quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

CASA DE TAIPA

Na antiga vila em que meus avós moravam havia um compromisso tácito, um tipo de acordo comunitário, onde todos se ajudavam – uma organização social sonhada por teóricos, mas praticada por indivíduos simples. Na construção das casas de taipa, por exemplo, homens e mulheres tinham funções distintas, enquanto as pessoas mais velhas pisavam o barro entoando cantos, ditando o ritmo do trabalho, as mulheres passavam aos homens os montes de massa para ser socado entre as estacas, tudo regado com muito samba e alegria. Numa época de costumes rígidos e recato a entrega do barro possuía um simbolismo próprio, uma espécie de rito de passagem: para quem a mulher entregasse mais barro era como se ela também se ofertasse, como se ela dissesse que estava pronta, era um momento disputado, quando ela escolhia seu parceiro. Meus avós, que cresceram juntos, decidiram que seriam um do outro na construção da casa de uma tia-avó que não conheci, surpreendendo muitos.
Vivi meus primeiros anos numa casa de taipa bem pequena, embora sempre a recordo maior do que foi. Da parede perto da minha cama, certa feita, caiu um pouco de barro e surgiu uma fenda, que se transformou num buraco – era a minha janela. Do buraco observava o terreno baldio onde brincavam os cães. Numa manhã chuvosa, improvisando com plástico preto, meu pai fechou o buraco. Não há um único dia, ao apertar o número 6 do elevador, que eu não lembre da casinha de taipa e da janela dos cães.

2 comentários:

  1. meu amigo

    A poesia é um estado de alma..

    um beijinho para ti


    PRADO VERDE


    Como o prado é verde...
    Verde com salpicos aqui e ali...

    Mas o todo é sempre verde...
    E o olhar corre toda a extensão...
    E fico a ver o verde o tal verde...
    Que nos dá liberdade...
    Que nos mostra esperança...
    Que nos deixa que o infinito seja verde
    E deixa que os olhos continuem...
    A olhar e continuem a amar!...

    LILI LARANJO

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  2. Cheguei aqui pela Taipa. Interessou-me a descrição da forma de execução mas também a fotografia, que apesar da pouca resolução dá pistas. Se estiver na disposição de falar um pouco sobre isto, poderia pedir-lhe o favor de me enviar um email (claracpvale@gmail.com)? Obrigado

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