Escritores tendem a se achar semideuses, a única Pepsi-Cola do Jardim de Alah, o pote de ouro no final do arco-íris (muitas vezes se acham o próprio arco-íris) mesmo quando não publicaram nenhuma nota de rodapé, mas isso é o que menos importa, para um escritor é comum acreditar que um dia serão descobertos, compreendidos, cultuados; serão figurinhas fáceis em feiras literárias, terão trechos recitados por Tony Ramos no Fantástico, obras adaptadas para cinema e TV, darão opinião sobre-tudo-e-qualquer-coisa mais do que Caetano Veloso. E se a vida, essa pequenez divina, não os contemplar a tempo, restará a posteridade póstuma, quando serão estudados pelas melhores faculdades, pelas mais brilhantes cabeças pensantes do futuro. Outra característica do escritor é desmerecer o trabalho alheio: só ele escreve bem, o resto chafurda na mediocridade, e quando o colega é realmente bom não passa de um copiador barato, um repetidor de cânones consagrados. Resumindo, escritor no Brasil é um chato de galochas. Sempre que me acho melhor do que realmente sou, abandono minha Bic e vou secar a louça, repor a despensa, limpar os armários: genialidades de pessoas comuns.
Por isso mesmo, mantenho minha vassoura sempre à postos. Nada como varrer o chão, lavar a louça, limpar o jardim e os banheiros para me lembrar de quem eu realmente sou.
ResponderExcluirTexto impecável!
Adorei esse trecho que fala dos que se acham sempre plagiados, copiados, invejados... ah, meu Deus.
Nada como arejar a casa antes de partir para a caneta a e papel.
ExcluirMuito bom mesmo!
ResponderExcluirVim pela indicação da Ana, e amei a recepção, parabéns!
Abraço.
Seja bem-vinda!
ExcluirDizem que me expresso bem, que escrevo bem. Talvez até tenha sonhado em ser escritora, mas hoje, depois de tanto viver e ganhar e perder, penso que seria bom escrever, mas como uma catarse, algo para me reconciliar com minhas perdas. A morte recente de um amigo me fez querer escrever uma ficção "baseada em fatos reais", agora se isso terá algum valor literário já são outros 500.
ResponderExcluirBoa sorte.
Abs,
Neusa
Escrever sem compromisso é sempre o melhor caminho.
ExcluirHá de tudo, não? Escrevo porque escrevo. Sem desejo de ser publicada, ao menos por enquanto. Ao menos até saber por que ser publicada. Mas gosto de novos livros, lançamentos, autores novos e bons. Ganho, compro, leio, sento e viajo...Mandar e-mail procê hoje, antes que a casa caia e não ache mais nenhum. Bjos
ResponderExcluirCasa ainda de pé!
Excluirgenial.
ResponderExcluirrealmente essas pequenezas nos passam pela cabeça, e feliz daquele que escreve e sabe apreciar o que é escrito, independente da mão que manipulou a pena...
Essas "pequenezas" deveriam ser efêmeras.
ExcluirAcho que existe aí também um grande inimigo do escritor: ele mesmo! A autocensura e aquela obrigação besta de que um texto novo deve sempre superar o próximo - até porque ninguém amanhece regado a inspiração todos os dias, não é mesmo?
ResponderExcluirMas preciso confessar que sim, imagino muito meus textos sendo citados por gente importante e formadora de opinião e que tenho um desejo imenso de estar por este plano pra ver isso acontecer.
Quem sabe...
Enquanto isso, vou seguir sua sugestão, Herculano, e investir nessas genialidades do nosso dia a dia toda vez que eu estiver aí achando que sou grande coisa.
Transpiração mais do que inspiração deve sempre moldar o texto.
ExcluirOuvi dizer que a proporção é 90% contra 10%. E um exercício constante, certo?
ExcluirSempre!
ExcluirSimplesmente apaixonante! Encantado com cada texto que posta aqui, conhecendo ainda, aos poucos, mas curtindo muito ;)
ResponderExcluirGrande abraço e um ótimo final de semana!
Bem-vindo...
ExcluirAutor desmerecendo o trabalho do outro é o que há de mais medíocre, visto que, tendo se tornado autor, certamente sofreu influências literárias de outros autores. Já tive inúmeras inspirações secando a louça. Atitude sábia e válida! Um abraço!
ResponderExcluirSemideuses proliferam-se pelas redes sociais.
ExcluirHahaha Você tem total razão, é uma selva de "intelectuais", "pensadores", "incompreendidos" que se isolam em suas supostas genialidades escritas.
ResponderExcluirSe há uma coisa que aprendi com as merdas da vida é manter as expectativas sempre baixas sobre tudo e todos. Eu estendo essa lógica para o que escrevo. Por outro lado, seria hipócrita da minha parte e até arrogância, afirmar que não ligo para o que pensam dos meus textos, criticas e elogios de pessoas que entendem do assunto sempre são bem-vindos e procuro melhorar com base neles para que eu consiga, ao menos, viver disso.
http://omundoemcenas.blogspot.com.br/
Abraço
Sempre tive uma imagem: de que a maioria dos escritores nunca ficam satisfeitos com sua obra.Imagino que depois da obra concluida pensem: Poderia ser melhor :) Tenha um bom fim de semana.
ResponderExcluirhahaha morri, isso tudo é verdade, mas eu fico alternando entre amar o que escrevo e odiar com todas as forças rs.
ResponderExcluirmeu blog ♥
O dilema do escritor: ser ou não ser lido? Quem escreve tem, sim, a vontade de ser lido, mesmo que seja lido apenas por si mesmo (e por isso às vezes escrevemos diários, cadernos secretos de poesia etc.).
ResponderExcluirA questão é: será que o escritor quer ser lido pelos outros? Quando outros escrutinam sua obra, ela deixa de ser sua e você está sujeito tanto a críticas que acalentam seu ego quanto críticas capazes de convencê-lo de sua baixa qualidade literária.
Aí começa a história, se o leitor o considerou ruim, problema do leitor, que não é culto, não tem "referências". Se o leitor o considerou bom, é isso aí, sou bom mesmo, o cara só está repetindo algo que eu já sabia.
Afinal, para que escrever?
Acho que não vale a pena (ou não faz bem) escrever só pelo reconhecimento dos outros. Escrever para se sentir uma celebridade de rede social é ser bem raso, mas se o sujeito quer isso...
Gosto de você ser um cara que escreve porque escreve e pronto, sem essa mitificação em torno da própria figura que a gente vê tanto por aí.
Beijos, Herculano!
A impressão que tenho sobre os escritores é que eles não se realizam após cada obra sua, fica sempre a impressão de 'poderia ter feito melhor', 'eu não estava em um bom momento', e blá blá blá...sinto necessidade de vomitar o meu tédio. Tudo de bom!!!!
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