segunda-feira, 28 de maio de 2012

PODERIAM SER CRÔNICAS, MAS SÃO APENAS NOTAS III

(*) Já escrevi AQUI que prefiro ir à banca de revistas, conferir as novidades, ver as manchetes dos jornais, do que ser assinante. Faço isso desde moleque, quando colecionava minhas primeiras Hqs, não mudaria agora – tornar-se adulto é mero detalhe.
      Algumas publicações, numa estratégia de mercado, costumam colocar duas ou mais capas diferentes à disposição do leitor, algo que tem se tornado cada vez mais comum e me agradado bastante. Em junho de 2010, a “Rolling Stone” disponibilizou uma capa com Mick Jagger e outra com Keith Richards, com suas faces mais imberbes. Ao perguntar ao jornaleiro se a revista já havia chegado, ele prontamente me ofereceu a edição com Jagger, educadamente recusei e disse que preferia a outra, sem se dar por vencido, ele argumentou que era Mick Jagger. “E este é Keith Richards” – sentenciei. Depois, fiquei imaginando qual seria a capa que escolheriam para mim se eu fosse assinante.
      Poder escolher, ainda, é o meu maior trunfo.

(*) Tenho pavor a diminutivos, desde sempre. Falsa intimidade ou excesso de intimidade pouco importa para mim, é constrangedor de qualquer forma. Penso que os “inhos” e  “inhas” deveriam se restringir, no máximo, ao ambiente familiar. Os irmãos Fernandinho e Fernandinha, ao se encontrarem no pátio da escola, se tratariam como Fernando e Fernanda, sem carinhos... Ops! Será que “carinho” também é um diminutivo?

(*) Fotógrafos, Djs, escritores e comediantes se espalham por aí, feito uma virose pós-carnaval. Acho que falta quem diga que apertar um botão não faz de ninguém fotógrafo, colocar um disco para tocar não faz de ninguém DJ, ajuntar palavras não faz de ninguém poeta, contar uma piada não faz de ninguém comediante. No entanto, enquanto houver quem “curta” e “compartilhe” a ausência de talento ainda será a bola da vez.
       A busca por um padrão diminui as possibilidades, e nunca houve tantas.

(*) Poderiam ser crônicas, mas são apenas parágrafos. Falta de fôlego do cronista ou preguiça do leitor? Preguiça do cronista ou falta de fôlego do leitor? Falta do leitor ou falta do cronista? Falta de leitor?

quinta-feira, 24 de maio de 2012

OS INOCENTES

A perda da inocência é um tema recorrente nas artes, é a verdadeira entrada no mundo adulto, o baile de debutantes da vida real. A inocência pode ser perdida, ou abandonada, a qualquer momento: aos dez, quinze, trinta anos (quando alguém lhe diz que as nuvens não são feitas de algodão). Conheço crianças sem nenhuma inocência e adultos com toda inocência do mundo – não há regras.

Acho que perdi minha inocência quando comecei a ter medo das pessoas, quando passei a atravessar a rua para não trombar com um tipo estranho, quando menti para não ofender alguém, quando resguardei meu coração para não ser magoado. Quando evitei um aperto de mãos, um beijo no rosto, de pessoas que são obrigadas a me tolerar.

Acho que perdi minha inocência quando mirei aqueles olhos e nada vi, quando o silêncio tomou o lugar da indiferença, quando duvidei de promessas, de juras de amor.

O pior de perder a inocência é saber que passarei, inutilmente, o resto da vida procurando-a, mesmo tendo certeza que jamais irei reencontrá-la, não como ela já foi um dia.

Desacreditar na humanidade não tem volta.
 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

ALÉM DO QUE SE VÊ

Não costumo indicar filmes, parece um misto de pretensão com responsabilidade. No entanto, muitas pessoas (muitas mesmo), frequentemente me pedem sugestões, perguntam qual foi o filme que vi recentemente e que vale a pena, o que há de interessante em cartaz, etc. Sendo assim, vez ou outra, selecionarei alguns trabalhos que vi (ou revi) este ano. Sem nenhuma pretensão, mas com extrema responsabilidade.

