quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

BORA BAÊA!

           Time se escolhe.
           Mas a nítida sensação é que eu já nasci tricolor, muitos torcedores dirão igualmente, e não é apenas frase de efeito: é realidade. Se me perguntarem jamais conseguirei determinar exatamente quando passei a torcer – só sei que torcia.
           Na tarde de 19 de fevereiro de 1989, aos dez anos, aguardava ansioso pela transmissão da final do campeonato brasileiro do ano anterior (entre Internacional de Porto Alegre e Bahia da Bahia mesmo). A espera era solitária. Meus amigos e meu irmão eram mais jovens do que eu e da bola só queriam o baba; meu pai, torcedor do Vitória, pertencia ao grupo dos descontentes e naquela tarde, antes de sair pra trabalhar, me incumbiu de colocar a areia que estava na rua desde a manhã passada para o quintal. Deixei a tarefa para ser cumprida após a partida – a construção não tinha pressa.
           Pouco antes de começar o jogo meu tio Rui, rubro negro fanático, chegou discretamente em sua cadeira de rodas e se ajeitou do lado de fora, de onde podia assistir sem incomodar ou ser incomodado – ficou em silêncio e assim foi embora.
           Bahia campeão. A imagem do goleiro Ronaldo agradecendo aos céus e minha mãe desligando a televisão:
           - Vai fazer o que teu pai mandou!
           Ok, manda quem pode e, embora não pareça, nunca me faltou juízo.
           Enquanto carregava um balde caindo aos pedaços, cheio de areia, acompanhava o espocar dos fogos e os gritos de euforia dos torcedores que não paravam de multiplicar. Num momento de distração feri meu punho no alumínio do balde e ainda tive de ouvir de minha mãe alguns impropérios antes dela isolar o ferimento com uma faixa feita de tiras de pano.
            Ainda trago a cicatriz.

Um comentário:

  1. Alvaro torçer pelo Bahia é muito mas que um modismo é prazer indiscutivel é uma prova cabal de fidelidade.

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