quarta-feira, 14 de abril de 2010

“NUM DESSES ENCONTROS CASUAIS”

Foi só por um instante, mínimo; talvez menos de um segundo. Mas o suficiente para que seus olhos se encontrassem na interseção do acaso. Ela estava parada, aguardando o sinal fechar para poder atravessar a faixa de pedestres. Ele caminhava na calçada em sua direção. Ela corrigiu a postura, passou com discrição a mão pelos cabelos, umidificou os lábios. Sabia que aquele encontro fortuito poderia ser constrangedor, afinal já havia se passado alguns meses. Pensou, então, no que diria: começaria com um “oi”, um “olá”. Após a surpresa inicial trocariam no rosto beijos cordiais. Seguiriam-se os inevitáveis “como vai?”, “você por aqui”, “há quanto tempo”, “pois é, há quanto tempo”. Depois o silêncio falaria por eles, como no enredo de uma comédia romântica – ou entabulariam um diálogo ansioso antes que o sinal fechasse, tal qual Paulinho da Viola. Mas quem garantiria que ele não estivesse apressado ou não quisesse realmente conversar? Nesse caso bastaria um leve aceno de mãos ou de cabeça ou de sobrancelhas, nada mais. Quando se cruzaram, finalmente, ela respirou fundo, iria esboçar um sorriso, mas não houve tempo. Ele fingiu que não viu e seguiu em frente, sem olhar para trás. Ela atravessou a rua, mas não estava triste nem decepcionada. Gostaria apenas que alguém dissesse a ele que fingir que não viu não é somente indelicado, é inútil.

47 comentários:

  1. Genial... contemporâneo... tenso - clímax e desfecho bem delineados...

    ;)

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  2. rsrs...odeio quando fazem isso...
    fingem não ver...
    acho tão bom rever alguém...mesmo que esse alguém não seja tão bom...
    beijos
    Leca

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  3. Um clímax inteso, já vivi isso...
    Vou seguir teu blog...
    Bjs
    Mila

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  4. Eu já fiz isso...pode ate ter sido indelicado de minha parte, mas foi uma escolha...a indiferença que não me foi indiferente, e que me doeu muito.


    Um beijo.

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  5. "fez muito barulho por nada
    morreu silenciosamente"

    (Herculano Neto, se não me engano)

    tanta expectativa, e o silêncio foi quem falou mais alto.

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  6. Se precisamos fingir que não vimos alguém, é porque essa pessoa nos toca, de alguma forma...

    Abraço, Herculano.

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  7. Verdade, não é?
    Aliás, fingir qualquer coisa é inútil. Nossos inimigos não se importam e nossos amigos merecem sinceridade.
    É que o passado é mesmo muito teimoso e não reconhece o seu lugar. Sendo assim, há muita expectativa dentro de encontros ao acaso.
    Dá para passar bem perto e, em silêncio, ainda ouve-se o barulho que os dois fazem.

    Beijo solitário.

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  8. Muito bom. Como sempre, escreveu de forma única!

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  9. Fingir é sempre inútil, porque a verdade fica lá, martelando dentro do peito e no fundo dos olhos.

    É impressionante como ansiar, na maioria das vezes, nos traz frustrações.

    Beijoca, Herculano.

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  10. A vida é cheia dessas coisas, fazer o quê, né?

    Belo texto!
    Um beijo!

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  11. A frase final é de um realismo inquestionável. Inútil é a palavra certa, certíssima para definir essa postura imatura de encarar o que faz parte do passado.

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  12. fingir que não vê é quase dar ao outro a certeza de que viu demais. (o Paulinho ali. um suspiro.)

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  13. É dolorido quando acontece justamente o inesperado!
    _______

    Obrigada pelo comentário!!!!
    Adorei aqui,
    Sigo voce!!!!!!!!!

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  14. O que os olhos não veem o coração sente....
    Bj

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  15. Teve uma época que o óculos escuro disfarçava meu olhar, acontece que nem sempre faz sol e nos dias em que ele não aparece fica impossível evitar o embaraço.

    Abraço

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  16. Há também os que se escondem atrás de placas, de carros; os que fingem que esqueceram algo e mudam correndo de caminho; os que entram na primeira loja que aparece... Nos melhores dias, dá até pra rir dessas situações, rs.

    Abraço

    Laís

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  17. Há também os que se escondem atrás de placas, de carros; os que fingem que esqueceram algo e mudam correndo de caminho; os que entram na primeira loja que aparece... Nos melhores dias, dá até pra rir dessas situações, rs.

