terça-feira, 8 de março de 2022

NO TOCA-FITAS DO MEU CARRO XIII

Porque sou o meu próprio Mariozinho Rocha

No começo dos anos de 1980, praticamente todos os lares de Santo Amaro possuíam uma cópia do LP “CAVALO DE PAU”, de Alceu Valença – pelo menos todas as casas que eu frequentava ou que minha memória da infância permite lembrar. Possivelmente estimulado pelos sucessos “Tropicana” e “Como dois Animais”. No entanto, a canção que me inquietava era a faixa título, com uma formação mais enxuta, apenas baixo/bateria/guitarra/piano, em um arranjo minimalista muito mais próximo do experimentalismo do rock do que dos ritmos regionais que caracterizavam o álbum, culminando em um Alceu, a plenos pulmões, vociferando sua letra. Era um som que, naquele contexto, causava inevitável estranheza. Curiosamente, seus versos só começaram a me trazer real significado após vários anos, depois que vim parar na capital. Quando, aos poucos, fui desconhecendo aquele menino do interior em mim e, irremediavelmente, deixando a minha inocência para trás – talvez o bem mais precioso que perdi na vida. Por mais que eu insistisse em procurá-la, esquecida na mala/em um canto dos olhos, sabia que jamais a reencontraria novamente. Minha inocência era como aquele cavalo de pau que se torna arisco, indomável, que me derruba, que me nega, determinando que agora era tempo de caminhar sozinho.

(Publicado originalmente em agosto de 2010)

 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente apenas se leu a postagem.

Related Posts with Thumbnails