Inicialmente, foi um pouco difícil me adaptar: se eu queria saber as horas, tateava o bolso em busca do aparelho; se estava atrasado afligia-me não poder avisar no trabalho que chegaria mais tarde; se me diziam um endereço, a data de algum compromisso, nunca tinha onde anotar – afinal, caneta e papel são utensílios do século passado. Mas, pouco a pouco, fui aprendendo a existir sem ele e consequentemente minha qualidade de vida a aumentar surpreendentemente (tenho medo de calcular quanto tempo desperdicei sendo escravo daquela caixinha). Meus amigos e familiares não entendiam minha decisão, argumentavam que tentavam se comunicar comigo e não conseguiam, que não se pode viver sem telefone celular nos dias de hoje, etc. Até me presentearam com um desses modelos de penúltima geração, cheio de softwares desnecessários, no entanto jamais o tirei da embalagem.
Não demorou para que as outras pessoas, também, estranhassem o fato de eu não possuir um celular: “como assim, você não tem?!”, parecia que eu estava dizendo que eu não tinha alma. Definitivamente, não me fazia falta nenhuma aquele troço. Agora, não tinha que dar satisfação por que não atendi alguma ligação ou por que o telefone estava desligado. Não era interrompido nos momentos mais inoportunos. Não incomodava ninguém com o meu gosto musical duvidoso. Não assustava minha sobrinha com o meu ringtone macabro. Não era obrigado a compartilhar minhas conversas quando eu estivesse em locais públicos. Não sofria com a ausência de sinal, falta de crédito nem bateria descarregando. A melhor parte, e olha que é difícil decidir qual é a melhor parte, era não ter que prestar contas de cada passo meu e ainda ter que tolerar a deseducação alheia, que já liga perguntando onde você está, tornando dispensável um mero cumprimento. Estava livre e com dó daqueles que passavam por mim digitando mensagens, ouvindo músicas, assistindo aos seus vídeos, papeando banalidades, conectadas na rede mundial e desligadas do mundo ao seu redor – mais solitárias que um grão de areia numa lata de Leite Ninho.
Mas não pensem que eu sou um desses alarmistas ecologicamente corretos, que afirmam que telefone celular é cancerígeno e que se ele pode causar interferência em eletrodomésticos coisa muito pior pode provocar no nosso organismo. Não acredito, por exemplo, que o uso do telefone móvel será proibido em muitos lugares, com restrições semelhantes às que acometem os fumantes, e que haverá severas advertências do Ministério da Saúde e áreas específicas para a sua utilização (o que me permitiria dizer, sem estranhamentos, algo como “há cinco anos que não tenho celular”, como quem diz com orgulho o tempo que tem longe da bebida alcoólica). Não acredito que existirá clínicas para reabilitar os seus dependentes e que o tema será considerado de extrema prioridade pelos governos, inclusive sendo a base dos debates e promessas de campanha eleitoral. Não acredito que a interatividade alcançará níveis cinematográficos, com telefones inteligentes, com vontade própria, que um dia poderão se rebelar contra a humanidade. Não acredito que arma de fogo será um dos seus diversos aplicativos de segurança. Não acredito que tudo que falamos nele será registrado em um enorme banco de dados gerido pelas potências mundiais, em parceria com as grandes corporações, onde serão arquivadas todas as nossas movimentações e preferências – nem acredito que o cruzamento dessas informações ajudará a definir a estratégia de mercado para determinados produtos, além de prevenir crimes, numa sociedade claramente inspirada em “Minority Report”. Não acredito que seremos conhecidos apenas por números, e que receberemos esse número ao nascermos, em hospitais e maternidades comandados pelas operadoras de telefonia.
Não acredito em quase nada disso.
Não acredito em quase nada disso.
Herculano,
ResponderExcluirTenho celular desde que foi lançado, mas hoje quase não uso. Não o extingui totalmente da minha vida porque já aconteceram algumas situações de que me safei por estar com ele. Já faz uns três anos que ele começou a me incomodar, ele não, as pessoas que fazem dele uma compulsão.
Eu estava me sentindo monitorada, vigiada. A todo o momento ele tocava e eu me sentia constrangida em não atendê-lo.
Hoje eu o tenho sob meu controle. Carrego na bolsa desligado e somente o utilizo para fazer ligações, quando necessário. Foi o meio termo que eu encontrei.
bjs
Realmente o celular nos deixa dependentes. Às vezes me dá um desespero quando percebo que esqueci o meu em casa e que alguém importantíssimo poderia me ligar...
ResponderExcluirHerculano!
ResponderExcluirRi muito! Pensei que só eu tinha essa ojeriza. Porque você leu meu pensamento? Adoro as respostas aos seus "porquês", e daria um belo livro.
Beijos, comparsa e amigo dos que não gostam de celular!
