PEDRO ALMODÓVAR |
Havia uma época, não muito distante, que citar Almodóvar era lugar-comum (talvez ainda seja), simbolizava um incontestável nível cultural, era atestado de bom gosto e sofisticação, mesmo que, em certos casos, não ultrapassasse a superfície de pessoas que queriam soar “descoladas”, “antenadas”, mas claramente desconheciam a filmografia do pop diretor espanhol. Durante algum tempo, então, legal era afirmar que odiava Almodóvar, feito o Smurf Ranzinza. Para evitar polêmicas, ou não ser confundido com a maioria, preferia não manifestar minha admiração – ficando essa informação restrita a um diminuto grupo de amigos. Agora, provavelmente, entusiasmado com “A Pele que Habito”, que mesmo não sendo tão bom quanto os filmes listados abaixo, consegue, ao menos, ser o seu trabalho mais interessante em quase dez anos (já que a sua melhor película nesse período pertence a Woody Allen).
MAUS HÁBITOS (Entre Tinieblas, 1983)
Após presenciar a morte do namorado, vitimado por uma overdose de heroína, uma jovem cantora de bolero, Yolanda Bell, busca refúgio no convento das “Redentoras Humilhadas”, onde a madre superiora é sua admiradora. O convento abriga ex-pecadoras que não abandonaram seus maus hábitos: Irmã Perdida (que cuida de “Bebê”, um tigre que vive no jardim), Irmã Víbora, Irmã Sórdida e Irmã Rata de Esgoto (que escreve romances pornôs sob pseudônimo). A madre superiora tenta superar a crise financeira do convento, e sua paixão não correspondida por Yolanda, traficando drogas da Tailândia. Não faltam humor negro e críticas a religião e a sociedade espanhola contemporânea.
QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO? (¿Qué he hecho yo para merecer esto!!, 1984)
Para equilibrar o orçamento familiar, Gloria (Carmen Maura) é obrigada a trabalhar dezoito horas diariamente, se mantendo acordada com o auxílio de anfetaminas. Vivendo em um pequeno apartamento, num conjunto de prédios deteriorados da periferia de Madri, com seu marido infiel apaixonado por uma cantora alemã, a sogra sovina que tem um lagarto de estimação chamado “Dinheiro”, um filho traficante e o caçula homossexual que se prostitui (uma garota de programa, um policial impotente e uma criança paranormal completam o quadro de personagens excêntricos, mas extremamente humanos), ela encontrará apenas desalento, nessa trágica comédia da vida privada.
A FLOR DO MEU SEGREDO (La Flor de mi secreto, 1995)
Leo Macias é uma romancista frustrada (Marisa Paredes em um dos melhores momentos de sua carreira), que obtém sucesso com romances adocicados, assinados ironicamente com o pseudônimo Amanda Gris. Em crise conjugal, ela se sente incapaz de continuar a produzir o tipo de literatura que sempre fez, passando a beber constantemente. Escapando das comédias absurdas e multicoloridas, Almodóvar inicia aqui o amadurecimento de sua obra, com temas mais sóbrios, tons mais escuros e o ritmo menos frenético. Curiosamente, o romance “Câmara Frigorífica”, citado na película, é uma espécie de protótipo do que seria “Volver”. O filme traz ainda Caetano Veloso interpretando “Tonada de Luna Llena”.
TUDO SOBRE MINHA MÃE (Todo sobre mi madre, 1999)
O maior êxito na carreira de Almodóvar (premiado como melhor diretor em Cannes, além de levar a estatueta do Oscar de melhor filme estrangeiro), narra a trajetória de Manuela (Cecilia Roth), que após doar os órgãos do filho, atropelado no dia do seu aniversário quando tentava ganhar um autógrafo da atriz Huma Rojo (Marisa Paredes), resolve retornar à Barcelona para reencontrar o pai do seu filho. No caminho, se depara com o travesti Agrado e uma jovem freira grávida e soropositiva, Rosa (Penélope Cruz). Repleto de referências, de “Um Bonde Chamado Desejo” a “Bette Davis”, esse melodrama, onde a identidade sexual é bastante abordada, é, praticamente, uma unanimidade.