    Abraço

    Laís

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  18. Seu texto reforça minha teoria sobre a invisibilidade, como um dom unilateral, ficamos invisíveis quando outras pessoas querem. abraço

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  19. não é somente indelicado, é inútil. É também perder uma oportunidade única de talvez quem sabe, ser feliz!
    Abração.

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  20. reflexos e força do habito de nunca adentrar o mundo alheio... coisas da contemporaneidade, ou da humanidade, sabe lá...

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  21. Há na indiferência, na intolerância e na arrogância uma soma que nada mais é a raiz dos grandes males humanos.

    Bastante realista, sem deixar de ser sensível. Parabéns.

    Um abraço,
    Bruno Carvalho

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  22. Eu dou gargalhada disto. Fingir que não viu assim? Não dá.

    Seu texto merecedor do seu perfil, ou seria o contrário?

    Beijo

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  23. E é extremamente inútil!
    E esse suspense que antecede um encontro cujo prólogo se escreveu em meses é realmente de revirar o estômago! :~


    Enfim, voltei para meu óbvio utópico e agora está a todo vapor!
    :)

    Beijos

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  24. Fingir é sempre inútil...é mascarar aquilo que se sente, que se vê, que s cheira...é uma coisa que não é.

    ...vim em visita de cortesia. li, gostei e fiquei. prometo voltar.já ali estou no quadradinho da direita. :)

    beijo

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  25. Gostei tanto desse texto.
    Adoro textos sobre temas do dia-a-dia...

    E que chato isso de nem cumprimentar...

    Lembrei de alguém!

    Beijinho!

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  26. Tens razão. Não tão solitário assim quando se pensa na imensidão da companhia.
    Então, onde está a atualização?
    Sinto saudade das suas postagens nutritivas.
    Beijo - não tão - solitário.

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  27. Eu não deixei aqui um comentário?
    será que sonhei?

    beijo

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  28. Adorei! E você tem um curriculo (quem sou eu) invejável heein, rsrsrs.

    Te seguirei! Já esta la o 2º capítulo :) Beijos!

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  29. "Fingiu porque, talvez seu coração balançasse ainda pela moça. Mas não deixou de ser uma covardia da parte dele. Driblar-se do amor, das pessoas, da vida não é a opção correta, na minha opnião." :*

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  30. Olá meu caro poeta, interessante seu espaço na blogosfera ... Obrigada pelo carinho de sua visita e comentário no meu cantinho. Seja sempre bem vindo ! Grande abraço.

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  31. Fingir...Será que fingiu mesmo? Ou de fato houve uma recusa em ve-la?
    Ou terá ele atendido ao apelo silencioso emitido por ela, que atracessou a rua sem tristeza ou decepção?
    Por vezes a ignorancia de nossa presença é um alivio....

    Bejos

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  32. Não gosto de mentiras, fingimento...Pessoas falsas pra mim, nada e elas , são a mesma coisa.
    Estou fora da realidade?
    Tudo bem , não me culpo, estou cheia de amor para dar.
    Voce é 10, sabia!
    Beijo
    T I N I N

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  33. Então eu lhe digo: Fingir que não vê é inútil.
    Por que será que sempre achamos que o silêncio fala por nós, já que nunca sabemos o que se passa do outro lado do silêncio...

    Neto, MUITO bom seu conto,como já era de se esperar...

    Aqui é escritas boas garantidas! Sempre!

    B.E.I.J.O.S

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  34. Bacana. E a frase final, então... ótima.

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  35. todo disfarce é inútil, afinal ;-)

    beijos e obrigada pela visita, volte sempre que quiser.

    bacana seu blog

    beijos e boa semana

    MM.

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  36. E esse final... digno de uma excelente escrita! Pena que algumas vezes trata-se apenas de indelicadeza, de um jeito torto de dizer que sequer uma troca de olhares é bem-vinda. Alguns dizem que isso é sinal de sentimento mal resolvido, já eu acho que pode ser, ou não.

    Abraços, poeta!

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  37. A beleza do seu texto poético,fez chover em mim,sentimentos de admiração pelo seu modo sublime de escrever.
    Agradeço o comentário,e um abraço para todos os atingidos pela relação « de amor e ódio do pluvial com o fluvial»

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  38. Me senti dentro do teu texto. ;~
    Abraço.

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  39. O contrário do amor não é o ódio é a indiferença.Na minha concepção, existem duas maneiras de se ignorar uma pessoa: fingir que não viu,não falar.Ou abrançando-a, dando beijinhos e falando "tudo bem?" "como vai?", mesmo sabendo que a outra pessoa está muito magoada com você.

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