(...)
No trabalho de estreia do compositor Marcelo Camelo, com a banda Los Hermanos em 1999, o termo que amiúde norteava suas composições era um indefinido “outro alguém”, mesmo já sinalizando nesse primeiro momento um namoro com o cancioneiro nacional mais antigo, fosse na forma poética de canções como AZEDUME (sei que um dia a rosa da amargura/ fenecerá em razão de um sorriso teu) ou nos arlequins e colombinas de PIERROT. Depois, num rápido e surpreendente amadurecimento musical, um diálogo que aparentava adquirir força se insinuou com a gíria “cara”, que foi “valente”, foi “estranho”, foi tranquilo (de onde vem a calma/ daquele cara?) mas que logo se desanuviou. No entanto, foi a “moça” de ALÉM DO QUE SE VÊ que saltou aos ouvidos em seu terceiro e mais representativo trabalho, VENTURA, em 2003. O uso da palavra “moça”, ainda que carregue uma suposta ingenuidade, um bucolismo, em oposição à “morena”, que é muito mais lasciva, provocativa, e que poderia muito bem dar lugar a esta, não afetando significativamente a linha melódica ou o sentido da canção (Moça, olha só o que eu te escrevi), era algo muito diferente do que vinha sendo feito no machista mundo do rock até então. Não era uma garota, uma menina, uma “gata” ou uma mulher, era simplesmente uma “moça”, que soava inusitado e, ao mesmo tempo, natural - mais tarde, essa “moça” reapareceria nas faixas TUDO PASSA e MENINA BORDADA, do seu début solo (SOU/ NÓS), em 2008.
Apenas no quarto e derradeiro disco da banda, em 2005, a “morena” surgiria realmente, não faceira como outrora, mas melancólica, introspectiva, decorativa.
É possível que a “morena” que habita o imaginário de Marcelo Camelo não seja assim tão folclórica, tão arraigada de simbolismos. É possível que a sua “morena” vá além da cor da pele, que não seja como as cabrochas das canções do Luiz Gonzaga, que seja uma companheira silente, que nem saiba sambar, que nem seja morena (...)
No trabalho de estreia do compositor Marcelo Camelo, com a banda Los Hermanos em 1999, o termo que amiúde norteava suas composições era um indefinido “outro alguém”, mesmo já sinalizando nesse primeiro momento um namoro com o cancioneiro nacional mais antigo, fosse na forma poética de canções como AZEDUME (sei que um dia a rosa da amargura/ fenecerá em razão de um sorriso teu) ou nos arlequins e colombinas de PIERROT. Depois, num rápido e surpreendente amadurecimento musical, um diálogo que aparentava adquirir força se insinuou com a gíria “cara”, que foi “valente”, foi “estranho”, foi tranquilo (de onde vem a calma/ daquele cara?) mas que logo se desanuviou. No entanto, foi a “moça” de ALÉM DO QUE SE VÊ que saltou aos ouvidos em seu terceiro e mais representativo trabalho, VENTURA, em 2003. O uso da palavra “moça”, ainda que carregue uma suposta ingenuidade, um bucolismo, em oposição à “morena”, que é muito mais lasciva, provocativa, e que poderia muito bem dar lugar a esta, não afetando significativamente a linha melódica ou o sentido da canção (Moça, olha só o que eu te escrevi), era algo muito diferente do que vinha sendo feito no machista mundo do rock até então. Não era uma garota, uma menina, uma “gata” ou uma mulher, era simplesmente uma “moça”, que soava inusitado e, ao mesmo tempo, natural - mais tarde, essa “moça” reapareceria nas faixas TUDO PASSA e MENINA BORDADA, do seu début solo (SOU/ NÓS), em 2008.
Apenas no quarto e derradeiro disco da banda, em 2005, a “morena” surgiria realmente, não faceira como outrora, mas melancólica, introspectiva, decorativa.
