Cristo foi um dos maiores socialistas da história da humanidade, e Ele próprio vítima da intolerância e do desconhecimento pelo fato de ser diferente, de ter posicionamentos diferentes diante da sociedade da sua época, provavelmente nao teria a mesma reaçao dos diretores da revista. Ele que defendia os fracos e oprimidos, as prostitutas, enfim, nao estou aqui a dizer que os lucros da revista nao sejam estratosféricos, mas o que questiono é a censura....
O tema dá um bom debate, parabéns pela escolha dele!
Abraço!
Olha só, fiquei feliz ao descobrir que eu não sou a única que lê revistas (e jornais) de trás pra frente...rs. Conversas nos ônibus são ótimas. Tudo bem que me sinto uma enxerida, mas não consigo evitar e olha, viajei com a sua mente agora! Genial.
ResponderExcluirAchei uma tremenda falta de respeito essa história da playboy.
Beijos
;*
É....
ResponderExcluirda lapa a itapuã é muito chão
Sabe o que é engraçado, você ao mesmo tempo que diz que não vê novela, acaba vendo uma, mas não percebe, vemos (pelo menos) a novela da nossa vida, as vezes mudamos o foco dela para personagens secundários, mas sempre é nosso novela que importa...
ResponderExcluirE Saramago sempre foi polemico, mas engraçado que sempre pareceu ser uma boa pessoa.
Fique com Deus, menino Herculano.
Um abraço.
É chão mesmo!
ResponderExcluirMas novela precisa ser repetitiva e previsível. É um esquema da linguagem da teledramaturgia para fazer sucesso com o público, um tipo de pacto. Se for diferente, ninguém gosta. O prazer aí é justamente não ser ludibriado, surpreendido. Venho aqui em defesa da pobre!! Novela é coisa bacaninha!
Nunca mais nos batemos por aí, né?
Abraço, Herculano.
Até
Simplesmente é uma honra ter um amigo (mesmo que virtual) com sua inteligência contemporânea, associando passado cultural com comportamento atual. Associar a atitude do casal de apaixonados (serão até quando????) no ônibus, com cultura, é obra de mestre. E você tem essa grande habilidade: linkar assuntos intelectuais a comportamento. Muito gênio seu texto, meu amigo Herculano! Texto EBA!
ResponderExcluir