Superoutro, 1987, direção Edgard Navarro |
Fatos de uma tragédia urbana e existencial contaminam e perpassam os textos de Herculano Neto. Seu estilo imprevisível faz trapaça com o leitor, promete e negaceia; sacaneia e pirraça, entorna o caldo e lamenta o ocorrido. Temerário e malcriado, ele trafega na contramão, nunca estando onde se espera. E assim surpreende com momentos de veracidade e dor pungente. Sempre dilacerado, Herculano reúne coragem e velhacaria, prosódia barata ou complicada, conforme a conveniência, tudo de caso pensado, desorientando a seu bel prazer. Me espanta o desencanto humanitário desse mestiço do Recôncavo! Deuses me defendam da saliva sulfúrica, corrosiva, desse gracioso íncubo, desgraçado súcubo. Bukowski! Quanto asco, sordidez, sarcasmo, desventura, cinismo, Peréio! Penso em rituais macabros de injúria e autopunição. Amar o verdugo, lamber o aço impiedoso de sua espada. Aqui e ali Camões e Camus me assaltam, o desconcerto do mundo, o absurdo e o suicídio: um dia os cenários desabam e é preciso imaginar Sísifo feliz. Também nos evoca o humor-escárnio de Augusto dos Anjos: tuberculose, impotência, desprezo e mais asco. E a tudo preside a náusea-sartre. De Clarice nos chega a mesmice, a vida sem magia e sem romance de uma Macabéa, o fabuloso destino de uma Emília Pereira (Amélie Poulain). Além de uma colecionadora de borboletas de mentira, os braços amputados de bonecas carecas com câncer nos ossos e um menino suicida a quem disseram que teria o corpo retalhado para ser utilizado em feitiçarias. Pobre de mim, animal compassivo, lá no fundo desse pântano viscoso diviso a pálida sombra de uma fina coisa qualquer – digna, diáfana, volátil. E embaixo dos escombros da mina encontro beleza. Toda a beleza que se negou no instante primeiro da abordagem. Afinal, um mineiro soterrado precisa de luz e ar e (valham-me os deuses!) de amor!
Cineasta
SALVADOR ABAIXO DE ZERO / EDIÇÕES P55 - COLEÇÃO CARTAS BAHIANAS /
Herculano meus sinceros parabéns em breve estarei lendo-te ...e este marcante depoimento de Edgar Navarro é muito verdadeiro Parabéns Pedro Pugliese
ResponderExcluirÉ uma honra ter as palavras do mestre Navarro.
ExcluirO comentário em si é uma obra de arte. Parabéns, Herculano!
ResponderExcluirVocÊ vem lançar aqui em Brasília?
ResponderExcluirSendo convidado, vou até ao Oriente Médio.
ExcluirMeu caro, ter um texto escrito pelo grande Edgar Navarro, realmente não tem preço, certeiras as palavras, bem a forma dele se expressar, quase que consigo ouvi-lo ao ler.
ResponderExcluirQue depoimento completo.
ResponderExcluirParabéns pela repercussão do livro, Herculano! Muito sucesso!
ResponderExcluirNão esperaria menos de você. Parabéns meu caro.
ResponderExcluirBeijos
Meus parabéns...E te "conhecer" é, para mim, uma honra!
ResponderExcluirVotos de mais e mais sucessos.
BShell
deste lado do oceano, como já disse uma vez, não chegam as vossas histórias e os vossos livros, por aqui vou sabendo e descobrindo um pouco
ResponderExcluiradorei o que li,pela mão de outro escritor, parabéns pelo livro
beijinho
Parabéns!
ResponderExcluirquantas palavras bem escolhidas! gostei mto da crítica, viu? que este seja apenas os primeiros degraus de uma longa escadaria adiante!
ResponderExcluirbjs, k.