Mirze
Isso é uma verdade, mas já faz parte de "nós". Por exemplo, meu trabalho depende destas tecnologias...mas é óbvio que muitas vezes da vontadde se sumir (tecnologicamente falando..rs). Enfim, parabéns pela resenha... e já vou indo por que preciso atender o telefone...rs.
ResponderExcluirAtt.,
Luks
Arrebento de novo ein!!
ResponderExcluirParabenss!!
:D
Eu tenho celular, mas ele vive desligado. Não gosto de ser incomodado em hipótese alguma mas, estando em uma grande cidade, as vezes para não preocupar a família, é bom tê-lo a mão para avisá-los o motivo pelo qual chegarei tarde. Sms raramente envio ou respondo e sou muito seletivo a quem doar meu número, mesmo assim, eu não mantenho muito contato. O segredo da tecnologia é dominá-la e não ser dominado por ela.
ResponderExcluirParabéns pra você que conseguiu se libertar!
ResponderExcluirEu confesso que já tive vontade de jogar o aparelho na privada e dar descarga! rs...
Um abraço Herculano!
Oi, Herculano! Nem eu nem meu marido temos celular. Aliás, nunca tivemos nem pretendemos ter. E olha que trabalhamos com eletrônica há décadas. Viva a liberdade! :)
ResponderExcluirHerculano, resisti o quanto pude, não queria saber desse "rastreador de gente", como eu chamava. Foi preciso ceder, por força de trabalho, preocupação com saúde de familiares quando precisava me afastar etc. Hoje estou, relativamente, apaziguada com essas "modernidades" e a sabedoria vai me dizendo que tudo, absolutamente tudo tem seu lado positivo e seu lado negativo. Verdade que eu conseguia me comunicar telepaticamente com algumas pessoas próximas, juro que sim, e hoje nem tento mais, porque...é só pegar o celular! rs Perde-se e ganha-se com tudo. Vez ou outra, procuro exercitar ficar sem esses apetrechos todo, corro pro mato, fico sem energia elétrica, sem celular, sem Faceboock, me refaço, sinto que posso existir sem tudo isso...e depois volto, porque tenho que voltar, e tudo recomeça...
ResponderExcluirBeijos
Achei demais sua visão futurista, e nada positiva, do uso dos telefones celulares.
ResponderExcluirTambém odeio celular,
mas nao consigo viver sem.
Fiquei super feliz em encontrar alguem que tenhe a mesma aversão que eu. pensei que fosse sò eu que tinha esse "problema", de odeio celular, tenho um, mas passa dias e atè messes descarregado, pra mim ele nem existe, nunca gostei, nunca mesmo, o mais dificil pra mim foi ter que me abtuar a carregar comigo, uma coisa que me controlava, fui obrigada a andar com ele pela minha querida mãezinha, mas esquecia em casa, esse sempre foi um dos motivos que causou/causa desentendimento entre nòs duas, quando digo que odeio telefonecelular as pessoas me chamam de louca, anormal, e coisas do tipo. nunca me entende. prefiro ser a louca, do que ser rastreada e controlada a todo tempo.
ResponderExcluirAbraços querido.
Herculano, eu adorei!
ResponderExcluirTambém não acredito em quase nada disso.
E tenho celular, que é um ótimo relógio, aliás único relógio que há na minha casa. Mas não gosto de telefones, deixo os meus, tanto o de casa quanto o celular geralmente no silencioso, quem me conhece já sabe, não sou escrava do localizador, só atendo telefone quando tenho vontade.
beijos pra ti!
eu sou suspeita, sou fà das tecnologias,rsrs...acho q elas podem salvar vidas, por exemplo, um celular pra chamar um medico. mas, o pensamento é livre, e eu sou muito mais fa é dessa liberdade
ResponderExcluirOi, tem Votação!
ResponderExcluirQual é o melhor slogan para divulgar meu livro no natal?
Você decide!
Sua votação é importante!
Passa lá no blog para votar! Agradeço muito!
http://amazoniaumcaminhoparaosonho.blogspot.com/2011/11/votacao.html
Adorei!
ResponderExcluirEu não vivo mais sem esse mal.. Rs!
Mas admiro quem vive, tenho um casal de amigos meus que não usam também, e todos acham estranhos, parece que você tem que se enquadrar nos padrões, na sociedade, meio louco isso, não?!
Sorte! =)
Mais feliz que eu em sua escolha.
ResponderExcluirO único problema é que esse amor-desamor todo machuca, até aos mais experientes jogadores..
ResponderExcluirA respeito do seu texto só tenho a dizer um parabéns, tu escreve muito bem e falou tudo, somos todos escravos do celular, a cada momento dizendo onde estamos, com quem fazendo o que, é certo que para certos assuntos faz falta mas tudo se supera.
Obrigado pela visita
Eu estou completamente dominada pelo meu, oh, vida!! rsrs
ResponderExcluiragora, Inês é morta! e a conta é alta!
beijoss
Consolador: já posso dizer que não sou o único. Provavelmente deve haver outros por aí.
