A chuva é meu fetiche, meu feitiço, minha poesia (é o atalho preferido da minha caneta). A chuva me alegra, me acalenta, me acolhe. Gosto do prenúncio da tarde nublada, da garoa, da gota pesada que despenca da árvore, da poça que prolonga o caminho. Gosto das madrugadas chuvosas, dos pingos que escapam pelas frestas das telhas e encontram meu rosto, a página do meu livro. Ignoro previsões do tempo (o tempo é mágico, é imprevisível). Ignoro, também, guarda-chuvas (enfeia a cidade, atravanca a calçada e depois de usado se torna um estorvo; já o guarda-chuva fechado simboliza o pessimismo, é para quem acha que pode chover, quem está na chuva e não quer se molhar - há quem chame de precaução, mas para mim o precavido não passa de um pessimista). Gosto de permitir que a chuva me alague, me naufrague. Gosto do banho de chuva, do banho de infância, do “vem pra dentro menino”. Gosto da chuva fina, mais insolente. Gosto das tempestades, as mais furiosas. Gosto do abraço e do beijo sob a chuva. Gosto da chuva que molha a praça, os cabelos da morena, mas não termina a festa. Gosto do meu licor forte e com chuva. Gosto de chover e sempre chove em mim, mesmo quando não chove. No entanto, nunca espero que o pluvial e o fluvial, no seu eterno espetáculo de amor e ódio, invadam o dia das pessoas com arrogância, com descaso, de mãos dadas – e que o desespero e a aflição sejam as cenas de todos os capítulos. Quando a água alcança o meu peito, o quadro da minha sala, a parede da minha alma, não é mais o poeta quem chove. As águas de março fecham o verão, mas são as de abril que saúdam o inverno. Sem nenhuma promessa.
A chuva tem seus encantos e o melhor deles é poder lavar a alma...
ResponderExcluirUm beijo, Herculano!
Eu amo banho de chuva quando não estou indo a compromisso algum, mas, quando estou indo não é muito bom chegar molhada. E devo ser pessimista, porque tenho andado muito com guarda-chuva, pra proteger da chuva e sol.
ResponderExcluirDeve ter complicado sua vida a enchente. :/
Veremos poesia na chuva até sermos levados pela enxurrada... Bem, talvez depois, se nos salvarmos, ainda consigamos fazer poesia. E das boas.
ResponderExcluirA chuva é pura poesia: é inspiradora, tem um som gostoso, um cheiro de recomeço; e quando quer acabar com as pessoas, desabita, desmata, causa transtorno... chuva nem sempre vem com dó.
ResponderExcluirGostei do texto, Herculano.
Beijo.
Amei a chuva como fetiche!
ResponderExcluirHerculano:
ResponderExcluirparabéns . gostei. muito.esté o emu período preferido:
"Gosto de chover e sempre chove em mim, mesmo quando não chove. No entanto, nunca espero que o pluvial e o fluvial, no seu eterno espetáculo de amor e ódio, invadam o dia das pessoas com arrogância, com descaso, de mãos dadas – e que o desespero e a aflição sejam as cenas de todos os capítulos. Quando a água alcança o meu peito, o quadro da minha sala, a parede da minha alma, não é mais o poeta quem chove. As águas de março fecham o verão, mas são as de abril que saúdam o inverno. Sem nenhuma promessa."
beijo
Súplica santamarense: chover mas chover de mansinho, avalanche não. abraço.
ResponderExcluirEu também adoro a chuva.Fico levemente envolvida numa melancolia suave e gostosa.
ResponderExcluirSó o q me assusta é seu surgimento feroz q mais parece um arrastão.
Bela postagem.
Beijokas.
Herculano,
ResponderExcluir"É o mal que a água faz quando se afoga", já decantara em cântaros o poeta Renato Russo.
Vi pela Tv que abril abriu as nuvens sobre a Bahia, e eu que senti um pouquinho do feitiço de que você falou acima, das vezes que estive em Santo Amaro, fico daqui com o peito encharcado também, poeta.
Abraço mineiro,
Pedro Ramúcio.
Também dispenso o guarda-chuva, é um objeto que só atrapalha.
ResponderExcluirNossa que bem construido lirismo. É tão gostoso prosas líricas como essa. AI ai, a chuva, meu deus a chuva, ela tem algo mágico que nos leva a escrever não é? Acho que é inspiração em gotas, literalmente...
ResponderExcluirGrande Abraço!
Sempre tomo a primeira chuva do ano. Sempre!!!
ResponderExcluirNão costumo usar guarda-chuva, prefiro sentir os pingos gelados sobre meu rosto.
ResponderExcluirAdorei sua visita, seja sempre bem vindo.
Abraços
Coisa mais linda, Herculano! Demais!!!
ResponderExcluirChuva de louvores sobre você!
Um abraço
PS- Adorei sua visita! Caiu como chuvinha mansa , na madrugada...
Florbela Espanca tem um poema fantástico sobre chuva. Fico encantada também, mas é triste ver uma coisa tão bonita e mágica trazer sofrimento às pessoas, foi terrível aqui no Rio também...
ResponderExcluirBela crônica.
"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem."
ResponderExcluirSinto a perda, sinto o choro, a angústia das vidas atingidas, mas sinto a ira pelo descaso de quem diz ter resolvido o problema com soluções idiotas.
