Não me vejo namorando na Praça da Bandeira, atrás do prédio da cadeia, nem passeando com minha roupa de domingo pela Praça da Purificação, essas praças não me pertencem mais. Me vejo apenas na Praça do Rosário, correndo descalço atrás do bonde, brincando de esconde-esconde no Largo da Cruz (1,2,3: achei você!). Me vejo nos atalhos do Maricá, trocando alumínio por Grapette, espantando maruins na descida do Tauá, “roubando” bananas no beco de Narciso, anoitecendo no tamarineiro.
Sou eu tocando trompete na Santa Mazorra de Dona Zica, bradando “É Maro-Maro” no gol de Careca, acordando com os pés dentro d’agua na casa inundada, imitando Besouro contra Bruce Lee, saudando o camarada Maru, a velha Domingas, Seu Chiquinho do Apolo. Sou eu aos prantos cantando “Trilhos Urbanos” no adro durante as festas, pedindo silêncio para escutar a nota de falecimento no beco da Rencau, recitando “Papai Noel – Pólo Norte” no Teodoro.
Não sou estrangeiro, sou nativo.
Sou Calolé, Destilaria, Conde e Pilar. Sou Campo do Arroz, Colibri, Ideal e Botafogo. Sou São Francisco, São Bento, São Brás e São José. Sou Timbó, Acupe, Viúvas e Virgens. E quero a brisa vespertina do Senado; Geração 80 e Confronto; 2001 no Cine-Subaé; poesia na Selibasa; Sangue e Raça e Uhuru-Eby; A Sineta e O Ataque. Quero as glórias do passado no presente.
Não sou a interseção entre a rua direita e a estrada dos carros, não ostento sobrenome escravocrata. Sou índio do Trapiche, descendente dos Carijós. Sou bicho do mato, retraído tal qual a folha do não-me-toque.
Não sou de santinho, meu santo é grande, meu santo é forte, meu santo é doce, meu santo é amaro.
Caminhando pela cidade, vejo um menino sozinho, sentado num banco da praça. Aquela praça não me pertence mais (constatação sem lamento), mas ainda me vejo nos olhos daquele menino.
No perigo e na bonança dessa gente morena, estou.
Sou eu tocando trompete na Santa Mazorra de Dona Zica, bradando “É Maro-Maro” no gol de Careca, acordando com os pés dentro d’agua na casa inundada, imitando Besouro contra Bruce Lee, saudando o camarada Maru, a velha Domingas, Seu Chiquinho do Apolo. Sou eu aos prantos cantando “Trilhos Urbanos” no adro durante as festas, pedindo silêncio para escutar a nota de falecimento no beco da Rencau, recitando “Papai Noel – Pólo Norte” no Teodoro.
Não sou estrangeiro, sou nativo.
Sou Calolé, Destilaria, Conde e Pilar. Sou Campo do Arroz, Colibri, Ideal e Botafogo. Sou São Francisco, São Bento, São Brás e São José. Sou Timbó, Acupe, Viúvas e Virgens. E quero a brisa vespertina do Senado; Geração 80 e Confronto; 2001 no Cine-Subaé; poesia na Selibasa; Sangue e Raça e Uhuru-Eby; A Sineta e O Ataque. Quero as glórias do passado no presente.
Não sou a interseção entre a rua direita e a estrada dos carros, não ostento sobrenome escravocrata. Sou índio do Trapiche, descendente dos Carijós. Sou bicho do mato, retraído tal qual a folha do não-me-toque.
Não sou de santinho, meu santo é grande, meu santo é forte, meu santo é doce, meu santo é amaro.
Caminhando pela cidade, vejo um menino sozinho, sentado num banco da praça. Aquela praça não me pertence mais (constatação sem lamento), mas ainda me vejo nos olhos daquele menino.
No perigo e na bonança dessa gente morena, estou.
Perdoe-me os não santo-amarenses por um texto tão cheio de “códigos”.
ResponderExcluirA vida e o mundo em permanente mutação.
ResponderExcluirNão pertencemos a lado nenhum, apenas ao nosso pequeno ego, ou grande... depende apenas de nós.
Lembranças cristalizadas em um momento ao qual não pertencemos mais. Bonito texto
ResponderExcluirUm bj querido amigo
ainda restam olhos que se lêem,
ResponderExcluirabraço
Que delicia de texto!!!
ResponderExcluirMe encanta...
^_^•
Passando pra conferir teus posts!
ResponderExcluirbeijão!
adorei, é bom ter um ingresso por aqui! =)
ResponderExcluirQueria muito ter vivido com toda minha alma essa época. Trocar alumínio por Grapette, correr atrás do bonde... Parece que nas coisas mais simples, se escondem as maiores alegrias, não?
ResponderExcluirMuito bom.
Beijo meu.
Tentei-me lembrar dessas praças...
ResponderExcluirque tola!
Você ai na Bahia e eu cá no Ceará.
Acho que preciso reencontrar os parentes para conhecer esse lugares...
where..?
ResponderExcluirComo num sonho, num delírio; real e irreal se irmanam e brincam de ciranda neste mosaico de lembranças vividas e não vividas, de passado, presente e futuro.
ResponderExcluir"Passa o tempo
e a vida passa,
e eu, de alma ingênua,
acredito".
lembranças recheadas a lá vida
ResponderExcluirbeijos
Fico encantada com uma bela junção de palavras. Belo texto. Beijos da Joii.
ResponderExcluirOlá Herculano, parabéns pelo teu blog. Textos muito requintados, concisos. Muito bom!!
ResponderExcluirSou Diego Schaun, poeta e músico baiano. Meu blog é o www.diegoschaun.blogspot.com
Abraços, boa tarde!