FALE COM ELA (Hable con Ella, 2002)
Benigno Martin (Javier Cámara) é o enfermeiro responsável por Alicia, uma bailarina que entrou em coma após uma acidente de carro. Benigno dispensa a ela excessivos cuidados, falando com Alicia o tempo inteiro, acreditando que ela possa ouvir. Na clínica onde trabalha, ele conhece Marco Zuluaga, um jornalista que acompanha a famosa toureira Lydia Gonzalez, também enferma. Os muitos flashbacks contará a história dessas mulheres. Almodóvar, que sempre se caracterizou por uma filmografia excessivamente feminina, aqui presta uma especial atenção ao universo masculino. Mais um Oscar, desta vez por roteiro original. Caetano Veloso participa cantando “Cucurrucucu Paloma” ("Este Caetano me há puesto los pelos de punta").
QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO? (¿Qué he hecho yo para merecer esto!!, 1984)
Para equilibrar o orçamento familiar, Gloria (Carmen Maura) é obrigada a trabalhar dezoito horas diariamente, se mantendo acordada com o auxílio de anfetaminas. Vivendo em um pequeno apartamento, num conjunto de prédios deteriorados da periferia de Madri, com seu marido infiel apaixonado por uma cantora alemã, a sogra sovina que tem um lagarto de estimação chamado “Dinheiro”, um filho traficante e o caçula homossexual que se prostitui (uma garota de programa, um policial impotente e uma criança paranormal completam o quadro de personagens excêntricos, mas extremamente humanos), ela encontrará apenas desalento, nessa trágica comédia da vida privada.
A FLOR DO MEU SEGREDO (La Flor de mi secreto, 1995)
Leo Macias é uma romancista frustrada (Marisa Paredes em um dos melhores momentos de sua carreira), que obtém sucesso com romances adocicados, assinados ironicamente com o pseudônimo Amanda Gris. Em crise conjugal, ela se sente incapaz de continuar a produzir o tipo de literatura que sempre fez, passando a beber constantemente. Escapando das comédias absurdas e multicoloridas, Almodóvar inicia aqui o amadurecimento de sua obra, com temas mais sóbrios, tons mais escuros e o ritmo menos frenético. Curiosamente, o romance “Câmara Frigorífica”, citado na película, é uma espécie de protótipo do que seria “Volver”. O filme traz ainda Caetano Veloso interpretando “Tonada de Luna Llena”.
TUDO SOBRE MINHA MÃE (Todo sobre mi madre, 1999)
O maior êxito na carreira de Almodóvar (premiado como melhor diretor em Cannes, além de levar a estatueta do Oscar de melhor filme estrangeiro), narra a trajetória de Manuela (Cecilia Roth), que após doar os órgãos do filho, atropelado no dia do seu aniversário quando tentava ganhar um autógrafo da atriz Huma Rojo (Marisa Paredes), resolve retornar à Barcelona para reencontrar o pai do seu filho. No caminho, se depara com o travesti Agrado e uma jovem freira grávida e soropositiva, Rosa (Penélope Cruz). Repleto de referências, de “Um Bonde Chamado Desejo” a “Bette Davis”, esse melodrama, onde a identidade sexual é bastante abordada, é, praticamente, uma unanimidade.
FALE COM ELA (Hable con Ella, 2002)
Benigno Martin (Javier Cámara) é o enfermeiro responsável por Alicia, uma bailarina que entrou em coma após uma acidente de carro. Benigno dispensa a ela excessivos cuidados, falando com Alicia o tempo inteiro, acreditando que ela possa ouvir. Na clínica onde trabalha, ele conhece Marco Zuluaga, um jornalista que acompanha a famosa toureira Lydia Gonzalez, também enferma. Os muitos flashbacks contará a história dessas mulheres. Almodóvar, que sempre se caracterizou por uma filmografia excessivamente feminina, aqui presta uma especial atenção ao universo masculino. Mais um Oscar, desta vez por roteiro original. Caetano Veloso participa cantando “Cucurrucucu Paloma” ("Este Caetano me há puesto los pelos de punta").