A chuva é sempre poesia. Quando afoga, nunca é culpada. Afinal, ela só chove pra brotar. Se não tem onde escoar, já não é problema dela. É de quem desmata, polui, entope os bueiros e constrói sem roteiro. O que falta não é sol. É educação.
ResponderExcluirÓtimo, Herculano.
Beijoca
"Gosto de permitir que a chuva me alague, me naufrague"... Só esta imagem bastaria! Texto lindo demais... Parabéns, Herculano! Abraço
ResponderExcluirFiquei super feliz com sua visita!!!
Obrigada!
Boas são todas as chuvas que limpam e constroem o melhor de nós, na transparencia, em sentimento...não gosto dessa chuva que destroe, alaga, inunda vidas a fora, sonhos a dentro. Dessas chuvas que nos faz chover dentro, em lagrimas que molham e salgam os dias com o mais pesar dos sofrimentos...abandono, desalento e descaso;
ResponderExcluirEnchentes que trazem o vazio pra vida da gente.
Lindo teu post.
Um reconhecimento aos que sofrem.
Um beijo
Erikah
Quando eu ainda era um bebè, com poucos meses de vida, caí numa enxurrada rsrsrsrs.
ResponderExcluirFui levada por águas de chuva daquelas que lavam as guias das cidades grandes. Passei pelas guias como uma vassoura auxiliando a fúria das águas em levar todo o lixo que polui visualmente as cidades....Ainda adoro chuva....
beijos Poeta.
Disseste bem e bonito, Neto, pois
ResponderExcluirque há mililitros de diferença entre 'o pluvial e o fluvial.'
A natureza que é tão bela,
com sua força desmesurada, destrói.
Todavia, impossível, não ressaltar a beleza poética de teu texto:
'Gosto que a chuva me alague, me naufrague.'
beijo
Olá Herculano! Esta semana estou divulgando uma “nova” postagem. Trata-se de um conto; que na verdade vem a ser uma reedição de meu blog. Sua postagem original ocorreu em 13.02.09; sendo esta a minha terceira postagem no blog. Naquela ocasião este texto não recebeu nenhum comentário. O texto é “O Sr. e o Dr.”. Espero que você, tendo um tempinho, o aprecie.
ResponderExcluirUm grande abraço, minha gratidão e desejo que tenha uma ótima semana!
Jefhcardoso
já temos muito em comum: o gosto pelos temporais e o desprezo pelo guartdachuva.
ResponderExcluirgostei tanto daqui que passo a seguir.
um abraço
Sempre chovo e muitas vezes faz bem, mas as águas quando invadem o outro, o que é do outro... aí já se torna agressão. E no caso do rio o agredido é sempre aquele que está menos protegido. Tristeza senti ao ver de longe minha terra assim.
ResponderExcluirEu também adoro a chuva, aliás moro em uma cidade onde a chuva tem hora marcada, vem todos os dias e aqui costumamos marcar encontros para antes ou depois dela, e temos as águas de Março tbm,onde a Baia do Guajará invade a cidade, só não gosto qdo a chuva e as aguas desabrigam as pessoas, onde destroem casas...isso eu não gosto, se bem que nem sempre é culpa dela.
ResponderExcluirUm beijo, espero uma visita sua Herculano.
eu gosto da chuva se eu estiver protegida dela. mas esses dias eu tomei um banho de chuva sem culpa e foi super libertador.
ResponderExcluirbjs
meu deus. nem sei o que dizer... seu texto tá realmente muito bom.
ResponderExcluirNossaaa, vc escreveemuito bem, e abri logo seu blog me indentificando muito com suas palavras, euu adro a chuva, e quando entro eh esperando realmente me molhar!
ResponderExcluirBjosss, estou t seguindo!
Amo a chuva e seu barulho.
ResponderExcluirAmo a beleza de uma tempestade.
Mas sinto medo delas.
Um beijO
"(o tempo é mágico, é imprevisível)"
ResponderExcluirconcerteza.
Gosto do cheiro de terra molhada que a chuva deixa, de banho de chuva e noites chuvosas, em que agente se agarra em alguem ou algum travesseiro mesmo, rsrs.
Mas prefiro dias de sol, principalmente nessa época em que chuvas andam fazendo bastante estragos. :X :/
Beijos, Herculano :)
Eu tbm gosto da chuva.
ResponderExcluirGosto quando ela me naufraga, me limpa.
E eu tbm me deixo chover por dentro.
Um abraço imenso!!
Infelizmente, as promessas se fecham em mais chuvas, seja literalmente, ou de inresponsabilidade pública (pelo menos aqui no esta do Rio de Janeiro com a construção de casas num lixão desativado)...
ResponderExcluirFique com Deus, menino Herculano.
Um abraço.
Por aqui, chove lirismo de primeira...
ResponderExcluirTexto cheio de lirismo,encanto,saber e sabor. Aprecio a chuva que encanta,acalenta ou limpa a alma, o corpo, a vida.Parabéns pela belíssima inspiração e obrigada pela visita ao Naveletras!!!!!
ResponderExcluirA chuva nos encanta com o seu pingo a cair, com o barulhinho que ele faz, com o cheirinho de terra molhada que ela deixa e com o prenúncio de um lençol cobrindo a nossa alma e um pedido de quero mais. Muito bom seus textos. Abraço.
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