quarta-feira, 24 de março de 2010

A VINGANÇA DOS INTITULADORES

          Quem acompanha cinema conhece os filmes antes deles serem lançados no Brasil, por isso é comum escutar algum cinéfilo, não por esnobismo, pronunciar o título na língua original. Este ano alguns filmes que concorriam ao Oscar® me chamaram a atenção não pela obra, mas pela denominação que ganharam por aqui. Fiquei impressionado com a criatividade dos departamentos de marketing das distribuidoras brasileiras, que conseguiram transformar “The Blind Side” em UM SONHO POSSÍVEL, “Up in The Air” em AMOR SEM ESCALAS e, acredite, “A Single Man” no novelesco DIREITO DE AMAR. Sei que filme é um produto e que deve ser vendido da melhor forma, mas não precisa tripudiar a inteligência do espectador com inusitadas criações – que confundem mais do que explicam e até afugenta e engana parte do público. Não estou a fazer campanha para o uso dos títulos originais nem para a tradução literal, mesmo porque alguns são de difícil pronúncia e outros são intraduzíveis ou ininteligíveis, apenas queria que houvesse um pouco de bom senso e tentassem ao máximo preservar seu sentido. Na maioria das vezes os funcionários desses departamentos sequer assistem aos filmes, apenas se valem da sinopse e palavras chave. Termos como: do barulho, da pesada, confusão, em apuros, fatal, uma família, segredo, vingança, surpresa, atrapalhada, loucura, mortal, entre outros, estão sempre na mesa. Parece até que as palavras são sorteadas e o resultado é o nome do filme. Não me surpreenderia se eu encontrasse numa prateleira de locadora algo como UMA VINGANÇA DA PESADA ou LOUCURA MORTAL (se é que já não existem). Expressões populares também fazem a alegria desses profissionais, daí “The Heartbreak Kid” transfigurar-se em ANTES SÓ DO QUE MAL CASADO, “Knocked Up” virar LIGEIRAMENTE GRÁVIDOS e “Uncle Buck”, QUEM VÊ CARA NÃO VÊ CORAÇÃO. Experimente observar o título original do próximo filme a que assistir e é quase certo que encontrará algo inacreditável, vide “Shane” (OS BRUTOS TAMBÉM AMAM), “Bonnie and Clyde” (UMA RAJADA DE BALAS), “The Graduate” (A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM) “The Giant” (ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE), “West Side Story” (AMOR, SUBLIME AMOR) ou “Total Recall” (O VINGADOR DO FUTURO). Se o tempo tornou aceitável esses o que dizer de “Fly me to the Moon” (OS MOSCONAUTAS NO MUNDO DA LUA), “Zack and Miri Make a Porno” (PAGANDO BEM QUE MAL TEM) e “The Hangover” (SE BEBER, NÃO CASE)? Além dos casos de “Down by Law” que foi abrasileirado para DAUNBAILÓ e “Taxi Driver” que ganhou e perdeu o epíteto MOTORISTA DE TAXI. Já “Ocean’s Eleven” se tornou ONZE HOMENS E UM SEGREDO, pior foi em Portugal que o rebatizaram como FAÇAM AS VOSSAS APOSTAS (“Vertigo”, um dos muitos clássicos do mestre Hitchcock, que aqui é UM CORPO QUE CAI virou A MULHER QUE VIVEU DUAS VEZES para os portugueses).
           Os professores de gramática poderiam utilizar esses títulos em suas aulas, um exemplo de paradoxo seria MEU PRIMEIRO AMOR 2, de pleonasmo O PEQUENO STUART LITTLE e de cacófato FÉ DEMAIS NÃO CHEIRA BEM. É raro, mas há vezes em que a versão brasileira é melhor que a original, como “The Shawshank Redemption” (UM SONHO DE LIBERDADE), o oscarizado “Million Dollar Baby” (MENINA DE OURO) ou o filme de 1986 com Anthony Hopkins e Anne Bancroft sobre a longa correspondência entre dois desconhecidos, cujo título original é o endereço de uma livraria (“84, Charing Cross Road”) que no Brasil gerou o suspirante NUNCA TE VI, SEMPRE TE AMEI.
           Por brincadeira resolvi submeter a denominação do meu blog, POR QUE VOCÊ FAZ POEMA?, ao departamento de marketing de uma famosa distribuidora, juntamente com as palavras chave POESIA, CINEMA e INTERSECÇÕES, alegando que eu era um produtor e pretendia divulgar por aqui essa nova comédia argentina. Surpreendentemente, duas semanas depois, recebi a inspirada sugestão: DEU A LOUCA NA POESIA.

