Nasci em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, onde a prática da capoeira é muito forte e comum. Lá todo mundo conhece ou tem uma história para contar sobre as façanhas do lendário capoeirista Besouro Mangangá. Durante a infância a figura de Besouro povoava meu imaginário das mais diversas formas: suas habilidades e feitos no começo do século passado, a se esquivar de balas no melhor estilo pré-Matrix, saltos e golpes mirabolantes a lutar contra os resquícios escravocratas, desbancando homens armados. Um heroi alcançável, símbolo de coragem e valentia, que ia além dos uniformizados dos quadrinhos e tv. Com tantas imagens cultivadas na memória acessei, como milhares de pessoas fizeram, ao trailer do filme no YouTube (mais de uma vez), afinal o mito local havia ultrapassado os limites do folclore e chegado à tela do cinema com uma arte marcial popular e pouco explorada e lutas coreografadas pelo chinês Huen Chiu Ku (de “Kill Bill” e “O Tigre e o Dragão”). Assim resolvi encarar a sessão de estreia do filme, curiosamente havia um público jovem, historicamente preconceituoso e reticente ao cinema brasileiro, porém tive as expectativas frustradas ao me deparar com uma obra cinematográfica inconsistente, com pretensões visuais exageradas e diálogos didáticos que remetem às manhãs do Telecurso. Sofro de “vergonha alheia”, um mal que ainda carece de medicamentos, e acompanhar o roteiro desestruturado se apoiar num misticismo gratuito e na desgastada fórmula do triângulo amoroso, e de quebra o amadorismo do elenco e uma montagem confusa, só fez me afundar mais na poltrona. Poderia valer pela valorização do negro como protagonista de uma grande produção, mas não é suficiente para suprir as claras deficiências de um produto inacabado. “Besouro” é um dos filmes mais caros já produzidos pelo cinema nacional, boa parte dos recursos oriundos de leis de incentivo, que nem de longe se espelha no Besouro cantado nas rodas de capoeira ou o das histórias narradas pelas pessoas mais velhas de Santo Amaro, esse sim, um Besouro sem preço e emblemático, que na minha imaginação realmente avoa.
Estava muito curioso para ver porque tenho também imagens tão fortes de Besouro, contadas por meu avô.
ResponderExcluirgosto do seu jeito peculiar de escrever. é daquele tipo que faz sentir, sabe?
ResponderExcluirgosto do seu jeito peculiar de escrever. é daquele tipo que faz sentir, sabe?
ResponderExcluirO PIOR FILME QUE EU JÁ VI. MUITO BARULHO POR QUASE NADA. E O QUE ERA AQUELA GUITARRADA DA NAÇÃO ZUMBI? NADA A VER. NOTA 3.
ResponderExcluirCompartilhamos o mesmo sentimento de ter o lendário Besouro passeando em nosso imaginário através dos "causos" contados pelos mais velhos. Fiquei um pouco decepcionada, tomando como referência o seu comentário sobre a qualidade da produção, porque ainda não vi o filme.
ResponderExcluirMas em fim, ler-te é sempre prazeroso.