No filme “A pele que habito”, Pedro Almodóvar faz curiosas referências ao Brasil. Embora muita gente tenha dito (e ele próprio tenha, de certa forma,anunciado antes de o rodar) que este filme seria diferente daqueles que o fizeram mundialmente famoso, Pedro aqui volta ás fábulas sobre identidade e gênero, força vital e amoralidade, dos seus trabalhos mais característicos. Este último elemento, a amoralidade, é algo que ele tem, para o bem e para o mal, vinculado á imagem do Brasil que foi construindo mentalmente. Como ele mesmo relembra, frequentemente se ouvem canções ou gravações brasileiras em seus filmes. A mim, sempre me fascinou que, dentre de todas as versões existentes de “ Ne me quittes pas”, ele tenha escolhido, para “ A lei do desejo”, a de Maysa. Pedro nunca tinha vindo ao Brasil quando fez essa escolha. De fato mesmo agora, nesse filme mais sombrio, quando um falso happy-ending parece redimir todos os horrores perpetrados pelo protagonista, o espectador é levado a crer que alguma reviravolta do pensamento, amparada num humor demiúrgico, se prova mais uma vez possível. Quando finalmente o filme, num epílogo que dá outra volta no parafuso, desfaz essa vacilante (embora intensa) alegria, a desaprovação moral dos atos do protagonista se refaz – mas a reconquista da harmonia se dá num nível que está muito acima das moralidades convencionais. É uma harmonia algo melancolia e com gosto de resignação. Tudo isso cheira a Nietzsche, claro.
ResponderExcluirHerculano!
ResponderExcluirSempre gostei de Almodovar, e nem sabia que havia rótulos para quem gostasse. Os filmes dele são fortes, mas humanos até a última camada da pele, aquela que arrepia.
"A Pele que Habito" tentarei ver também! Se puder.
Ótimo poder ver aqui9 "Tudo sobre minha mãe" AMEI esse filme
Beijos
Mirze
Almodovar é o meu Divo como cineasta contemporãneo ... #fato
ResponderExcluirObrigado querido pelo carinho, força e consideração ...
bjão
Sou super suspeita para falar, meu amor por Almodóvar está estampado no nome do meu blog. De fato Tudo sobre minha mãe, que fiz para merecer isso? e A flor do meu segredo, são os melhores dele. Eu já assisti tudo, menos o novo, mas todos os outros, já os outros TODOS! Volver também entra na minha lista. Tudo sobre minha mãe e Que fiz para merecer isso, eu tenho em casa e também são tag lá no blog... Muito amor por ele ♥
ResponderExcluirSobre o comentário lá no blog: Deixo claro meu egoísmo diante de meu Reader não funcionar e meus seriados pararem de passar, são PARA MIM mas importante do que qualquer coisa que tenha acontecido no mundo, cansei de lutar e me INDIGNAR por coisas que nunca vão mudar, foi-se o tempo..
Não sou exatamente uma cinéfila, e já briguei com meu sobrinho (cinéfilo!!!!! ò, e como!) porque não amo exatamente Almodóvar, que ele ama, que é brilhante, mas eu não sou...rs. Eu só sei que ele é inquietante, isso às vezes é tão bom, no meu caso, às vezes não. Mas eu tenho reformulado e redescoberto coisas nesta minha maturidade psicológica e cronológica...tenho descoberto que não gosto mais de coisas que gostava e que gosto de outras que não gostava. Eu acho que Almodóvar precisa ser revisto por mim. Vamos ver, depois, um dia, te falo...
