Nasci em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano (acho que já iniciei um poema ou alguma crônica assim), a cerca de uma hora da capital. Cedo me vi sem alternativas e encarei a BR-324 no lombo da autoviação Camurujipe em busca de alguns caraminguás, desde então passei a aparecer somente nos finais de semana ou feriados, ato repetido por muitos estudantes e trabalhadores que não encontram perspectivas em seu torrão. Mas fatalmente, na segunda-feira antes de embarcar de volta, a cidade tinha aquele gosto e cheiro de ressaca que, mais do que natural, acreditava muitas vezes ser literal. Nunca me importei com isso.
Com o passar do tempo, e a adaptação à nova realidade, essas visitas foram se tornando cada vez mais esporádicas. Para alívio de uns e angústia de outros. Santo Amaro, como muitas cidades do interior, possui suas idiossincrasias e lógica própria; um microcosmo onde poucos são convidados a interagir (e os que tentam confrontam-se com a maledicência e a presunção).
Recentemente me deparei com uma cidade silenciosa, com jeito de fim de festa. O gosto e o cheiro da ressaca ainda estavam lá, mesmo sendo quarta-feira. O calor batia no deserto de suas ruas e resvalava furiosamente no meu rosto, em muito lembrando a cidade fantasma de um antigo faroeste, faltando para completar o quadro apenas o monte de feno cruzando a avenida (cenário digno de Raul Seixas em “O DIA EM QUE A TERRA PAROU”). Tentei recordar como era a vida quando eu morava ali, porém não obtive sucesso. Por mais que eu escarafunchasse nas gavetas da memória só encontrei polaroids desbotadas. Melhor assim, não poderia, levianamente, me justificar na nostalgia.
Não sei se mudei ou se a cidade mudou, só sei que também me senti vazio.
Com o passar do tempo, e a adaptação à nova realidade, essas visitas foram se tornando cada vez mais esporádicas. Para alívio de uns e angústia de outros. Santo Amaro, como muitas cidades do interior, possui suas idiossincrasias e lógica própria; um microcosmo onde poucos são convidados a interagir (e os que tentam confrontam-se com a maledicência e a presunção).
Recentemente me deparei com uma cidade silenciosa, com jeito de fim de festa. O gosto e o cheiro da ressaca ainda estavam lá, mesmo sendo quarta-feira. O calor batia no deserto de suas ruas e resvalava furiosamente no meu rosto, em muito lembrando a cidade fantasma de um antigo faroeste, faltando para completar o quadro apenas o monte de feno cruzando a avenida (cenário digno de Raul Seixas em “O DIA EM QUE A TERRA PAROU”). Tentei recordar como era a vida quando eu morava ali, porém não obtive sucesso. Por mais que eu escarafunchasse nas gavetas da memória só encontrei polaroids desbotadas. Melhor assim, não poderia, levianamente, me justificar na nostalgia.
Não sei se mudei ou se a cidade mudou, só sei que também me senti vazio.
na vida tudo muda, principalmente nós mesmos ... nossa alma, nosso sentimento, nossa forma de olhar ... qdo isto muda ... a vida muda, pois somos nós com nossa forma de sentir e perceber que conferimos sentido a ela ...
ResponderExcluirbjux
;-)
Difícil é dizer se o vazio é de dentro pra fora, ou de for pra dentro.
ResponderExcluiràs vezes é necessário sentir o vazio pra perceber que certas coisas mudam/mudaram.
ResponderExcluirbeijas neto :*
"Santo Amaro insiste em fazer, e deixar, as suas marcas. Não há como fugir daquelas amarras, não há distância capaz..."
ResponderExcluirParodiando o Herculano...
Abraços,
mR
Caro amigo, apesar de não ser de lá,tive oportunidade de conviver e conhecer muita gente, assim quando passo por ali, sinto um pouco de tristeza também, é meio estranho, uma espécie de saudade não identificada,abraço.
