quarta-feira, 23 de julho de 2008

CINEMA: DE HERCULANO NETO
Por Gustavo Felicíssimo


          Recebi há poucos dias o livro Cinema, do poeta santamarense Herculano Neto. O livro, recém saído do forno, foi um dos vencedores do Prêmio Braskem de Literatura, promovido pela Fundação Casa de Jorge Amado, edição 2007. Herculano, além de poeta é compositor, cinéfilo e cineclubista, daí o nome dado ao compêndio e seus capítulos: Filmografia; Curta-metragem e Matinês. Poemas também com títulos como “sinopse”, “sala de arte”, “la película”, ao lado de outros como “morangos silvestres” e “ainda lembro” com dedicatória ao cineasta baiano Edgar Navarro e uma epígrafe com uma fala de Taxi Driver, filme dirigido por Martin Scorcese complementam a unidade referente à sua apresentação.
           Entendemos que o tema central de Cinema é a fugacidade contemporânea que se nos apresenta, acompanhada de certo ar nostálgico e roupagem moderna, proporcionada por uma linguagem coloquial emergente, própria daquilo que se convencionou denominar pós-modernidade.
           A obra é reflexiva e se opõem à constante degradação dos valores humanos da mesma forma como acontece no belíssimo Cinema Paradiso, filme escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore. No livro encontramos o poeta investido de uma angústia semelhante a de Totó, personagem principal da película.
           E como só assim haveria de ser, Herculano Neto estabelece em sua lírica uma dialética existencialista e dicotômica, característica que permeia toda obra, muitas vezes descortinando-se logo no título dos poemas, como em versos excluídos.

tenho vocação para o abismo
para o abraço

tenho fixação por detalhes
por olhares
por silêncios

sou irremediavelmente insatisfeito
displicentemente franco
o melhor amigo dos meu amigos
o melhor amante das minhas tristezas

obsessivo

tenho vocação para infelizes

           Jorge Portugal, ao pronunciar-se sobre a poesia de seu conterrâneo, acentua que “na verdade, a palavra Poeta deveria ser mais preservada e dirigida apenas àqueles que provassem, por léguas de letras e texto invulgar, o merecimento do distintivo. São poucos, portanto, os que assim podem ser considerados. Herculano Neto, com certeza, pertence a esse elenco de raros. A sua palavra comprime tantos mundos que, ao menor gesto compreensivo da sensibilidade, ela "explode" em suas mãos, em seu olhar, em sua consciência.”
           E Miguel Carneiro, no prefácio do livro, diz que Herculano “de verve sarcástica, brinca com seu humour noir ridicularizando a caretice da província, fazendo de seus versos testemunhos da contemporaneidade na qual ele trafega com desenvoltura”.Cinema é um livro que vale a pena ler e ter na estante.

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