quarta-feira, 25 de junho de 2014

O INFAME DA VILEZA

Escritores tendem a se achar semideuses, a única Pepsi-Cola do Jardim de Alah, o pote de ouro no final do arco-íris (muitas vezes se acham o próprio arco-íris) mesmo quando não publicaram nenhuma nota de rodapé, mas isso é o que menos importa, para um escritor é comum acreditar que um dia serão descobertos, compreendidos, cultuados; serão figurinhas fáceis em feiras literárias, terão trechos recitados por Tony Ramos no Fantástico, obras adaptadas para cinema e TV, darão opinião sobre-tudo-e-qualquer-coisa mais do que Caetano Veloso. E se a vida, essa pequenez divina, não os contemplar a tempo, restará a posteridade póstuma, quando serão estudados pelas melhores faculdades, pelas mais brilhantes cabeças pensantes do futuro. Outra característica do escritor é desmerecer o trabalho alheio: só ele escreve bem, o resto chafurda na mediocridade, e quando o colega é realmente bom não passa de um copiador barato, um repetidor de cânones consagrados. Resumindo, escritor no Brasil é um chato de galochas. Sempre que me acho melhor do que realmente sou, abandono minha Bic e vou secar a louça, repor a despensa, limpar os armários: genialidades de pessoas comuns.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

COM DEFEITO DE FÁBRICA

      Nasci com saudade, meu defeito de fábrica. E de saudade estão contaminados os poemas de "A Casa da Árvore". Saudade, inclusive, do que não vivi.
      Sempre fiz poesia, ou deixei que a poesia me fizesse, que moldasse minha escrita, minha necessidade de exteriorizar sentimentos, uma inquietação juvenil que o tempo se encarregou de dizer o que é página de diário, letra de música, poesia ou incinerador. Muitas ideias ficaram pelo caminho, projetos que não foram adiante, poemas que envelheceram mal nas gavetas, que perderam o sentido, que não faziam sentido. O que sobreviveu virou CINEMA, minha primeira publicação solo e atrevimento poético. Naquela época, embora não fosse mais tão menino assim, cultivava algumas pretensões e ansiedades típicas de iniciante, um desejo de querer dizer tudo que eu acreditava ser essencial. Ali, a infância já era um tema que tingia de saudade quase todo o livro.
        Em A CASA DA ÁRVORE reencontro a infância. Só que dessa vez a observo de longe. Dividido em três partes ou três lares (Casa de Retalhos, Casa de Espelhos e A Casa da Árvore), reúne o que produzi de relevante, na minha caótica opinião, nos últimos anos. Pouco escrevo poesia, às vezes passo meses e mais meses sem nada escrever. Ao contrário da minha obra de ficção, que tenho o completo domínio do parar e iniciar, minha poesia é quem me comanda. Parece clichê, provavelmente até seja, mas poesia é de dentro pra fora. Sua feitura é diferente. É dolorosa. Na primeira parte, Casa de Retalhos, trago os poemas postados no meu blogue, com pontuais modificações nos títulos, palavras e até na inclusão, exclusão e ordem dos versos. Desde o início, o plural “retalhos” parecia ser a escolha mais óbvia para designar o capítulo, mas ao ver todos aqueles textos agrupados, notei que havia uma unidade, um desassossego, uma melancolia.  Na revisão final “retalhos” permaneceu. Percebi que na minha memória afetiva “retalhos” sempre foi singular. A segunda parte, Casa dos Espelhos, é a menor e a que mais me deu prazer em produzir, pois pude retomar, com um saudável distanciamento, poemas antigos através das traduções realizadas, e publicadas, pelo amigo Pedro Vianna na França (“Arrumando as Malas”, de OS OUTROS POEMAS DE QUE FALEI, 2004; “Os Outros”, de SOB PRESCRIÇÃO, 2006; “Malícias”, inédito; “Versos Excluídos”, “Sinopse”, “Ironia”, “Um Miserável a ver navios” e “Pano de Boca”, de CINEMA, 2007). A última parte também denomina o livro, A Casa da Árvore, e é uma reflexão sobre a infância, sobre como dói ser criança, sobre como é equivocada a urgência de crescer, embora só percebamos isso depois, muito depois. Nesse capítulo, a saudade inflama com mais intensidade, indo de uma solitária partida de futebol de botão, passando pela casa em que crescemos e que nunca nos abandonará a até um platônico amor infantil que encontrará seu fim nas rodas de um caminhão. O mundo era menos triste/ na casa da árvore. Inevitável sentença.
      A infância não é para inocentes, mas a poesia talvez seja. Então, quero que essa inocência impregne meus versos, quero resvalar na criança que eu fui, quero que ela encontre o adulto que eu me tornei, quero que ela tenha orgulho de mim.
         Nasci com saudade, meu defeito de fábrica. 

segunda-feira, 2 de junho de 2014

AMIGOS EM CASA

A sua palavra comprime tantos mundos que, ao menor gesto compreensivo da sensibilidade, ela "explode" em suas mãos, em seu olhar, em sua consciência. Poeta de versos curtos e emoção intensa, cada imagem nos arrebata, em ritmo que prende a respiração e nos faz soltar um grito.
Jorge Portugal

Temerário e malcriado, ele trafega na contramão, nunca estando onde se espera. E assim surpreende com momentos de veracidade e dor pungente. Sempre dilacerado, Herculano reúne coragem e velhacaria, prosódia barata ou complicada, conforme a conveniência, tudo de caso pensado, desorientando a seu bel prazer. Me espanta o desencanto humanitário desse mestiço do Recôncavo!
Edgard Navarro

Herculano tem chumbo no sangue e isso define sua poesia: tem peso. O mais simples verso carrega toneladas de sentido, "vocação para o abismo / para o abraço". Herculano tem chumbo no sangue e isso define sua alma tal qual o chumbo correndo pelas veias de sua Santo Amaro da Purificação.
 Katherine Funke

Não sei se a árvore da casa era "pé" de cajá, grumixama ou araçá... Só sei que o tempo de sonhar, de rir, de olhar pra trança da menina, de chutar as poças d’água foi quando a criança que morava na casa da árvore queria beijar a garotinha ruiva, navegar pra ilha de Robinson Crusoé e ter um badogue feito com forquilha de goiabeira pra derrubar o sariguê que queria comer os ovos do ninho de sofrê...
Boris Azevedo

Herculano é um fatalizado pelas setas da poesia As sombras do cotidiano assolam suas retinas, que, como negativos de filme, gravam o desaninhar das metáforas escondidas nas sombras do dia: “é tarde/ e todos os clichês estão no lugar”. É impossível sair ileso das veredas que constrói o poeta. 
Georgio Rios

A CASA DA ÁRVORE
Lançamento dia 05 de junho
ICBA - Salvador - BA
A partir das 18 horas
Entrada franca
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