ELEIÇÃO (Election, EUA, 1999)
Direção: Alexander Payne

A fugaz disputa pela presidência de um conselho estudantil é o pano de fundo ideal para Alexander Payne dissecar sua crítica à sociedade americana a partir do universo de uma típica high school. As narrações em off, feitas por diversas personagens, deixam ainda mais ácida, e divertida, essa comédia de humor negro. Além de resgatar Matthew Broderick, “Eleição” ainda tem o mérito de trazer a melhor interpretação da superestimada Reese Witherspoon.
MEU PAÍS (Brasil/ Itália, 2011)
Direção: André Ristum

O encontro de uma desconhecida meia-irmã com deficiência mental (Débora Falabella) após a morte do pai (Paulo José) é o ponto de partida para tentarmos entender essa família formada por um playboy esbanjador viciado em jogos (Cauã Reymond) e um executivo bem sucedido residente na Itália (Rodrigo Santoro), mas não se assuste com o elenco global, todos em boas atuações. Sem melodramas, o filme é introspectivo, repleto de sutilezas e fragmentos, europeu no melhor sentido que este adjetivo pode ter.

TOMBOY (França, 2011)
Direção: Céline Sciamma

Sem bandeiras ou estereótipos, a descoberta da sexualidade é vista através de Laura (Zoé Héran, perfeita), que aos dez anos é confundida com um menino pela nova vizinhança e decide assumir essa identidade. Nesses tempos, em que a homofobia é constantemente discutida, este é um bom exemplar que consegue abordar um tema tão difícil com delicadeza e sem excessos, principalmente com o apoio do ótimo elenco infantil.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

OS OLHOS DA RUA

Gosto bastante de fotografia, muito mais de fotografar do que ser fotografado (nas fotos da festa da empresa ou do aniversário de um amigo, dificilmente estarei em alguma, embora eu esteja em todas). Gosto, principalmente, quando consigo fotografar aquilo que os meus olhos veem, e não o que apenas parece com o que vejo. Com tantos, e variados, dispositivos moveis a disposição do usuário, a fotografia tornou-se algo absolutamente comum nos nossos dias – algumas vezes, quase banal. Organizando meus arquivos digitais dos últimos anos, selecionei três momentos da minha cidade natal, Santo Amaro da Purificação, sem folclores ou caetanices:
RIO SUBAÉ, SANTO AMARO, 2007
ONDE MORA MINHA INFÂNCIA, 2005



A SOLIDÃO DAS ANTENAS DE TV, 2012

segunda-feira, 14 de maio de 2012

FOGO AMIGO

Os ausentes servem de alvo fácil para qualquer tipo de comentário — não há escrúpulos. Ontem, não pude ir. Temo, também, ter sido alvo de munição pesada.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

HAROLDO

Eu tinha um tigre de sorriso triste que me acompanhava por todo lugar.
Um dia, ele foi morar numa caixa, em cima do armário. No entanto, não estava mais lá quando nos mudamos.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

VOMIT (GIRLS)

        Em noites cada vez mais melancólicas, uma companhia constante tem sido a balada épica “Vomit”, da banda californiana GIRLS (o título pode afastar um pouco, mas em nenhum momento a  palavra “vômito” aparece na canção). Inconscientemente, sussurro versos como “Lookin' for love” ou “Come in to my heart” durante o dia, às vezes feito um mantra. Costumo escutar seguidamente os seis minutos e meio da sua versão de estúdio, no entanto a performance ao vivo é quase uma catarse na minha alma. Para assistir até ao final, e no repeat.

terça-feira, 1 de maio de 2012

SÓ POR HOJE

         Vi 350 filmes no último ano.
      Mas não se enganem com a afirmativa, não estou me gabando, contando vantagem, tripudiando sobre quem sequer recorda quando foi a última vez que assistiu a um filme, longe disso. Quando me deparei com o número, fiquei com a sensação de que não tive vida social em 2011, embora tenha gastado cerca de setecentos reais apenas com idas ao cinema (conforme minha heterogênea coleção de canhotos).
        Agora, estou tentando não ver tantos filmes, embora eu admita que seja muito difícil, já que se tornou algo maior do que mero hábito, se aproximando do que pode ser considerado um vício. Se não vejo um filme, ao final do dia tenho a impressão de que está faltando alguma coisa – e realmente está.
       Acho que não seria nenhum exagero se existisse alguma associação especializada em dependentes da sétima arte.
       Até o momento foram 122 dias e 72 filmes, média bem inferior ao que estou acostumado. Comecei o ano com um Hitchcock, para manter a tradição,  passei por um Polanski, um Clouzout, alguns indicados ao Oscar, ao Globo de Ouro (para alimentar a conversa do bar), nada demais. Sei que falta um Fellini, um Bergman, um Kurosawa, mas esses serão encontros inevitáveis.
        Só por hoje, não verei nenhum filme. Amanhã, não sei.


 ***



Peter Griffin, de “Family Guy”, vai ao cinema na expectativa de que algum personagem pronuncie, em algum momento, o nome do filme dentro do filme. Não tenho a mesma expectativa, mas não deixo de achar engraçado quando encontro a imagem que adorna o cartaz em uma cena. 


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