Aquela série que eu te falei
Em uma pequena cidade, daquelas em que todo mundo conhece todo mundo, uma detetive investiga um caso de desaparecimento enquanto tenta sobreviver às intempéries da sua vida pessoal. Falando assim parece apenas um enlatado policial genérico com cara de Supercine, Coca-Cola sem gás e pizza fria. Mas é o primeiro de tantos enganos que Mare of Easttown (minissérie da HBO) nos propicia. O roteiro nos convida para elucidar o mistério e sorrateiramente nos passa a perna com plots inusitados, mas orgânicos dentro da proposta, transformando nossos achismos, a cada esclarecimento, em irrelevantes deduções – ser ludibriado aqui é quase um prazer. A série só não nos engana quanto às suas reais intenções, desde o título está lá, Mare de Easttown é Marianne Sheehan: uma heroína pouco usual que não esconde seus defeitos, imperfeita como qualquer um de nós, uma pessoa tendo de lidar com questões íntimas que nem ela quer encarar, priorizando o trabalho à família e às relações amorosas, descuidando-se muitas vezes da aparência, acentuando rugas, cansaços. Uma personagem ranzinza e pessimista certamente não funcionaria se não fosse interpretada por uma atriz no seu auge como Kate Winslet, em um desempenho soberbo, tornando cativante uma protagonista que nas mãos erradas teria tudo para nos repelir. O texto e o elenco de apoio transcorrem perfeitamente, fazendo nos importar com os coadjuvantes de igual maneira, peças que ajudam a descortinar as camadas dessa mulher além do mero drama policial.
Descobrir quem é o culpado nunca foi tão desnecessário.
Descobrir quem é o culpado nunca foi tão desnecessário.
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