ResponderExcluirDesde quando sai de sto amaro tenho uma sensação de não pertencer mais a nenhum lugar. Sto AMaro é a minha maior referência, mas quando retorno ali não é mais o mesmo lugar que insisto acreditar ser. Tenho a mesma dúvida que você: eu mudei ou foi a cidade que mudou?
ResponderExcluirPois é! Esse lugar é o seu berço, o qual você ainda carrega dentro de si pra onde for e se nele faltar algo, em você também faltará...
ResponderExcluirÓtimo texto!
Um beijo!
É triste mudar de cassa ou cidade.. as memórias se vão, as coisas mudam mesmo!
ResponderExcluir=*
Nossa,
ResponderExcluirvim aqui pra agradecer o carinho de ter postado no meu blog, e caramba, estou encantada com o seu, fiquei até com vergonha! Parabéns! rs abraços
Carrego também comigo uma cidade invisível que eu insisto em habitar. Abraço.
ResponderExcluirOpa,
ResponderExcluirGostei do seu blog e dos comentários sobre cinema - que tal, O Amor sem escalas?
rsrsrsr
beijos
ND
Olá, antes de mais nada, parabéns pelo blog!
ResponderExcluirE por acha-lo de muito bom gosto é que o/a convido a vir conhecer a proposta do meu Blog para você.
Aguado sua visita!
Forte abraço!
Karina
É assim com tudo.
ResponderExcluirA gente abandona sem querer abandonar, faz de tudo pra não se perder por completo e então.. perde o sentido. É você que muda, a cidade muda, as pessoas, tudo. E apesar de estranho, é bom.
Adorei o blog.
Também sou da bahia, pra começar haha
:)
Às vezes sinto isso por aqui também...
ResponderExcluirUm vazio, uma ressaca que forma uma grade e nos prende a um tempo que não é presente, passado ou futuro, mas é um tempo que de fato existe.
ResponderExcluirSaudações, meu caro. Já retornei às beiras da benemérita.
Ambos mudaram, vc e a cidade. E o tempo é um grande senhor, claro!
ResponderExcluirNão há como não se sentir assim. É um pedaço de você que está lá e só se completará quando voltar para o seu lugar de origem.
ResponderExcluirAbraços.
Obrigada pelo comentário.
Já estou seguindo você.
tudo muda só que as vezes demoramos pra ver isso!!! gostei desse lugar bem radical meu caro!!
ResponderExcluirHerculano,
ResponderExcluirSanto Amaro, que conheci tão recentemente pelas mãos e pelo coração de Roberto Mendes, já se tornou uma fotografia na parede da minha memória.
__ Mas como dói!
Abraço mineiro,
Pedro Ramúcio.
Dá disso mesmo.
ResponderExcluirQuando tudo é igual é você mudou suas proporções pra ser o que quis ser.
;D
nessa vida tudo muda, o qe ns resta é acostumar com as mudanças qe insitem em acontecer :/'
ResponderExcluircomo é padronizo o blog
ResponderExcluiruma narrativa familiar, sentimentos universais, letra com um bom fluir.
ResponderExcluirenvolveu-nos com a sua sensação,
ficou muito bom.
sua escrita é muito boa!
grande abraço.
Faz tempo que não visito Santo Amaro, mas achei seu texto muito bonito, sensível. Um abraço.
ResponderExcluirSentimento parecido quando vou a Brumado. Fico fora de mim por um bom tempo. Isso não podemos negar: essas cidades fantasmáticas ainda mexem com a gente!
ResponderExcluirolá,
ResponderExcluirconheço e gosto muito de sua cidade. costumo beber umas cervas por lá toda vez que viajo de carro com um amigo para cruz das almas, minha terra natal.
tem um barzinho na praça principal onde as mesas e cadeiras são presas no chão! me divirto toda vez que paro por lá...
abs
!Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos"
ResponderExcluirNao me lembro de quem.
Um abraço