quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

VIRADA DE PÁGINA XII

Papel jornal, couché, off-set, polén, reciclado, kindle ou pdf

Houve uma época em que eu costumava me designar como escritor, ao ser apresentado a  amigos de amigos ou ao preencher algum formulário, pouco importava, assim eu compreendia quem eu era – o que levava muitas pessoas a me inquirir sobre qual seria meu "trabalho de verdade", como se escrever não fosse profissão. Para a prosa não render, há algum tempo me identifico, meramente, como um reles barnabé. Por outro lado, quando esbarro com executivos, bancários, ratos de repartição ou workaholics em geral me atrevo a perguntar: e quem você realmente queria ser? A intenção não é ser desmancha-prazeres nem guru (des)motivacional de ninguém, de coach de autoajuda o planeta tá infestado, apenas confirmar que muitos músicos, pintores, estilistas, artesãos que por suposta segurança financeira ou pressão social vão adiando seus sonhos, deixando para “depois”, um “depois” que parece não ter data para acontecer. Contradizendo o Clube da Esquina, sonhos envelhecem. 

DUAS VIDAS, do francês Fabien Toulmé, parte de uma premissa aparentemente simples, um jovem advogado descobre ter câncer terminal e é impulsionado pelo irmão a aproveitar o que ainda lhe resta de vida fazendo o que sempre desejou e não teve coragem, uma jornada comovente que desembocará em um bem construído plot twist despertando reflexões que se prolongarão após o término da leitura. A HQ abre com uma célebre citação de Confúcio que diz que temos duas vidas, mas a segunda começa quando percebemos que só temos uma. Recordo de uma música de Raul e Cláudio Roberto e de repente me dou conta, com inevitável desalento, que posso ter me tornado o personagem daquela canção.

 

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