É possível que a “morena” que habita o imaginário de Marcelo Camelo não seja assim tão folclórica, tão arraigada de simbolismos. É possível que a sua “morena” vá além da cor da pele, que não seja como as cabrochas das canções do Luiz Gonzaga, que seja uma companheira silente, que nem saiba sambar, que nem seja morena (...)
Aah Moço, como eu admiro seu jeito de escrever!
ResponderExcluirUma semana redondinha pra vc.
Beijao
Parabéns pelo texto, Herculano. Li na íntegra. Vc faz com que eu curta como poesia o que eu não curto como musica.
ResponderExcluirPoesia intravenosa... desenhada entre linhas de mil formas!
ResponderExcluir♥
e é bem provável que a morena rime com a pequena de "Último romance".
ResponderExcluircostura boa essa. vai desenhando com a linha tantos outros bordados na bandeira deste país...
ResponderExcluirO primeiro cd do Marcelo foi genial e a divulgação também. Vou procurar esse cd para ouvir. Yayá.
ResponderExcluirGosto do Camelo como compositor, como interprete não curto :/ rs Bjs
ResponderExcluirNossa, escritor!
ResponderExcluirAmei o texto.
Sou admiradora de Marcelo Camelo, o ler por tuas palavras foi mais que um presente.
Por vezes, sonho ser a moça ou a Morena de suas letras...
É só sonho. Um sonho bom!
Teu blog é uma delícia!
Beijo mágico!
Dando asas ao nosso imaginário...Gosto disso...
ResponderExcluireu li e comentei em outro site. será que chegou a você?
ResponderExcluirsemana que vem tem show dele aqui e nem vou. se fosse los hermanos...
Viajei e deslizei no seu texto,que gostoso!
ResponderExcluirNa revista? De Novo? Adorei.. Sorte!
ResponderExcluirConheço algumas músicas da banda, pois meu esposo curte muito ela!
ResponderExcluirEssa "azedume" até "tirei" no violão pra tocar...também acho legal aquela música se não me falha a memória chamada "Flor"...
bjs e paz!
Ver o Marcelo pelos teus olhos é bom...
ResponderExcluirBeijos,
Beleza de texto, Herculano.
ResponderExcluirEu ADOREI, sou uma grande fã!
ResponderExcluir'Se um homem enfim entende
ResponderExcluira fundamental geometria das coisas,
em seu esplendor,
sua poesia é exata e sua aritmética, musical' [Ralph Waldo Emerson]. a poética do Camelo e a sua musicalidade. sintonia.
Adorei o texto, és preciso!
ResponderExcluirAbç!
Bonita essa mistura de termos que abre um leque de interpretações. As composições dele me remetem sempre ao que é singelo, dito de forma "escapada" e por isso mesmo tão significativo.
ResponderExcluirUm beijo.
Estava com saudades de suas palavras, meus dias sem ter o que dizer me tirou ate gosto por ler. mais volto e aos poucos recupero o que perdir..
ResponderExcluirbjs
Insana
Estou entrando em contato com seus escritos agora e já os admiraria somente pela qualidade, mas, no primeiro contato, já me deleito com um texto que costura com linhas de jornalismo e poesia a obra de um dos componentes da minha banda preferida. É arrebatador! Sem dúvida voltarei e espero ser visitado.
ResponderExcluirCertamente assim como um Brasil que se redescobre aos poucos em negritude e político, esta Morena que Camelo de forma tão equânime presenteia a nós mulheres que não descemos às ladeiras sibilantes e insinuantes, que não acreditamos na democracia racial Freyrana e não desejamos deitar com o patrão, pq somos a “Dono do nosso próprio jogo”. A cada dia pertenço mais a morena de Camelo, mesmo olhando nos meus espelhos facetados e me vendo cada dia mais preta. Parabéns Herculano por mencionar a firmeza de não seguir a maré do machismo como faz o poeta de forma tão linda e firme!
ResponderExcluirEncontrei seu blog me perguntado, "quem será essa morena do camelo?" Meu cérebro insiste em dizer que nem morena é, mas, vai saber. Um caso ou acaso, enfim, só o camelo pra dizer.
ResponderExcluirAbraços