ResponderExcluirsou quase isso...ganhei de presente mas ele vive esquecido....
ResponderExcluir[contem 1 beijo]
Ai, adorei!!!
ResponderExcluirEu tenho o maldito celular que facilita muito a minha vida profissional mas também detesto invasões de qualquer tipo.
Gente que me questiona por não ter atendido uma ligação ou deixa recados na secretária reclamando por estar desligado, não merece o meu respeito.
Um beijo, Herculano.
* Poxa, agora me dei conta de que nem adianta querer te ligar...que chata essa parte.
Pois... bem verdade o que dizes!
ResponderExcluirNão estou a jogar à defesa, mas só o utilizo MESMO quando necessário.
Um pequeno carregamento dá-me para meses!
males necessários, bens dispensáveis. e por falar em mudanças, agora sou
ResponderExcluirwww.moinhosilente.blogspot.com
Que post mais interessante! Concordo em partes, rs.
ResponderExcluirImagem mais que perfeita,
ResponderExcluiro celular é mesmo uma bomba!!!
Caro amigo, o nome disso é liberdade! Abraço.
ResponderExcluirFico encantada sempre que venho ao seu blog... É muito bom ler seus textos, pois sempre concordo!
ResponderExcluirrobertavladya.blogspot.com
Meu telefone na verdade é tudo menos telefone...kkkkk...Adoro! Abraços
ResponderExcluirsou uma pessoa da internet, mal uso celular, tinha um de 98 q só troquei pq um amigo me deu um de 2008, alegando ser um absurdo o meu cel nao ter chip hahahha
ResponderExcluirMuito legal aí sua postagem sobre essa coisa chamada cel, conocrdo em gênero, numero e grau, eu tenho três, de operadoras diferentes, seria uma necessidade pra mim em minha profissão, me ajuda bastante, mas tenho horas pra liga-lo e tb acho ridículo quando as pessoas nos lgam e falam : tais onde ?? rhummm detesto isso, e sem falar que antes tudo dava certo sem eles os malditos que nos rastreiam e sempre nos cobram , por que vc não me ligou , por que isso, porque aquilo!!
ResponderExcluirabraços , tua postagem tá massa!!
tenho 3 comentários a tecer:
ResponderExcluir1. não uso relógio faz 10 anos;
2. não tenho tv faz 3;
3. além do celular, carrego comigo papel e caneta, SEMPRE!
bjs, querido.
k.
Muito bom o texto, Herculano. Você escreveu uma verdade. Mas não ando sem celular. Admiro quem consegue, como você. Bjs
ResponderExcluirtô sem celular há dois meses em São Paulo e este não me faz falta em nada.
ResponderExcluirabs
Muitos parabens pela lucidez, quem me dera conseguir libertar-me assim, yalvez um dia... quem sabe
ResponderExcluirAbraço
Adorei o texto! 100% de identificação. Se tem uma coisa que poderia deixar de existir hoje mesmo e não faria a mínima diferença na minha vida seria celular. Mentira. Faria diferença sim. Eu seria muito mais feliz se não tivesse que ficar ouvindo toques de celulares alheios, não seria incomodada por pessoas falando no telefone no cinema, não teria que aguentar olhares atravessados porque não me recuso a usar esse rastreador maldito.
ResponderExcluirbjo
Meu marido também não curte celular. Ele já teve, perdeu e depois dessa perda (que na opinião dele foi ganho!) não tem mais celular digamos "pessoal"...ele utiliza(por forças maiores)um durante o expediente de trabalho. Acabou o expediente, celular desligado...é sagrado pra ele!kkkk!
ResponderExcluirJá eu adoro coisas eletrônicas, mas confesso que não tenho o mínimo apego com celular...tenho um cheio de "parafernálias", mas não utilizo nenhuma delas...uso apenas para a função real desse "capataz dos tempos modernos" que é fazer ligações!kkkk!
As vezes esqueço em casa, as vezes não carrego a bateria...e o pessoal reclama nas minhas idéias!kkkkk!
bjs, paz e boa semana!
A minha "rebeldia" para com aqueles que acham absurdo alguém não ter celular se limita a esquece-lo em casa, no silencioso, de carregar, de atender... é quase quase com não ter, ninguém tem certeza se conseguirá falar comigo no celular, as pessoas acabam se acostumando. rsrsrs
ResponderExcluiroi tudo bem...to passando rapidinho so pra dizer um oieeee.....xauzinho bjsss
ResponderExcluirque vc tenha uma otima tarde
De "Poderá também gostar de" a "Poderá também gostar de", estou aqui viajando no seu blog, apreciando muita coisa boa.
ResponderExcluirAgora vou indicar esse texto seu para todo amigo que me importunar perguntando por que nunca uso meu celular...
(minha inépcia no uso do laptop deve ser responsável por um comentário perdido e sem sentido, anterior a esse...)