18 comentários:

  1. muito louco tudo isto ... tudo vale em nome da grana ...

    bjux

    ;-)

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  2. É pra rir ou pra chorar?

    Sempre tive o costume de olhar os títulos originais dos filmes, e nunca consegui entender o porquê de os "abrasileirar" ou torná-los tão parecidos e repetitivos...

    Ridículo, como tanta coisa que vemos por aí ;)

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  3. Herculano!
    Adorei seu texto, pois sinto a mesma indignação quando me deparo com coisas grotescas como essas e ainda falando sobre filmes, também me descabelo com as dublagens pavorosas, onde não há a mínima preocupação em escolher vozes que se equiparem às das personagens!!!

    Um beijo!

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  4. hahahaha de uma inspiração realmente invejável.

    Ótimo!

    Beijo pra você

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  5. Lembro-me que nos anos 80 o sucesso de Michal J. Fox fez com que “Teen Wolf”, o lobisomem juvenil que Renato Russo adorava, se tornasse O GAROTO DO FUTURO. Outros que sofreram com isso foram os diretores Billy Wilder com FARRAPO HUMANO, CREPUSCULO DOS DEUSES e SE MEU APARTAMENTO FALASSE e Woody Alen com NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA e MATCH POINT – PONTO FINAL. Hoje em dia tasca-se “Deu a Louca” em tudo, são os filhos da LOUCADEMIA DE POLÍCIA.

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  6. Poeta Querido Herculano Neto,

    Pior foi a tradução do belo filme: "Vôo acima de um ninho de um cuco" e distribuido no Brasil: "Um estranho no ninho", nele, o talentoso Jack Nicholson (nome artístico de John Joseph Nicholson; Nova Iorque, 22 de abril de 1937) faz o papel principal.
    Beijos,
    Miguel Carneiro.

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  7. Suas críticas são muito boas. e você esta certo podes crer!

    BeijooO'

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  8. Ai meu deus!! Verdade!!
    E faço traduções aqui para a secretaria da cultura dos filmes do festival de cinema. Gente! É um terror. Ele não nos deixam ver o filme, mandam só a sinopse e quando eu ligo pedindo para ver, não posso. Daí, eu tenho que traduzir assim mesmo. Imagine vc a roubada em que tenho me metido.
    Beijos
    Voltarei!

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  9. Mas olha que o "Nunca te vi, sempre te amei" pra mim foi demais. Achei melhor esse do que o original. EStá na minha coleção aqui. ;-)
    Sou boba, né?
    http://natramadanet.blogspot.com/2009/02/nunca-te-vi-sempre-te-amei.html
    beijos

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  10. Impressionante! Do jeito que sou avessa à ludibriações...
    Tens razão, os marqueteiros subestimam-nos.

    Abraço.

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  11. Tradução já não é uma atividade fácil de se realizar. Requer muita atenção e conhecimento da língua materna e da língua que se está traduzindo. Eu até entendo quando mudam completamente o título de um filme no caso de algo "intraduzível". Mas tem situações que chega a ser ridículo mesmo. Acabam descaracterizando o filme com esses titúlos imbecis como é o caso de "Up in The Air" e "A Single Man". Eu não fico com vontade de assistir um filme chamado "Amor sem escalas", mas o titúlo original já é bem mais intrigante. Sei lá. É que nem aconteceu com "All About Eve", que aqui virou "A Malvada". Acho que acaba mudando o objetivo, sabe?

    Bem, é isso aí.
    Obrigada pela visita e pelo comentário lá no meu blog.
    Já estou seguindo o seu. :)

    Beijos!

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  12. Eu gosto dos títulos a brasileira, acho criativo.

    BeijooO'

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  13. Boa crítica. Sempre estou por aqui, acompanhando.

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  14. Deu a louca na poesia, foi péssimo.

    A gente, às vezes, 'pena' pra entitular uma criação, pra um mané distorcer tudo..rs Falta de respeito.

    Enfim foi um prazer conhecer 'tua casa'.
    Até uma proxima. Adorei os versos.

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  15. Herculano,
    Andei pisando em seu solo
    Tudo aquí é belo.

    Parabéns!

    Um abraço da terra de Jorge de Lima, Aurélio Buarque de holanda e Graciliano Ramos.

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  16. adoro filmes nacionais, se puder enviar agumas dicas de filme bons agradeco.

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  17. adoro filmes nacionais, se puder enviar agumas dicas de filme bons agradeco.

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