O plec plec é infernal. Todo possível silêncio do escritório é substituído pelo baticum raivoso dos colegas em seus teclados, como se descarregassem toda frustração acumulada durante a vida no pobre acessório. Tento escapar desse martírio aumentando o volume dos fones, o aparelho celular imediatamente alerta para o risco: desconsidero. Ainda assim é difícil evitar, de Pink Floyd a Alice Chains toda canção parece estacionada no ratatatá de “Era um Garoto que Como eu Amava os Beatles e os Rolling Stones”. Resolvo levantar e arejar um pouco, eles nem percebem. Estão cada vez mais automatizados, mais máquinas do que a própria máquina. Quando retorno o ensaio do pracatum continua, procuro me policiar, analisar se não sou parte daquilo que tanto critico. Abro um documento aleatoriamente digitando com tranquilidade os comandos. Tudo certo, nenhum erro, embora pareça que está faltando algo. Repito a movimentação, dessa vez com um pouco mais de inquietação. Melhorou, mas ainda não foi o bastante. De repente, me sinto como nas antigas animações do Pateta – quase consigo interagir com o professoral narrador em off. Novamente, agora com mais velocidade e força. Ataco as teclas com fúria no intuito de me livrar definitivamente do barulho que tanto me desassossegava. Mantenho a intensidade. Em um raro momento de calmaria percebo que o plec plec no local é apenas meu, de mais ninguém. Sou o dono do silêncio que me roubaram.