“Quando eu era bem nova, minha mãe me levava para passear no Humboldt Park, pela margem do rio Prairie. Tenho vagas lembranças, como impressões de vidro, de um velho ancoradouro, uma concha acústica circular, uma ponte arqueada de pedra. O trecho estreito do rio terminava em uma grande lagoa e vi sobre a superfície um milagre singular. Um longo pescoço curvo ergueu-se de um vestido de plumas brancas.
'Cisne', minha mãe disse, sentindo minha excitação. Ele tamborilou na água brilhante, batendo suas asas grandiosas, e alçou voo no céu.
A palavra por si mal dava conta de sua magnificência, nem continha a emoção que ele produzia. Sua visão gerou uma necessidade para a qual eu não tinha palavras, um desejo de falar do cisne, de dizer algo sobre sua brancura, a natureza explosiva de seu movimento e o lento bater de suas asas.
O cisne mesclou-se ao céu. Fiz força para encontrar palavras que descrevessem minha própria ideia sobre ele. 'Cisne', repeti, não totalmente satisfeita, e senti uma pontada, uma saudade curiosa, imperceptível aos passantes, à minha mãe, às árvores ou às nuvens.”
'Cisne', minha mãe disse, sentindo minha excitação. Ele tamborilou na água brilhante, batendo suas asas grandiosas, e alçou voo no céu.
A palavra por si mal dava conta de sua magnificência, nem continha a emoção que ele produzia. Sua visão gerou uma necessidade para a qual eu não tinha palavras, um desejo de falar do cisne, de dizer algo sobre sua brancura, a natureza explosiva de seu movimento e o lento bater de suas asas.
O cisne mesclou-se ao céu. Fiz força para encontrar palavras que descrevessem minha própria ideia sobre ele. 'Cisne', repeti, não totalmente satisfeita, e senti uma pontada, uma saudade curiosa, imperceptível aos passantes, à minha mãe, às árvores ou às nuvens.”
[SMITH, Patti. Só Garotos. Companhia das Letras, 2010. Tradução: Alexandre Barbosa de Souza. 269 págs]
SINOPSE: Patti Smith se mudou para Nova York com vinte anos, no final dos anos 1960. Enquanto entrava em contato com parte dos aspirantes a artistas que partilhavam a atmosfera do 'verão do amor', conheceu sua primeira grande paixão - o futuro fotógrafo Robert Mapplethorpe, para quem Patti prometeu escrever este livro, antes que ele morresse de AIDS, em 1989. Tendo como pano de fundo a história de amor entre Patti e Mapplethorpe, este livro procura ser um retrato confessional da contracultura americana dos anos 1970. Muitas vezes sem dinheiro e sem emprego, mas com disposição, os dois viveram períodos de transformações - até mesmo quando Robert assume ser gay ou quando suas imagens consideradas ousadas começam a ser reconhecidas no mundo da arte.
Ah, se todos pudessem enxergar as belezas da vida com os olhos dos poetas, tudo seria mais lindo, suave e verdadeiro...belo texto, adorei! abraços
ResponderExcluirHá uns tempos fui aos "encontros da fotografia" no CAV em Coimbra e falaram destes dois senhores, Patti Smith e Robert Mapplethorpe. Amei.
ResponderExcluirVoltarei aqui... fiz me seguidora.
Beijinho
*http://oblogdasandracosta.blogspot.com/
Fiquei curiosa. Vou ler esse livro *-* rs
ResponderExcluirEste livro é maravilhoso,
ResponderExcluirpoético,
sensível,
forte,
histórico.
Patti Smith é extraodinária.
Gosto de histórias que permanecem mesmo depois das relações se terem extinto!
ResponderExcluirUm espetáculo essa referência ao cisne!
ResponderExcluirBeijos,
Interessante a sinopse, belíssimo o trecho.
ResponderExcluirDe repente me lembrei de que nunca vi um cisne...
Depois desse texto, descobri que é frustrante.
beijo, Herculano.
interessantíssimo ... não li mas já correndo para tê-lo e poder deliciar-me com ele ...
ResponderExcluirbjão
Gosto muito da vigorosa poesia de Patti Smith.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Valeu a dica de leitura. Parece interessante. Abraço!
ResponderExcluirEssa biografia eu quero ler... assim como a do Slash.
ResponderExcluirDaniel
Instigante, preciso saber mais... Vou atrás (então)! Ainda mais instigantes são os belos seios desta linda jovem esparramada em Rimbaud (trata-se da mesma modelo que ilustra outros 'posts' teus mais abaixo?! Quem é?)... Abraço! E um 2012 cheio de listas de ficção científica!
ResponderExcluirCuriosa para ler...
ResponderExcluirMe interessei pela história.
ResponderExcluirVou procurar o conteúdo.
Um Beijo
Putz! Esse é um forte candidato pra entrar na lista "Próximos a serem lidos", mas nunca lembro dele na hora que tô ali pronto pra comprar algo.
ResponderExcluirGostou dele?
Nas ternuras, entrelinhas de puro ver, pois apenas olhar não basta, é preciso provar do cheiro e do gosto!
ResponderExcluir=)
a natureza muitas vezes nos mostra, como trilharmos o nosso caminho, brilhando sempre.
ResponderExcluirbjs.Sol
Dizem que quando os artistas estão apaixonados, são criadas as melhores artes! ^^
ResponderExcluirPatti Smith é um ícone... Não conhecia essa biografia dela. Parece ser muito interessante.
ResponderExcluirCom certeza vou ler esse livro!
ResponderExcluirhttp://bruna-morgan.blogspot.com
Lindo e altamente poético este livro.
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