segunda-feira, 29 de novembro de 2021

CONTÉM SPOILER X

Aquela lembrança que não emoldurei 

Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante na Velha Bahia, quando era possível alugar filmes em lojas especializadas, conhecidas como videolocadoras, eu costumava admirar as capas das fitas nas estantes ou os posteres das produções nas vitrines no caminho para a escola. Nem sempre/quase nunca sobrava dinheiro para locação, além dos lançamentos serem disputadíssimos, com direito à fila de espera que se estendia por meses. Não pretendo soar saudosista (streaming é vida) apenas concluo que alguns hábitos não se perdem, muitas vezes se transformam. Percebi isso ao me dar conta que possuo um perfil no Instagram para catalogar os cartazes dos filmes que assisto (não, não vou postar o linque). As pessoas ficam ansiosas por trailer ou teaser, mas eu gosto mesmo é da imagem de divulgação. Sou aquele que comemora em silêncio quando a cena do poster surge na tela, bem mais do que quando o título da produção é proferido por algum personagem. Já tive as paredes do quarto, e com mais discrição as da sala, repletas de cartazes de filmes, ainda guardo alguns. Deve existir uma espécie de Oscar para os criadores dessas artes, poderia ser categoria na premiação principal. 


quinta-feira, 25 de novembro de 2021

VIRADA DE PÁGINA IX

Papel jornal, couché, off-set, polén, reciclado, kindle ou pdf

Não é nenhum segredo que eu não gosto de aniversários, principalmente o meu – já odiei, hoje apenas respondo que não gosto em uma indisfarçável indiferença e ânsia de mudar o rumo da prosa. Por isso nem consigo dimensionar o que viveu Lourenço Mutarelli em 1988 ao ser vítima de um falso sequestro, que incluía uma arma na cabeça, ofensas e ameaças diversas, mas que na verdade se tratava de uma festa surpresa. Meus parabéns para o mentor intelectual dessa idéia. Esse evento desencadeou uma crise depressiva crônica no autor, que só começou a superar o trauma alguns anos depois através dos quadrinhos. O primeiro álbum dessa fase, intitulado “Transubstanciação”, provavelmente seja o que mais dialoga comigo. Nele um poeta angustiado busca a liberdade através da morte, certamente não é o tipo de pessoa que comemore aniversários.


segunda-feira, 8 de novembro de 2021

SOCIAL DISTANCIAMENTO IX

Diários da pandemia ou notas perdidas nas páginas ociosas de uma velha agenda

(Abril, 2021)

Há mais de cinco anos eu não atualizava meu blogue, apenas as esporádicas notificações de comentários em postagens antigas me faziam lembrar que ele ainda existia. No entanto, entendi que durante o isolamento social ele poderia ser uma boa companhia, mais seguro que jantarzinho nos apartamentos dos amigos, mais barato que terapia e menos constrangedor que chamada de vídeo em grupo de WhatsApp: simplesmente eu perdido nos meus ingratos pensamentos. Inicialmente, priorizei somente quatro tópicos, como se fossem quatro blogues diferentes dentro da mesma plataforma, abordando aquilo com o que mais tenho me relacionado nos últimos meses: cinema, quadrinhos e música, além de relatos diversos em forma de diário, retomando uma espécie de intensão dos blogues em sua gênese. Com os respectivos títulos de CONTÉM SPOILER, VIRADA DE PÁGINA, NO TOCA-FITAS DO MEU CARRO e SOCIAL DISTANCIMENTO vou publicando descompromissadamente, redigindo poucos minutos antes de postar, sem muito apuro ou pesquisa, a buscar uma espontaneidade esquecida no tempo, diferenciando os itens unicamente por algarismos romanos. Se me perguntarem, não sei se vou continuar quando a vida retomar sua antiga normalidade. Nem sei se quero retomar essa antiga normalidade. Acho que o distanciamento social até que me cai bem.

 

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

NO TOCA-FITAS DO MEU CARRO IX

Porque sou o meu próprio Mariozinho Rocha

Às vezes eu tenho a impressão que Caetano Veloso não possui fãs. Digo fãs dedicados mesmo, desses que colecionam bootlegs, conhecem particularidades da discografia e adoram lados Z. Uns chatos como Raul Seixas, Bob Dylan, e agora Belchior, têm. Não que isso faça alguma diferença, mas basta observar a exaltação do público em suas apresentações ao reconhecer músicas consagradas e dispersar quando executada alguma que fuja do pra-você-e-eu-e-todo-mundo-cantar-junto – sendo o ponto alto “Sozinho”, seu maior êxito comercial, emblematicamente uma música que não é da sua lavra – para constatar que alguma coisa está fora da ordem. Ainda assim ele continua produzindo uma obra consistente, sem amargar dessabores ou gravações que o desabone, angariando depreciações (“o vovô ta nervoso, o vovô”) por motivos que escapam do campo da arte. Seu último trabalho, “Meu Coco”, talvez seja seu mais bem-acabado conjunto de canções copiladas num álbum em muitos anos, o tempo deve alojá-lo, facilmente, em um top 5 de melhores discos do artista – se o denso algoritmo permitir. 

 


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