ResponderExcluirBeijos,
Herculano, meu véio,
ResponderExcluirtambém me recordo dessa época,
todo mundo que queria exibir seu status cool dizia "amar" Pedro Almodovar e mal conhecia o trabalho do cara, isso acontece com figuras pop. No entanto, coube ao tempo colocar cada um seu lugar.
Achei bem legais suas sinopses, não entregam muito e nos apresenta algo interessante.
O comentário desse "Caetano" aí em cima é sensacional, me animou para ver "A Pele que Habito" amanhã.
Pedro Almodovar também é um dos meus cineastas preferidos. Tudo sobre minha mãe é um dos filmes dele que mais gosto. http://www.gilbertocarlos-cinema.blogspot.com/
ResponderExcluirEle é polémico... mas sempre genial!
ResponderExcluirNão perco um filme dele.
Gosto de Almodovar e de todos as suas pregressas películas, todavia este não me agradou, acho q foi a minha macheza que ficou ofendida com a vaginoplastia.
ResponderExcluirEu tenho tara por "Fale Com Ela", não sei quantas vezes já assisti.
ResponderExcluirBeijinho.
Eita....tá todo mundo ligado só eu nunca vi nenhum deles...já ouvi falar do nome almodóvar, mas confesso que nunca vi nenhum filme...agora que vi aqui no teu blog de repente descolo algum deles pra ver!kkkk! Desculpa a minha ignorância, mas ainda há tempo de extermina-la!kkkk!
ResponderExcluirbjs, paz e bom final de semana!
http://artesanatoeideiasleka.blogspot.com/
CARNE TRÊMULA
ResponderExcluirKIKA
VOLVER
DE SALTO ALTO
ABRAÇOS PARTIDOS
MULHERES A BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS
ATA-ME
A lista poderia ser ainda maior.
E eu vou falar o que depois desse post? Você tem muito bom gosto!
ResponderExcluirEu não vi todos os filmes de Almodovar, porém dos poucos que vi, carne trêmula ficou entre a lista dos meus filmes favoritos. Amei aquele filme! E desses citados , estão em minha lista, quero vê-los todos!
ResponderExcluirBom, faltam-me palavras para descrever as obras de Almodóvar... um cara de família pobre, não estudou cinema, mas é INCRÍVEL no que faz!
ResponderExcluirA obra prima dele para mim é estupenda: Dos putas, o historia de amor que termina en boda
Ótimo post!
Um abraço enorme!
http://www.pronomeinterrogativo.com
Almodóvar é sencional, não sei escolher só um filme dele. Eu sou alucinada por todos, sempre um melhor que o outro.
ResponderExcluirBeijos
Lista quase perfeita, Herculano. Só trocaria fale com ele por A LEI DO DESEJO.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
"mulheres a beira de um ataque de nervos" é um dos que mais gosto. mas no geral, gosto muito da forma que almodovar conduz todos os seus filmes, é fora do padrão, do contexto, do normal.
ResponderExcluirbeijos, querido.
Nossa, eu juro que não fazia idéia que existia rótulos para quem gosta de Almodavar. kkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirEnfim, não me surpreende, afinal, existem rótulos para tudo e todos.
Mas, eu confesso que sou fã de filmes e quase nunca me ligo aos seus diretores. Embora, conheça o nome de um ou outro.
bacio
Pedro Almodóvar é digno. Não assisti aos dois primeiros, mas sim os dois últimos. Entre outros. Má Educação também está entre os meus favoritos. "A Pele em Que Habito" está na minha lista dos "MUST WATCH!" (:
ResponderExcluirAlmodovar é muito peculiar, sempre gostei de sua "tirania".
ResponderExcluirNão assisti "Fale com ela". De todos os filmes que você listou eu fico com a unanimidade. Assisti "Tudo sobre minha mãe" diversas vezes. E em todas as vezes com a mesma emoção.
ResponderExcluirbjs
Meu Deus, que vergonha ): Nunca assisti nenhum desses.
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