Tão bom conhecer Santo Amaro assim através das tuas memórias e dos teus 'delírios poéticos'. Bela!
ResponderExcluirAbraço
Estou fora desta tua praça...Fico-me pela forma e pelos sentimentos:)
ResponderExcluirSelinho de Amigo de Ouro pra vc, meu bem!
ResponderExcluirhttp://diariodakiro.blogspot.com/2011/02/selinho-amigo-de-ouro.html
Bjinhoss!!!
Gosto de observar a simplicidade...!
ResponderExcluirBeijos.
(1,2,3: achei você!)Que bom que achei você!
ResponderExcluirPreencho-me e encho-me de coisas novas, palavras, lugares e até lagoas, rsrs. Abraço!Bom final de semana!
um santo doce ou amaro. um santo de gente ainda que indigente, mas gente de verdade, sem meios-termos.
ResponderExcluirobrigado por evocar essa chama um tanto escondida atrás de santinhos baratos.
abraço fraterno!
Olá...
ResponderExcluirque delícia de blog, textos maravilhoso, imagens significativas, amei seu cantinho.
Seguindo-te.
se puder passar pelo meu cantinho:
http://tatapalavrasaovento.blogspot.com
será muito bem vindo!!
Beijoss
bonito esse relato. algo de lembranças, marcas de vida.
ResponderExcluirtem algo de músicas lá no um-sentir :)
abraços.
Olá Herculano, vim retribuir a visita e fiquei surpreendida com tamanha emoção, teu texto traduz o que muitos de nós sentimos.
ResponderExcluir"... Quando minha alma perder a ingenuidade, então nada mais restará para mim, pois vivo da inocência mantida de minha alma..."
Bjos se cuida e tenha um ótimo fim de semana
já seguindo-te.
Você é tão, "você é tantos", "você é muito", e não é pouco. Além de nos deixar com esse gosto de infância e história construída que identifica cada um/a de nós. E as nossas singularidades, os nossos lugares nos mundos. Essa característica de único que somos, cada um e todos.
ResponderExcluirAbraço, Herculano e obrigada pelo texto!
Você é tão, "você é tantos", "você é muito", e não é pouco. Além de nos deixar com esse gosto de infância e história construída que identifica cada um/a de nós. E as nossas singularidades, os nossos lugares nos mundos. Essa característica de único que somos, cada um e todos.
ResponderExcluirAbraço, Herculano e obrigada pelo texto!
Este códigos são parte da tua vida, por isto penso que o pessoal de Santo Amaro te perdoa...
ResponderExcluirFique com Deus, menino Herculano.
Um abraço.
Um belo texto, além de intrigante. bjs e boa semana.
ResponderExcluirfaz tempo que não passo aqui e me surpreendo como temos o dom de escrever o que pensamos, sejam desabafos, dores, rancores, amores, postamos o que pensamos, sim...
ResponderExcluirtenho postagem nova, depois de um tenebroso inverno heheh
Beijos
Um pouquinho dos bons momentos, nas lembranças de doces imagens...
ResponderExcluirbjs
Insana
Que gostoso!
ResponderExcluirNa minha cidade também tem uma praça das bandeiras!
Bjos!
Ver-te em olhos de menino...Reflexo que estende a mão e convida a sonhar...a sentir saudade e reinventar a infância...
ResponderExcluirO inverno da alma está no tempo.
ResponderExcluirObrigado pelo Comentario.É um grande prazer ter-lo em meu blog, seus poemas são de lindos e retratam de uma forma tão especial Santo Amaro. Parabéns e muito Sucesso....
ResponderExcluirUm texto grandioso como a cidade, como um lar
ResponderExcluirCaro amigo, essa terra é cheia de encantos e magia, já vi "pretos velhos " por aí, quando de passagem... Abraço.
ResponderExcluirEae cara tranquilo?
ResponderExcluirSou o escritor e administrador do blog Escritos apra você - Http://escritosparavc.blogspot.com
Então vim aqui avisar-lhe que reproduzi o seu texto no meu blog, quero saber se tens algum problema caso tenha retiro em imediato, pois achei interessante e quis mostrar para o publico do meu blog, coloquei os devidos Creditos no texto. PEÇO QUE FAÇA UMA VISITA E COMENTE LA O QUE ACHOU POIS ASSIN QUE EU RECEBER O SEU COMENTARIO(caso não queira que seja reproduzido eu retiro imediatamente)
Ok!!
e o seu BLOG é show de bola( apesar de não ser sobre futebol...rsss) os textos e os comentarios sobre filmes e musicas são otimos ajuda muito a escritos jovens como eu que não temos uma base tão PERFEITA assim!!! e acho que é isso!
Obrigado!!!
É o que sufoca o imigrante a falta de referencia.
ResponderExcluirA Itália quase me matou, saudade de mim mesma, eu não estava lá.
Abraço
...a identidade que formaste com a tua 'aldeia' transcendeu o local em sí e chegou aos meus olhos,lembrando-me das minhas praças,avenidas, dos lugares que compõem minha construção, que abrigaram, brincaram e brindaram a menina que fui...confesso que cheguei à conclusão que a menina que sou, ainda pertence àquela minha pracinha. =)
ResponderExcluirMuito legal. Adorei. E a Santa Mazorra de dona Zica ainda persiste? Pergunto porque em Bom Jesus dos Pobres não se passa um ano que o folguedo não saia de casa em casa pedindo um tomate um alho ou um dinheirinho para se fazer a panelada. Um abraço.
ResponderExcluirSerá que esses olhos são só seus?
ResponderExcluirBruno Vang